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Crítica | Mary Poppins

por Ritter Fan
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estrelas 5,0

Supercalifragilisticexpialidocious.

Você sabe escrever essa “palavra” sem colar da Wikipedia?

Pois eu sei.

E fiz aí em cima. Não tenho como provar, claro, mas acredite em mim e tenho certeza que muitos dos leitores dessa crítica também saberão escrever. Isso é para dizer que Mary Poppins é um musical clássico do começo ao fim, com fortíssimas pitadas de modernidade, dentre elas a fusão de sequências live-action com animação e, claro, do foco na mulher não como objeto ou colírio para os olhos, algo pouco comum lá pelos idos de 1964.  E é interessante notar como a eternamente bela Julie Andrews faria esse tipo de papel de mulher forte, centro das atenções duas vezes seguidas, com o lançamento, logo em 1965, de outro fantástico musical com uma temática parecida: A Noviça Rebelde.

Mas Mary Poppins também é relevante pela notória dificuldade que foi sua transposição do papel para o celuloide. Como romanceado no pornograficamente intitulado Walt nos Bastidores de Mary Poppins, Disney, obcecado em adaptar o romance de P.L. Travers, demorou anos para conseguir convencê-la a ceder-lhe os direitos. Sua primeira tentativa foi em 1938, tornando Mary Poppins uma verdadeira odisseia de quase 30 anos para chegar às telonas, somente para a autora odiar o resultado e nunca mais autorizar nada baseado em seu trabalho.

No entanto, que me perdoe P.L. Travers, mas a Mary Poppins que o mundo conhece, por melhor que seja sua série de livros, é a Mary Poppins vivida por Julie Andrews, pois o resultado é uma daquelas fitas que deixa qualquer um – seja criança ou adulto – com um enorme sorriso no rosto do começo ao fim, cantarolando as inesquecíveis canções que pontilham o filme, como a que comecei a crítica, passando pela oscarizada Chim Chim Cher-ee, mas sem se esquecer de Fidelity Fiduciary Bank, A Man Has Dreams, Let’s Go Fly a Kite e outras ainda, todas escritas pela excelente dupla de irmãos Richard e Robert Sherman.

A narrativa é misteriosamente simples: na Londres eduardiana de 1910, somos apresentados a duas crianças que, mais uma vez, ficam sem babá. Jane (Karen Dotrice) e Michael Banks (Matthew Garber) querem uma babá mais gentil e doce, mas seu pai, George (David Tomlinson), sempre envolvido com trabalho, trabalho, trabalho, quer rigidez e autoridade. Entre um desejo e outro, vem uma rajada de vento e uma babá, com guarda-chuva aberto, vem flutuando até as duas crianças imediatamente impondo-se como a babá que os dois “lados” querem. E tudo isso é observado – e narrado – pelo mais do que simpático músico faz-tudo Bert (Dick Van Dyke), que parece ser um amigo de longa data da mágica Poppins.

As correlações com A Noviça Rebelde, do ano seguinte, são completamente inevitáveis: pai rígido e ausente, crianças rebeldes que precisam de uma figura protetora, um simpático cantor/organizador de eventos e música, muita música. E, assim como no filme que faria no ano seguinte, Julie Andrews vive uma espécie de fada – em Mary Poppins quase que literalmente que está lá para unir uma família. Seja limpando chaminés, dançando com pinguins ou andando em carrosséis, o musical consegue prender a atenção do espectador e engajá-lo na ação e na rala – mas sempre relevante – moral da história: os valores familiares devem ser protegidos e embalados com carinho.

Julie Andrews arrebata corações com sua firme ternura no papel de Poppins, papel que ela parece ter nascido para fazer. Sua beleza clássica aliada à sua voz gentil e a seu talento musical fazem dela a Mary Poppins definitiva, com figurinos espetaculares que respeitam a época em que o filme se passa, mas sempre indo além e traduzindo com perfeição a personalidade da personagem. Van Dyke, por sua vez, é o companheiro ideal para a misteriosa Mary Poppins, pois ele trabalha seu ar inocente, mas maroto por todo o momento, aumento a evidente cumplicidade que existe entre Bert e Poppins, como se os dois – e isso fica subentendido na obra – já tivessem vivido aquela mesma situações diversas outras vezes. E seu talento musical aliado aos seus passos delicados emprestam a leveza e sinceridade que o personagem precisa.

É claro que não poderia deixar de falar dos efeitos especiais. Sabem aquele filme atemporal, que funciona eficientemente a cada década que passa? Não? É porque isso é realmente raro. Mas Mary Poppins é uma dessas obras. Seus efeitos – talvez simples aos nossos olhos mais cínicos e saturados de CGI de hoje – são deslumbrantes. Desde o voo de Mary Poppins até a fusão de animação com sequências com atores, tudo funciona muito bem, sem grandes falhas considerando-se, claro, a idade do filme. Se em 1978 queriam que nós acreditássemos que o homem podia voar em Superman é que talvez eles tenham esquecido que uma mulher já havia nos convencido disso, sem muito esforço, 14 anos antes!

Mary Poppins é um daqueles clássicos de se tirar o chapéu (ou seria o guarda-chuva?). Um grande triunfo da perseverança de Walt Disney que não deve ser perdido por ninguém. E aí, já aprendeu a escrever Supercalifragilisticexpialidocious?

p.s. Esse pode parecer um comentário cifrado – e, de certa forma, é – mas se você gosta de quadrinhos, leia A Liga Extraordinária: Século para uma visão inovadora de Mary Poppins que impedirá que você veja a doce Julie Andrews da mesma forma novamente…

Mary Poppins (Idem, EUA – 1964)
Direção: Robert Stevenson
Roteiro: Bill Walsh, Don DaGradi (baseado em romance de P.L. Travers)
Elenco: Julie Andrews, Dick Van Dyke, David Tomlinson, Glynis Johns, Hermione Baddeley, Reta Shaw, Karen Dotrice, Matthew Garber, Elsa Lanchester, Arthur Treacher, Reginald Owen, Ed Wynn, Jane Darwell, Arthur Malet
Duração: 139 min.

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