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Crítica | Mayans M.C. – 4X01 e 02: Cleansing of the Temple / Hymn Among Ruins

A guerra e suas consequências.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Como aconteceu na temporada anterior, o quarto ano de Mayans M.C., segundo sob o comando exclusivo de Elgin James, começou com dois episódios transmitidos no mesmo dia. Abaixo, o leitor encontrará as críticas de cada um deles separadamente, com a do episódio 4X01 tendo sido escrita sem que o 4X02 tivesse sido conferido. Vamos lá?

4X01
Cleansing of the Temple

Quando escrevi a crítica de Chapter the Last, Nothing More to Write, cheguei a cogitar que o explosivo episódio poderia muito bem ser o último da série. Não que eu quisesse que ela acabasse, mas o fechamento bombástico daquele jeito, com EZ finalmente abraçando quem ele verdadeiramente é, com os Mayans de Santo Padre prestes a enfrentar um exército de seus irmãos de Yuma seria uma escolha corajosa e muito interessante. Mas Elgin James, pelo visto, tinha um plano maior e a guerra civil entre os Mayans precisava ser abordada até o fim.

E o showrunner tinha três escolhas em Cleansing of the Temple. A que reputo mais fácil seria iniciar o episódio com uma elipse de forma a “pular” a guerra e começar lidando com suas consequências, talvez com um flashback aqui e ali para composição e contextualização. A segunda em dificuldade seria fazer o “meio a meio” e trabalhar tanto a guerra quanto suas consequências diretas. A terceira, que achava improvável pela dificuldade em todos os quesitos, acabou sendo a escolhida por James, ou seja, mostrar detalhes da noite incessante de batalhas do pessoal de Santo Padre contra o pessoal de Yuma e de outras localidades. Foi, portanto, uma grata surpresa, com uma direção caótica, mas por isso mesmo excelente do próprio showrunner.

Corajosamente lidando com todo o embate à noite, exigindo um trabalho cuidadoso de fotografia noturna que parece ganhar iluminação somente por fontes “naturais”, como os coquetéis molotov arremessados por EZ, as luzes de dentro do QG dos Mayans enquanto elas funcionam e, depois, os holofotes de emergência que eles conseguem ligar a duras penas, a ação é muito bem conduzida. Há poucos diálogos, só o suficiente para estabelecer a confiança inicial de Bishop e seu desmoronamento já próximo do fim, com o líder, enfraquecido, quase entregando os pontos ao não ver mais alternativas, mas toda a progressão narrativa consegue eficientemente comprimir horas em minutos, com todos os personagens – alguns mortos, outros feridos – preparados ao final para a inevitável derrota.

A mudança de atmosfera é palpável. No começo, temos EZ seguro de si, de peito aberto, querendo enfrentar sozinho a turba furiosa, com Bishop refletindo essas mesmas atitudes, liderando o grupo na defesa de seu quartel-general. Na medida em que as bombas incendiárias e a munição vão acabando, porém, junto com elas vão a esperança, algo marcado por Canche provocando e chamando EZ, o que coloca a responsabilidade sobre o mais novo membro efetivo do grupo, pelos mortos e feridos e, por alguns excruciantes momentos, por uma das mulheres que, em desespero, corre para fora do local somente para ser baleada na barriga e ficar gritando em desespero enquanto vagarosamente morre. O caos é palpável, desconfortável e realmente consegue evocar um daqueles momentos em que o espectador não sabe muito bem como tudo aquilo vai acabar, ainda que a chegada de Marcus no segundo final seja consideravelmente previsível, até porque a solução precisava vir de fora e de um patamar superior.

Cleansing of the Temple é um explosivo começo de temporada, um que não tem pudor algum de se fiar em uma única estratégia narrativa, que é destrinchar os detalhes climáticos do conflito entre Mayans. O resultado é o fortalecimento de Marcus, o enfraquecimento de Bishop, a desesperança dos demais membros e a aparentemente manutenção das tensões entre os grupos que, em tese, deveriam agir unidos.

4X02
Hymn Among Ruins

Quando o “quatro meses depois” apareceu na tela ao começo de Hymn Among Ruins, minha primeira reação foi de frustração, especialmente depois de um episódio inicial tão interessante justamente por lidar com a guerra civil entre os Mayans de frente e em minúcias. Uma elipse temporal me pareceu preguiçosa em uma análise imediata, com base unicamente na indicação de passagem de tempo. Mas eu subestimei Elgin James, claro, que retorna à direção, desta vez com roteiro de Debra Moore Muñoz e entrega um episódio que tem gostinho de soft reboot, mas não um marretado na narrativa e sim algo que decorre dela naturalmente.

Afinal, com exceção de um breve vislumbre da nova e frugal vida de Emily, os Galindos parecem, nesse ponto da história, algo do passado, uma conexão longínqua com os Mayans. Isso livra o clube de Santo Padre da subordinação usual que foi trabalhada ao longo de três temporadas e abre espaço para o que justamente esse episódio faz, que é focar mais nos personagens coadjuvantes, algo que James já vinha fazendo desde a temporada anterior, que começou a se desviar do foco quase exclusivo nos Reyes. Dessa maneira, há espaço para Coco novamente, em franca recuperação, além de sua namorada sofrendo com a rejeição de sua filha e um desgosto geral por sua vida fora do vício de drogas. Há até foco em Creeper, personagem que jamais ganhou qualquer tipo de desenvolvimento relevante, participando de um grupo de ajuda e encetando uma conexão com um mulher que padece dos mesmos problemas.

O próprio clube de Santo Padre como um todo mudou completamente. Agora, em uma sequência muito bacana focada em Bishop aproximando-se do trono, tocando-o, apenas para sentar na cadeira ao lado e abrindo espaço para Marcus, a liderança é outra e há uma subjugação quase completa ao clube de Yuma que tomou fisicamente o espaço do quartel-general, só alimentando a animosidade entre eles, com um passado ainda longe de ser curado. E é isso que é mais interessante no episódio, pois seria muito mais fácil para o showrunner fazer todo mundo acomodar-se ao novo status quo e, mesmo com hesitações aqui e ali, os grupos trabalharem em conjunto. Mas não. Percebe-se em cada segundo ali dentro do QG em reconstrução que tudo está muito errado e que não só o próprio uma vez todo-poderoso Marcus não consegue chegar a um semblante de conciliação – EZ é o único que demonstra alguma predisposição a isso -, como Bishop quase que de forma completamente aberta, mantém a divisão e a animosidade acesas, tramando contra Yuma e seu desejo de ser o “único e eterno rei”.

Claro que os Reyes não são esquecidos e Angel é mostrado lutando para “esquecer” Adelita e seu filho com ela de forma que ele tenha alguma chance de ser feliz em sua relação com Nails, grávida dele, da mesma forma que Felipe, levando uma mensagem misteriosa a EZ, tenta, sem sucesso, reconciliar-se com seu filho depois que ele mesmo catalisa a separação de Gaby. Não só tudo desemboca com a simpática (mas clichê até não poder mais) adoção de uma cadela por EZ (um cara forte, inteligente, vivendo em um trailer com uma cachorra grande? Quem mais lembrou de Cliff Booth, em Era Uma Vez em… Hollywood?), como a carta em si remexe no passado dele na prisão, servindo, provavelmente, de preparação para a entrada daquele personagem que o ajuda por lá ou algo nessa linha.

Com os Sons of Anarchy de San Bernardino aparecendo e os Mayans sendo objeto de discussões, com um lado apenas querendo esperar o clube de Santo Padre morrer naturalmente e outro, liderado por Terry (Greg Vrotsos), querendo arregaçar as mangas e acelerar essa morte, era óbvio que alguma conexão grave ocorreria ao final. Isso se dá pela descoberta por Jess (Grace Rizzo), uma bartender dos Mayans, de um colete dos SoA, provavelmente o de Allesandro Montez, assassinado por Palo na temporada passada, o que é levado diretamente a Terry a pedido de sua irmã. É essa linha narrativa de conflito entre os Sons e os Mayans que potencialmente tomará conta do restante da temporada, talvez até servindo como uma forma orgânica de fazer os Mayans se unirem ao redor de uma causa única.

A quarta temporada de Mayans parece caminhar para uma abordagem muito mais intramuros do que nas temporadas anteriores, lidando com os clubes de motocicleta apenas – ou preponderantemente – e deixando fatores externos como elementos contextualizadores. Isso, por um lado, aproxima a série da estrutura de Sons of Anarchy, retirando-lhe aquilo que a diferenciava da criação original de Kurt Sutter. Por outro lado, esse parece ser uma direção natural a ser adotada, ainda que seja cedo demais dizer que é isso mesmo que Elgin James fará.

Mayans M.C. – 4X01 e 4X02: Cleansing of the Temple / Hymn Among Ruins (EUA – 19 de abril de 2022)
Showrunner: Elgin James
Direção: Elgin James
Roteiro: Elgin James (4X01), Debra Moore Muñoz (4X02)
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Sarah Bolger, Michael Irby, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Jimmy Gonzales, Greg Vrotsos, Grace Rizzo, Carla Baratta, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, Frankie Loyal, Manny Montana, Justina Adorno
Duração: 47 min. (4X01) e 50 min. (4X02)

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