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Crítica | Manos: As Mãos do Destino

por Luiz Santiago
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O meu primeiro contato com Manos: As Mãos do Destino se deu justamente pela piada de longo prazo feita em relação ao filme devido à hilária e muitíssimo famosa exibição da obra no finale da 4ª Temporada de Mystery Science Theater 3000 (MST3K), em 30 de janeiro de 1993. Durante os seus primeiros 22 anos de vida, este único longa de Harold P. Warren esteve envolvido em uma limitada aura cult, constantemente recebendo o título de “pior filme já feito” e rivalizando essa definição com outras produções B, trash ou exploitation que sempre povoaram as listas de críticos e cinéfilos ao redor do mundo.

A quantidade de anedotas em torno da obra é grande, e muitas delas acabaram sendo desmentidas pelo documentário Hotel Torgo (2004), o que não tira de cena a coleção de loucuras que envolveram a produção. Conta-se de Warren (um vendedor de fertilizantes) se propôs a filmar Manos depois de fechar uma aposta com o roteirista Stirling Silliphant, que afirmava que o colega não conseguiria fazer um filme de horror bem-sucedido com um orçamento altamente limitado. E foi com 19 mil dólares, zero de conhecimento de linguagem cinematográfica e atores contratados da companhia de teatro em El Paso, Texas, que Warren começou a sua empreitada.

Por melhor vontade que a gente tenha e por mais simpatia que dediquemos aos filmes B, amadores e de baixo orçamento, não dá para assistir a Manos: As Mãos do Destino sem revirar os olhos ou rir de maneira constrangedora diante das escolhas questionáveis da direção. O fato de o filme não ter verdadeiramente uma edição (embora haja créditos de editores para duas pessoas) acaba sendo a fonte da maioria dos problemas. Nas mãos de editores um tantinho mais competentes, cenas mortas e transições absurdas não entrariam par ao corte final, melhorando pelo menos a qualidade de algumas cenas e fazendo com que a história fosse um tantinho mais apreciada pelo que propõe.

Desde a sequência de abertura, onde uma família está a caminho de um hotel onde passará férias, nos deparamos com uma longa e inútil viagem de carro, logo acoplada a momentos que pouco servem para destacar o horror pretendido pelo roteiro. São nove minutos de uma preparação lenta (e em tudo mal feita) até que os viajantes chegam à macabra habitação de Manos. Nessa circunstância é que conhecemos Torgo (o lacaio com pernas de bode, sendo a intenção do diretor representar um sátiro), e desse ponto em diante o filme passa a nos dar alguma coisa para pensar, com uma história se desenvolvendo a partir da estranheza daquele espaço e a possibilidade de “coisas ruins” acontecerem com a família recém-chegada. Como diz Torgo: “não há saída!“.

Os já citados problemas de edição, no entanto, desperdiçam as inúmeras possibilidades interessantes que o filme tem em seu cerne. O que me faz pensar, no entanto, é a própria qualidade do material que os editores tinham para trabalhar, uma vez que o roteiro e a direção (de cena e de atores) são igualmente ruins. Automaticamente gostamos da ambientação medonha e aguardamos a chegada de Manos, pois a forma como ele é indiretamente apresentado indica um Ser verdadeiramente maligno. A reviravolta nessa percepção surge na segunda metade da fita, quando Manos aparece — aparentemente com poderes reduzidos — ao lado de suas esposas. É um núcleo com indicações sexuais, ritualísticas e de sacrifício que não se faz entender porque absolutamente nada é bem desenvolvido. O pouco que a gente aproveita vem da sugestão ou da atmosfera que, quase milagrosamente, Warren consegue criar em raros pontos.

Para mim, o melhor momento do filme é a derradeira cena, quando vemos a troca de Torgo por Michael, indicando a conversão do pai de família em um lacaio de Manos. É o evento mais cinematograficamente elogiável do filme, pela coerência do que consegue passar; e também o evento mais doentio do filme, já que dentre as mulheres do vilão, encontramos agora uma criança, ao lado de sua mãe. Hoje, Manos: As Mãos do Destino é uma daquelas produções cult que todos amam odiar, e não sem motivos. O longa tem uma proposta e um encerramento interessantes, mas a maneira como o seu inexperiente diretor orquestra tudo na tela põe a perder as boas possibilidades que tinha em mãos. Pelo menos serve para nos fazer rir um pouco e também revirar os olhos a cada erro de continuidade, a cada canastrice do elenco e a cada coisa sem sentido dramático que vemos na tela… ou seja, quase o filme inteiro.

Manos: As Mãos do Destino (Manos: The Hands of Fate) — EUA, 1966
Direção: Harold P. Warren
Roteiro: Harold P. Warren
Elenco: Tom Neyman, John Reynolds, Diane Adelson, Harold P. Warren, Stephanie Nielson, Sherry Proctor, Robin Redd, Jackey Neyman Jones, Bernie Rosenblum, Joyce Molleur, William Bryan Jennings
Duração: 70 min.

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