Home TVEpisódio Crítica | Mayans M.C. – 4X03: Self Portrait in a Blue Bathroom

Crítica | Mayans M.C. – 4X03: Self Portrait in a Blue Bathroom

Pais, mães e seus filhos.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

A sensação que tive ao final de Self Portrait in a Blue Bathroom é que Cleansing of the Temple e Hymn Among Ruins foram prelúdios para a quarta temporada da série, que começa, efetivamente, em seu terceiro episódio. E não digo isso exatamente como um elogio, pois tudo o que os dois primeiros episódios representaram de mudança para Mayans M.C., o terceiro de certa forma retrocede tanto em termos narrativos como estruturais, como se Elgin James tivesse olhado para seu material e decidido jogar seguro depois de começar de forma explosiva e mais do que eficiente.

Afinal, não há nada mais comum do que um episódio de começo de temporada que se preocupa em abordar o maior número possível de personagens em uma espécie de recapitulação da série, o que normalmente fragmenta a narrativa em pequenas sequências de maior ou menor importância no cômputo geral que, em linhas gerais, têm como objetivo situar o espectador no novo status quo. E, antes que me venham dizer que isso é normal em todas as séries de TV, eu já disse isso logo no começo deste mesmo parágrafo. Eu sei. É comuníssimo. Mas o showrunner havia começado a temporada de maneira consideravelmente ousada, apontando para um caminho e, agora, parece “normalizar” tudo com uma abordagem essencialmente burocrática que não é nem de muito longe ruim, apenas um tantinho desapontadora.

Acho perfeitamente aplicável afirmar que o roteiro de Gerald Cuesta usa uma variação do artifício do emolduramento narrativo para contar as diversas pequenas histórias que precisa contar, deixando o caldo mais suculento para o começo, com Bishop semeando discórdia entre Santo Padre e Yuma e perdendo seu cargo de vice-presidente que é, ato contínuo, entregue a EZ em uma ascensão talvez meteórica demais do personagem dentro da hierarquia do clube e para o final, em que a missão de EZ, seu novo amigo Manny, do grupo de Yuma, e seu irmão Angel dá retumbantemente errada. Entre esses dois inegavelmente importantes eventos, o que Cuesta faz é nos oferecer visões de soslaio de todo mundo que ficou essencialmente ausente dos dois primeiros episódios e também alguns dos membros dos Mayans de Santo Padre, tumultuando um pouco o capítulo.

Já era esperado que houvesse algum foco em Adelita considerando a revelação, na temporada anterior, de que seu filho está vivo e vê-la em seu miserável cotidiano investigativo para saber o paradeiro de sua prole foi muito interessante, ainda que a narrativa, pelo menos a essa altura, pareça-me ainda bastante descolada da principal, algo que deve mudar quando Angel, inevitavelmente, descobrir sobre o segredo, provavelmente pela própria Adelita procurando ajuda. O que não era muito esperado era uma abordagem da vida privada do misterioso El Banquero, líder do Lobos New Generation Cartel (ex-Lobos Sonora), ainda que a bronca que ele leva de sua irmã sobre deixar todas as suas finanças sendo cuidadas por uma só pessoa seja o catalisador tanto para a demoção de Bishop e promoção de EZ, quanto para os perturbadores acontecimentos ao final. O ponto é que eu não imaginava que a velha estrutura de colocar os Mayas sob o jugo de um cartel – agora do lado de lá da fronteira – fosse entrar no jogo tão rapidamente e eu confesso que não sei se gosto dessa perspectiva. Mas veremos, claro.

Se o roteiro tivesse parado nessas duas linhas narrativas, o trabalho de direção de Brett Dos Santos provavelmente poderia ter lidado com tudo de maneira mais fluida, sem precisar correr com cada pedaço de história que ele acaba sendo obrigado a inserir no episódio. Afinal, temos Coco mostrando-se insatisfeito com Angel pelo que ele percebe como o abandono de todos quando ele mais precisava, Hank contando para a família de seu prospect morto sobre o ocorrido, EZ tendo que lidar com as perguntas de um desconfiado JJ sobre seu sumiço da prisão e uma inquieta Sally que destrói seu colchão e, provavelmente, iniciando uma relação com a funcionária do abrigo de animais, Emily indo visitar seu filho que está escondido com sua irmã e, no processo, revelando toda sua paranoia sobre seu marido estar atrás dela e dele e até mesmo Nestor trabalhando de vigia de estacionamento. É muita coisa para tão pouco tempo.

Com isso, a ação principal, ou seja, a missão de transportar Randall, o foragido contador de El Banquero, para o México, acaba sendo empurrada para o final, com um desfecho surpreendente e asqueroso que o revela como estuprador do próprio filho que não consegue resistir a seus impulsos nojentos mesmo no meio do deserto, cercado por três motoqueiros mal encarados, escondendo-se de tiros ao longe e, claro, fugindo da polícia. Não sei, mas me pareceu uma situação forçada demais para chocar e para levar ao seu mais do que bem-vindo fuzilamento por Angel (eu teria preferido uma longa sessão de tortura, mas não se pode ter tudo, claro…) depois que o futuro pai – que já é pai, mas Manny não sabe – ouve de Manny o quanto ele ama a filha e o quanto ele não entende Marcus Álvarez ter, um dia, entregue seu próprio filho para Happy, o que também me pareceu uma informação descontextualizada, mas que Angel e EZ provavelmente precisavam saber para o futuro da temporada. Desnecessário dizer que, apesar das circunstâncias da morte, as consequências para Santo Padre serão potencialmente devastadoras.

Self Portrait in a Blue Bathroom é interessante por lidar essencialmente com relação filial (Adelita e seu filho roubado, Angel e suas saudades do filho que está morto e as perspectivas de um outro rebento chegando, Manny falando de sua filha e do filho morto de Alvarez, Emily indo visitar seu filho, EZ lidando com sua “filha canina” Sally, Hank e seu prospect, sempre uma figura filial, especialmente no caso dele, mais sensível e, claro, o pedófilo desgraçado), mas peca pelo excesso, pela necessidade de se derramar tudo de uma vez só em poucos minutos, o que retira a força de cada sequência e acaba fazendo a descoberta sobre Randall, ao final, apesar de estar perfeitamente na linha da violência e amoralidade do Universo Sons of Anarchy, parecer gratuita. Mas o tabuleiro foi posto e, agora, é só torcer para que Elgin James jogue o jogo com toda a paciência e cuidado do mundo.

Mayans M.C. – 4X03: Self Portrait in a Blue Bathroom (EUA – 26 de abril de 2022)
Showrunner: Elgin James
Direção: Brett Dos Santos
Roteiro: Gerald Cuesta
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Sarah Bolger, Michael Irby, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Jimmy Gonzales, Greg Vrotsos, Grace Rizzo, Carla Baratta, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, Frankie Loyal, Manny Montana, Justina Adorno, Guillermo García, Lex Medlin, Gino Vento
Duração: 55 min.

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