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Crítica | Mayans M.C. – 4X06: When I Die, I Want Your Hands on My Eyes

Subvertendo Neruda.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

Apropriando-se do título do soneto Cuando Yo Muera, Quiero Tus Manos en Mis Ojos, de Pablo Neruda, o sexto episódio da quarta temporada de Mayans M.C. pede que o luto pela morte de um ente querido seja observado, mas que ele não seja intenso o suficiente de forma que o enlutado pare de viver sua vida. E o interessante é que, com exceção da tragédia vivida por Nails, que perde seu filho, as demais mortes sentidas no episódio – a do garoto no convento do México e a de Coco – têm como resposta a promessa de violência, pois, nesses casos, a violência é o “viver a vida” a que Neruda alude, em uma interessante e angustiante subversão da palavra do poeta chileno.

Depois das diversas demonstrações de amor serem manchadas por mortes em Death of the Virgin, é notável e corajoso que o capítulo seguinte seja focado, de um lado, no luto pelo assassinato de Coco e, de outro, no drama de Nails que tem apenas Felipe ao seu lado e no de Miguel que retorna ao mundo dos vivos impulsionado por uma morte. Os mais apressados poderiam concluir que When I Die, I Want Your Hands on My Eyes é, em essência, um filler, mas essa conclusão não poderia ser mais equivocada. Muito ao contrário, estamos diante de um daqueles raros capítulos que, na medida em que fazem os personagens contemplarem sobre perdas, nos levam pelo mesmo caminho, o que, no processo, dá peso e força às próprias perdas, evitando que elas sejam apenas meros artifícios narrativos fáceis e convenientes para que determinado objetivo seja alcançado.

E não é que as mortes não sejam artifícios narrativos, pois elas obviamente são, mas o importante é que elas não sejam banalizadas. Coco, que sequer vemos novamente, em uma escolha muito boa do roteiro de Elba Román-Morales, tem sua morte ecoada em todos os personagens, cada um lidando de seu jeito com a situação e deixando a pergunta no ar sobre o que fazer agora. A mera tentativa de Álvarez de tratar o assunto da maneira menos gravosa, fazendo de tudo para evitar uma guerra contra os Sons of Anarchy, gera uma excelente discussão. Afinal, será que a resposta para a violência é mesmo mais violência? E é particularmente importante que a oposição à sua aparente calma venha principalmente de EZ, que sempre agiu com inteligência, mas que sugere uma retaliação de monta, uma que pode ou dar muito certo ou muito errado, sem meio termo.

Mas o que vai acontecer é menos importante, no momento, do que o que o episódio faz, que é parar tudo, segurar a ação, segurar a correria, para olhar para um personagem importante que acabou de ser assassinado. Poucas séries se dão ao luxo de fazer isso e fico feliz que Elgin James, na segunda metade de uma temporada que pode ser a última – eu já achei um milagre terem renovado a série para a quarta temporada… – tenha jogado no lixo o manual padrão de como fazer obras televisiva serializadas e dedicar um episódio inteiro ao luto, mas um luto com propósito que faz pleno sentido e que faz a trama andar de seu próprio jeito, especialmente ao fortalecer EZ na hierarquia dos Mayans, aconteça o que acontecer.

O doloroso aborto espontâneo de Nails é um contraponto pesado a uma situação já difícil, pois não só lida com o sofrimento da personagem, na prática abandonada por Angel, como faz com que o Mayan perca mais um filho (ele ainda não sabe que seu filho com Adelita está vivo, vale lembrar), potencialmente colocando mais peso na culpa que ele sente por não conseguir se conectar com Nails. Claro que existe toda uma preparação para que Angel e Adelita, se não ficarem juntos, pelo menos reestabeleçam algum tipo de relação, mas, novamente, o que está para frente é menor importante do que o que acontece aqui, mesmo que ele permaneça todo o episódio ignorante da situação e, no processo, relacionando-se com Letty em uma estranha e feia forma dos dois lidarem com a perda de Coco.

O elenco do episódio merece ser laureado em conjunto, aliás. Ver aqueles machões todos de coletes de couro reagirem com intensa humanidade, com direito ao copioso choros de Angel refletido no de seu próprio pai em outra situação, Álvarez sendo contraditado por EZ e Letty e Hope unindo-se na morte, além de Miguel finalmente saindo do convento, foi belíssimo, com a delicada direção de Melissa Hickey sabendo extrair de cada ator e atriz o tom exato das performances de forma a não tornar o episódio um dramalhão mexicano.

Neruda certamente não tinha em mente que manter o luto em xeque para que a vida do enlutado possa continuar a ser vivida significa espalhar a morte como parece ser o caminho que Mayans M.C. tomará, mas a situação tem encaixe perfeito e cuidadoso, funcionando como uma bela homenagem ao fim de um personagem importante da série, ao mesmo tempo que como o começo do fim da temporada. Se EZ tiver sucesso em sua missão suicida, seu retorno aos Mayans será triunfal e, tenho certeza, emprestará ainda mais significado à morte de Coco.

Mayans M.C. – 4X06: When I Die, I Want Your Hands on My Eyes (EUA – 17 de maio de 2022)
Showrunner: Elgin James
Direção: Melissa Hickey
Roteiro: Elba Román-Morales
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Sarah Bolger, Michael Irby, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Jimmy Gonzales, Greg Vrotsos, Grace Rizzo, Carla Baratta, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, Frankie Loyal, Manny Montana, Justina Adorno, Guillermo García, Lex Medlin, Gino Vento
Duração: 48 min.

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