Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Martin Mystère – Vols. 2 e 3: A Vingança de Rá

Crítica | Martin Mystère – Vols. 2 e 3: A Vingança de Rá

por Luiz Santiago
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Muito do que não tivemos em termos de “passado do personagem” no volume de estreia dessa série, Os Homens de Negro, foi apresentado por Alfredo Castelli aqui em A Vingança de Rá, inclusive expondo o “chefão por trás do grande plano” naquela ocasião: o ex-amigo e agora grande inimigo de Martin Mystère, o super-estereotipado Sergej Orloff. Pela forma como o autor trabalha o protagonista e escreve sobre os outros personagens na trama, o típico vilão “estudioso maluco” destoa do todo e torna a narrativa menos interessante no final, seja por esse tratamento individual mais pobre, seja pelo encaminhamento dado ao problema da edição.

A intriga, porém, é daquelas que justificam o título de “Detetive do Impossível” dado a Martin Mystère. Ele entra no caso para investigar o paradeiro de um pesquisador que afirma ter encontrado, em Belize, indícios da presença dos antigos egípcios nessa parte da América muitos séculos antes da chegada dos europeus. Vemos o personagem citar as ruínas da antiga cidade maia de Altún Ha e o sítio arqueológico maia de Xunantunich como parte dessa longa tradição de ideias não aceitas pela História, Antropologia e Arqueologia a respeito do contato entre antigos egípcios e povo maia.

Enquanto lia essa edição, fiquei imaginando o quanto Martin Mystère é um título interessante para tempos como os nossos, onde a negação da ciência, as fake news e as teorias da conspiração povoam o mundo como se fossem “a grande verdade oculta” por professores e pelas Universidades; a grande verdade oculta que apenas os iluminados que tiveram os olhos abertos podem ver. Nesse título da Bonelli, o personagem está em um Universo muito similar ao nosso, mas não cria uma seita em torno de si e não clama nenhum posto messiânico ou de poder. Seu conhecimento é compartilhado até certo ponto (ele não diz tudo o que sabe) e entende claramente como as suas ideias são recebidas. Martin Mystère não despreza o conhecimento da humanidade, não nega as muitas ciências e nem os centros de estudos ao redor do mundo. Acontece que nesse recorte de fantasia e aventura que suas histórias se enquadram, ele sabe que todo o conhecimento academicamente aprovado é assustadoramente incompleto.

Durante a leitura também fiz uma relação com uma história que li alguns dias antes: Um Mundo Perdido, quarto livro da série Mister No Especial, onde o protagonista integra um grupo de pesquisadores que querem encontrar a cidade perdida de Zeta (ou Z) em algum lugar no interior do Estado do Mato Grosso. Aqui em A Vingança de Rá temos uma linha de eventos similar, mas com uma aura épica e mais ligada a “grandes estudos”. Como descobrimos algumas coisas a respeito da vida do Detetive do Impossível, olhamos para o vilão e para esse enfrentamento de uma outra forma, com um significado maior e que abre possibilidades para encontros futuros entre mocinho e bandido, como já era de se esperar.

Para mim, a primeira parte desse volume funciona muito melhor que a segunda. A partir do momento em que Orloff se mostra por completo o roteiro ganha um caráter didático, e essa exposição, apesar de ter a sua função no livro, mata parcialmente a fluída aventura que tínhamos até o momento. Há uma reviravolta no final que adiciona um balde de ceticismo aos elementos apresentados pelo texto, servindo basicamente como um chacoalhão do autor para que não tomemos as citações ao lendário povo de Naacal (do continente perdido de Mu, supostamente localizado no Oceano Pacífico, entre a costa oeste da América e a Ásia) ou a busca do explorador Walter Raleigh pela lendária cidade de Manoa (região oeste da Venezuela) como verdades arqueológicas escondidas. Mas elas certamente servem de incremento para o tipo de aventura que o protagonista mergulha aqui, resultando em uma descoberta que não deveria ser vista ou divulgada para mais ninguém.

Os Grandes Enigmas de Martin Mystère, o Detetive do Impossível #2
La vendetta di Râ (Itália, maio de 1982)
Editora Original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Globo, março de 1987 / Record, outubro de 1990
Roteiro: Alfredo Castelli
Arte: Giancarlo Alessandrini
Capa: Giancarlo Alessandrini
135 páginas

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