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Crítica | Martin Mystère – Vols.6 e 7: Crime na Pré-História e A Corte dos Milagres

Hipótese Neandertal.

por Luiz Santiago
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Arqueólogos, historiadores e pesquisadores de diversas áreas afins discutem até hoje a respeito das causas do desaparecimento do Homem de Neandertal. Passa ano, entra ano, novos indícios aparecem e simulações feitas por computadores criam e investigam material encontrado em sítios arqueológicos, chegando a conclusões que já estão na conhecida lista de hipóteses para as quais temos um bom número de ingredientes confirmatórios. Na lista estão o apontamento para diversas doenças que assolaram a Europa durante o período de convivência dos Neandertais com os Sapiens, tendo estes últimos uma melhor imunidade para enfrentá-las. Depois, temos o apontamento sobre o desenvolvimento de cada um desses grupos, ou seja, os Sapiens tinham melhores armas para caçar e melhores métodos de sobrevivência às adversidades e também ao ataque de inimigos. Por fim, um apontamento que nos últimos anos tem sido constantemente relativizado, escanteado ou até mesmo retirado de cena, que é o enfrentamento entre Neandertais e Sapiens. Tanto a estratégia do grupo mais desenvolvido quanto suas armas permitiram que vencessem esses enfrentamentos, de modo que as tribos Neandertais sobreviventes se isolaram e acabaram cedendo a diversos problemas para os quais não estavam preparados, sendo progressivamente cortados pela seleção natural.

Neste arco formado por Crime na Pré-História e Corte dos Milagres, Alfredo Castelli explora essa questão da extinção dos Neandertais a partir de uma descoberta arqueológica feita numa caverna de Saint Cesaire, na região de Charente, França. Como era de se esperar, o professor Martin Mystère é convidado, juntamente com Java, para assistir à apresentação dessa descoberta ao mundo, e é então que se revela o gatilho-problema que dará andamento a essa história. Ao ver uma determinada arma, Java é completamente tomado por uma inexplicável fúria e passa agir de maneira estranha. Horas depois, o professor Maubert é assassinado (não sai da minha cabeça a leve indicação que o autor e os artistas Gaspare e Gaetano Cassaro — que fazem um excelente trabalho nesta sua primeira contribuição para a série! — criam com Os Assassinatos na Rua Morgue, só que sem a parte da carnificina) e Java passa a ser o principal suspeito.

Eu gosto muito da primeira parte da história, que toma todo o volume 6. Não só as sequências de ação, mas as relações históricas, arquitetônicas e até literárias feitas no decorrer das páginas; coisas que vão desde O Corcunda de Notre Dame até a representação do Comissário Charlier com feições de Gino Cervi, muito conhecido por interpretar o Comissário Maigret na TV. Neste volume, todos os melhores ingredientes de um bom suspense são estabelecidos e mesmo que Martin demore muito para começar a procurar ele mesmo as respostas para o enigma, a coisa é bem guiada pelo roteiro. O problema vem realmente no volume 7. O autor cria muita expectativa em torno das “visões” e dos comportamentos estranhos de Java, mas não dá uma resposta minimamente aceitável para aquilo. Um “eco do passado” até poderia ser aceitável se não viesse com a confusa, inconclusiva (no sentido negativo) e deslocada relação feita com o traidor Labrume, numa história paralela envolvendo a luta dos partisans contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Na segunda parte também temos uma presença maior da “Corte dos Milagres” e é aí que a história se perde um pouco mais. Na verdade, vendo isoladamente, esse bloco funciona e tem o seu valor. Mas inserido em um enredo maior parece apenas um encaixe que se “justifica” pelo fato de ter Java “entre pessoas rejeitadas, assim como ele“. Contudo, essa visão pura e simples não torna a tal “Corte” algo bom para a trama.

Castelli consegue fechar o ciclo narrativo de maneira mais ou menos aceitável, apesar de confusa. A armadilha que o autor criou para o próprio roteiro foi procurar fazer uma brincadeira com a questão da descendência entre as espécies e as visões de um passado distante, capazes de gerar certos instintos. Mas ele parece ter desistido de investir nisso e optado por falar de problemas contemporâneos. As duas premissas são muito boas e, sozinhas, dariam boas discussões. Juntas, porém, elas se atropelam e se atrapalham. Pelo menos não a ponto de tornar o arco ruim. Mas quase derruba a história para a linha da mediocridade.

Martin Mystère – Vols.6 e 7: Crime na Pré-História e Corte dos Milagres (Delitto Nella Preistoria) — Itália, setembro e outubro de 1982
No Brasil:
Os Grandes Enigmas de Martin Mystère – Detetive do Impossível – Vols. 6 e 7 (Editora Globo, 1987)
Roteiro: Alfredo Castelli
Arte: Gaspare Cassaro, Gaetano Cassaro
Capa: Giancarlo Alessandrini
178 páginas

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