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Crítica | Mayans M.C. – 3X01 e 02: Pap Struggles with the Death Angel / The Orneriness of Kings

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Mesmo com a renovação de Mayans M.C. para uma 3ª temporada ao final de 2019, fiquei apreensivo ao longo desse quase um ano e meio para que ela finalmente começasse. Como não ficar considerando que a pandemia acelerou o fim de diversas séries, que a FX agora era da Disney e Mayans não é exatamente material no estilo da Casa do Camundongo e que Kurt Sutter foi demitido? Era coisa demais conspirando contra uma série razoavelmente pouco conhecida – mesmo sendo spin-off de Sons of Anarchy – e extremamente violenta sobreviver, mas, pelo visto, temos mesmo mais um ano garantido agora sob controle solo de Elgin James.

E, para deixar claro que a série trouxe mudanças, a abertura foi completamente modificada, infelizmente tirando a música tema, mas deixando mais evidente o que parece ser o pano de fundo da história a ser contada, ou seja, as tensões migratórias entre EUA e México. E Mayans M.C. não começou discreta, pois nada menos do que dois episódios foram ao ar em seu dia de estreia, episódios esses que serão comentados separadamente abaixo.

Pap Struggles with the Death Angel
3X01

Parece que a era dos títulos de uma ou duas palavras em espanhol e nomes de entidades da mitologia maia se foi de vez, entrando, agora, a era dos títulos longos demais. Mas faz parte. Se é para que a fase de Elgin James no comando solo da série comece de verdade, ele já tem que deixar sua marca na porta, sem cerimônia e é o que ele faz em Pap Struggles with the Death Angel, episódio que, como é normal em começos de temporadas desde tempos imemoriais, serve para nos apresentar a um novo status quo que decorre dos eventos destruidores de Hunahpu, com uma passagem temporal não completamente definida, mas razoavelmente significativa.

Acontece que, muito sinceramente, eu não esperava o que vi. Fiquei espantado pela devastação física e moral tanto de Santo Padre quanto dos personagens, talvez com exceção de EZ e sua namorada. O grande catalisador de tudo é o fechamento agressivo da fronteira entre os dois países em razão do que ocorreu na temporada anterior, o que transforma a cidade do lado americano uma verdadeira zona de guerra, com Hummers e soldados na rua e pontos de vistoria nas estradas, o que seca a fonte das drogas dos Mayans e do Cartel Galindo, afetando todos aqueles que dependem dessa estrutura criminosa.

Só que não é só a economia baseada nas drogas que é afetada, com Bishop fazendo de tudo – inclusive violentamente negando negociações com outros grupos -, mas sim absolutamente tudo ao redor. Miguel Galindo, agora sem barba (com o ator um tanto quanto magro demais, o que é preocupante), tem um caso com a nova prefeita que, para todos os efeitos públicos, é sua rival, afastando-se de Emily, sua amada esposa que, por sua vez, luta para manter a calma e cuidar do filho. Além disso, Miguel parte em uma sana vingativa para chacinar qualquer pessoa que de alguma forma possa ser responsabilizada pela morte de sua mãe, o que certamente é um grande sinal de alerta para os Reyes e provavelmente todos os Mayans. Só esse núcleo, que podemos chamar de vilanesco – o que é tecnicamente errado, já que todo mundo é vilão nessa série – já mostra o quanto a série evoluiu e o quanto ela é diferente de SOA na forma como desenvolve os dois lados dos personagens, trabalhando essencialmente os Reyes e os Galindos, mas, agora, finalmente, dando mais atenção a Bishop e os demais Mayans.

Falando neles, Coco é outro que só foi ladeira abaixo depois de ficar quase cego na 2ª temporada. Provavelmente se viciando nos medicamentos que tomou, ele, agora, está em um poço sem fundo em busca de drogas que muito claramente o impede de funcionar direito ou de continuar a tentar ser um bom pai para a filha que praticamente acabou de conhecer como tal. A espiral sombria da série continua também com o desejo de vingança de Taza contra Palo que, por seu turno, planeja sua própria vingança e com a revelação de que Felipe entrou em depressão depois do assassinato de Dita por EZ. Em outras palavras, com Pap Struggles with the Death Angel, a temporada já começa quase que no ponto de ebulição, mesmo dedicando tempo para apresentar um novo e decadente status quo.

The Orneriness of Kings
3X02

The Orneriness of Kings (chique o título, não?) coloca EZ em destaque diante do conselho dos Mayans quando ele bola um plano para criar equilíbrio à negativa de ajuda aos demais grupos de outras cidades por Bishop e para colocar seu líder como o efetivo rei de toda a região, com um gargalo de drogas vindas do México rigidamente controlado por ele. Parece-me – mas posso estar errado – que esse plano altamente complexo tomará grande parte da narrativa da temporada, especialmente porque não deve demorar muito para Linc Potter perceber o que está acontecendo.

Mas, apesar da violência prometida pelo plano e a executada por Galindo de maneira enlouquecida como parte de sua vingança sem rumo pela morte de sua mãe, o episódio teve seu lado positivo e até bonitinho, por assim dizer, com Gaby não aceitando não de seu namorando, basicamente invadindo a casa de Felipe e o ajudando a sair da cama e dar a volta por cima. A simpatia de Sulem Calderon é contagiante, praticamente o único ponto de luz em uma temporada que já começou para lá de sombrio mesmo à luz inclemente do sol no deserto do sul da Califórnia. Claro que isso não tem chance de acabar bem para EZ e a jovem, o que já deixa o espectador tenso mesmo que nenhuma ameaça seja ainda claramente visível.

Por sua vez, Adelita, que havia sido reapresentada no episódio anterior como uma prisioneira dos americanos torturada todos os dias tanto física quanto mentalmente – esta última forma de tortura sendo o choro de seu filho recém-nascido, uma crueldade sem fim – também ganha um momento para respirar ao seu libertada por seus colegas dos Los Olvidados que, por sua vez, também entraram em decadência com o fechamento da fronteira e o fim da ajuda pelo Cartel Galindo em mais uma contextualização sombria e muito interessante. O desespero da ex-líder da revolução explode de tristeza ao saber que Mini fora embora, com ela mesmo desaparecendo em seguida provavelmente para procurar a menina, o que certamente a colocará em perigo e fará Angel – também completamente perdido em suas orgias – ir a seu resgate.

Tudo o que há de iluminado em The Orneriness of Kings tem a função nefasta de ser como a última maça vistosa em uma verdadeira podridão logo abaixo que é capaz de tragar tudo e todos como traga Coco para atos desesperados que são respondidos com violência extrema. Parece não haver saída para ninguém em Mayans, sensação que Elgin e Sutter sempre cultivaram, mas que Elgin, sozinho, parece não ter nenhum pudor em amplificar ainda mais.

Mayans M.C. – 3X01 e 02: Pap Struggles with the Death Angel / The Orneriness of Kings (EUA – 16 de março de 2021)
Showrunner: Elgin James
Direção: Michael Dinner
Roteiro: Elgin James (3X01), Sean Tretta (3X02)
Elenco: J.D. Pardo, Sarah Bolger, Clayton Cardenas, Michael Irby, Carla Baratta, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Emily Tosta, Sulem Calderon
Duração: 53 min. (3X01) e 50 min. (3X02)

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