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Crítica | Máscara da Ilusão

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Quem um dia pensou que o cinema regido pelas regras dos efeitos especiais não produziria algo apuradamente artístico – no sentido plástico e da constituição da atmosfera do filme, resultando em uma obra puramente abstrata e onírica – ou que impressionasse pela surreal estética e força simbólica das imagens, há muito teve suas crenças frustradas.

A Era Digital, em crescimento desde o início dos anos 1990, caminhou entre boas sutilezas e doentios exageros, mas em todos os seus legítimos exemplares, temos como mote a quebra total com a realidade possível, plasmada em exuberante visual – da fotografia aos efeitos especiais amarrados à trama –, cujo maior representante da década é Matrix (1999). Na Era Digital, as adaptações dos quadrinhos ou da literatura antes impossíveis (O Curioso Caso de Benjamin Button, por exemplo), e uso de técnicas narrativas puramente artísticas, ganharam vida e tornaram-se cada vez mais ousadas.

Máscara da Ilusão (2005) é produto dessa Era Digital e obra vinda da mente do desenhista, cineasta e músico Dave McKean e do romancista e roteirista Neil Gaiman. Dentro do espetáculo imagético, por razões óbvias, o filme consegue garantir um grande show.

Sem dividir paralelamente o roteiro em dois mundos que se opõem, Neil Gaiman adotou uma história contada desde o início de modo quase psicodélico: quando não está no circo ou nas rápidas passagens pelo “mundo normal”, está em Dark Lands, terra ameaçada pelo avanço das Sombras depois que a Rainha da Luz caiu em um sono profundo que só pode ser interrompido com a ‘Máscara da Ilusão’, objeto mágico que devolveria tudo ao seu lugar.

Desde a abertura do filme, com a criatividade e a apresentação paralela dos créditos animados a esquetes do mundo circense, podemos perceber o grau de abstracionismo a que o filme está exposto. No decorrer do tempo, o próprio objeto de composição da história se torna quase a própria arte e a inegável beleza das imagens e dos efeitos especiais parecem nos hipnotizar.

A fotografia funciona quase como uma verdadeira ilusão porque satura em uma pequena explosão de cores cada espaço cênico, embora a paleta não sofra gritantes alterações cromáticas de cena para cena, sendo apenas os espaços muito particulares dotados de cor contrastante com a do mundo exterior. O trabalho realizado pelo fotógrafo Tony Shearn, em Máscara da Ilusão não nega o caráter fantástico e nem se furta em preencher a tela com o máximo de cores que pode, desde que isso esteja em todos os quatro cantos da tela, dando ao espectador a impressão de estar mergulhado em um mar de sonhos.

Neil Gaiman, por sua vez, não consegue escrever uma história completa e bem estruturada, fator predominante para a queda de qualidade do filme. A despeito do relativo bom uso fotográfico e da estupenda direção de arte, o filme falha porque o roteiro se prende a uma tendência quase lendária e, infelizmente, segue uma cartilha típica dos contos dessa espécie, cheios de moral final e situações-chave muito parecidas. A mesma linha segue a trilha sonora, sem muitos rompantes dignos de louvor. A direção de McKean consegue trazer o mínimo do elenco e, mais uma vez, as máscaras usadas em todo o entorno falam mais alto que a própria representação.

Minha classificação de “filme bom”, com as três estrelas cotadas, pode parecer contraditória às minhas manifestações negativas durante o texto. Devo dizer, no entanto, que a película tem o seu grandioso mérito artístico, um fascinante visual e marcantes efeitos, ao lado de inspiradas sequências de fantasia. Mesmo que o roteiro não seja assim tão deslumbrante e maravilhoso, a arte interna, pela junção dos fatores e valores plásticos arrebatadores, fazem valer a sessão. No que concerne ao produto final, temos diante dos olhos um filme um tanto vazio. No que concerne a sua composição, temos um desfile de beleza e imaginação.

Máscara da Ilusão (Mirror Mask, UK, 2005)
Direção: Dave McKean
Roteiro: Neil Gaiman
Elenco: Jason Barry, Rob Brydon, Stephanie Leonidas, Gina McKee
Duração: 101 min.

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