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Crítica | Max, Meu Amor

por César Barzine
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O cinema francês, que já presenteou o mundo com variadas obras que meditaram sobre as singularidades do comportamento humano e das relações amorosas, agora acolhe o cineasta japonês Nagisa Oshima para criar um filme que une esses dois conceitos. Oshima fez carreira no Japão em cima de trabalhos com erotismo desenfreado, sendo conhecido pela inserção de conteúdo político e psicológico numa filmografia que dialogava com os filmes rosas (trabalhos japoneses com apelo sexual) dos anos 1970. Se a sua principal obra, O Império dos Sentidos, possuía muito sexo e pouco desenvolvimento, em Max, Meu Amor ele também aposta em apenas uma ideia central (o namoro com o macaco) e abandona qualquer alternativa de desenvolvimento. Tanto o primeiro filme quanto o segundo são superficiais na medida que se concentram somente em certos tipos de choque (sexo excessivo e zoofilia) para se sustentaram.

Porém, engana-se quem pensa que Max, Meu Amor possui a mesma carga de subversão que O Império dos Sentidos. Apesar de tratar de um tema polêmico e ter essa sacada excêntrica, o filme nunca fica intenso quanto ao desvio de normalidade que é apresentado. A história do diplomata inglês Peter que descobre a traição de sua esposa, Margaret, com um chimpanzé chamado Max está mais para fofa do que para algo pesado e repulsivo – até porque o macaco é uma gracinha. No máximo, temos um texto bizarrinho que não perturba e nem ofende ninguém (ou quase ninguém). O momento mais próximo de uma exposição sexual com o chimpanzé não é nem com a sua “namorada”, mas com uma prostituta com a qual acabou não concretizando o ato sexual – e seria algo completamente fora do tom se isso acontecesse.

Não acho que um namoro entre uma mulher de meia-idade e um chimpanzé possa carregar, da forma que é executada aqui, alguma espécie de questionamento existencial, político ou moral no subtexto do filme. A verdade é que fico na dúvida se o longa esteja realmente sugerindo um possível estudo da burguesia ou se ele é apenas uma comédia que parte de um ponto inusitado. No entanto, independente de qual caminho a história queira traçar, Max, Meu Amor não sai do mediano. Certamente, isso se deve ao próprio fato de haver essa dualidade entre os dois lados, fazendo com que o filme acabe esvaziando a oportunidade de ser mais expressivo.

Na arte, o sexo e o desejo podem ser uma extensa forma de explorar o vazio do ser humano. Quando o sexo parte de uma classe abastada, esse contraste se eleva, fazendo com que a satisfação carnal busque preencher as lacunas que o dinheiro não garante. Mas aqui, nem mesmo a presença de Jean-Claude Carrière no roteiro (que é escrito junto com Oshima) é capaz de exercitar o senso crítico diante da obra. Não há a ambientalização de nenhum tipo de problema íntimo dos protagonistas ao não ser o fato deles conviverem com um macaco. Tendo Carrière na escrita – o sujeito que desmoralizou as normas burguesas no cinema de Buñuel – e Oshima na direção, Max, Meu Amor fica parecendo uma atração do Discovery Kids, tornando espantoso o quão conservadora é a obra.

Superado isso, o filme acaba sendo concebido como uma simples e razoavelmente agradável sessão de matinê – poderia servir até para ser um clássico da Sessão da Tarde. Com exceção de Max, todos os personagens são mornos, sem o carisma necessário para acompanhar a estranheza com que estão rodeados. A direção de arte também não ajuda, tendo a maior parte dos cenários dominados por um branco apático e descuidado. O que sustenta o filme são algumas das situações provocadas pelo macaco e as reações do casal (humano) por elas. Assim, o longa conquista o seu espaço na comédia, recheando ela de neuroses, desarranjos entre os personagens e, até mesmo, alguns momentos singelos (como o de Max em cima do carro). O afeto de Margaret e o confronto de Peter perante o animal movimentam a maior parte da trama e, em alguns casos, tiram o filme de sua insipidez.

Como não há qualquer forma de impacto em Max, Meu Amor (e nem, ao menos, a determinada tentativa de causar impacto), o público acaba tendo que se contentar com o tom sereno que Oshima produz, fazendo do subversivo algo ordinário. O roteiro transmite a impressão de estar incompleto, como se tivesse passado por um processo de higienização, ou ter sido largado no piloto automático. A direção consegue ser ainda mais careta, e diante do pouco material fértil que restou, Oshima opta por uma via discreta. O diretor poderia ter abordado a simplicidade do roteiro através de uma veia absurdista, mas apenas preserva essa simplicidade já enraizada na história sem confrontá-la. No final das contas, a zoofilia, aqui, não é uma anormalidade; ela é simplesmente a coisa mais natural do mundo. Do mesmo modo, o filme também soa como algo genérico. Resta apenas aproveitarmos alguns momentos divertidos e simpáticos que ele oferece.

Max, Meu Amor (Max Mon Amour) – Estados Unidos, Japão, França, 1986
Direção: Nagisa Oshima
Roteiro: Jean-Claude Carrière, Nagisa Oshima
Elenco: Charlotte Rampling, Anthony Higgins, Victoria Abril, Anne-Marie Besse, Nicole Calfan, Pierre Étaix, Bernard Haller, Sabine Haudepin, Milena Vukotic
Duração: 97 minutos.

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