Home TVEpisódio Crítica | Mayans M.C. – 4X08: The Righteous Wrath of an Honorable Man

Crítica | Mayans M.C. – 4X08: The Righteous Wrath of an Honorable Man

Perdendo a luta para si mesmo.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios.

A estreia na direção de Danny Pino, ninguém menos do que o próprio Miguel Galindo, foi um desafio, pois The Righteous Wrath of an Honorable Man tinha a responsabilidade de seguir os eventos trágicos, porém corridos, de Dialogue with the Mirror, além de começar a realmente preparar o final da temporada, com a convergência das linhas narrativas desgarradas, notadamente a dos Galindos e a do cartel Lobos New Generation. Com Debra Moore Muñoz em trabalho solo no roteiro, porém, nada ficou esquecido e ainda houve espaço para a continuidade do desenvolvimento paralelo das vidas particulares de alguns Mayans que começaram, nesta temporada, a ganhar atenção de Elgin James.

O pano de fundo macro, claro, é a guerra entre os Mayans e os Sons of Anarchy. Com o resultado meia boca do ataque (não)planejado de EZ a Packer no hospital onde ele deveria estar, tudo o que ele conseguiu foi esquentar a situação, levando a retribuições e, finalmente, a Álvarez sancionar um ataque concertado e devastador ao capítulo de San Bernardino do SoA. Uma boa parte do episódio é dedicada a esse lado da história, mas não sem que EZ confessasse o assassinato de Gaby a seu pai como parte de seu processo de abraçar seu lado sombrio, para infelicidade total de Felipe. Ao aceitar quem ele é, EZ, mesmo ainda assombrado pelo que fez, despe-se de qualquer resquício de moralidade e aproveita a guerra para livrar-se de Canche a sangue frio, com Angel mais uma vez testemunhando sua fúria e Manny desconfiando do que pode ter acontecido.

A transformação de EZ foi muito bem conduzida por Pino, que conseguiu extrair de J.D. Pardo uma gama de profundos sentimentos conflitantes que ressonaram como genuínos e naturais. Esse EZ não é mais alguém que pelo menos tenta seguir o caminho mais honrado. Agora, ele fará, sem titubear, o que for necessário ao seu clube, o que provavelmente significa, para ele, defender não só sua família de sangue, mas também a ele próprio, com a decisão de liquidar Canche de maneira a colocar essa morte na conta do Sons sendo tomada com esse espírito, ainda que, ironicamente, talvez seja isso que ponha tudo a perder mais para a frente.

No entanto, se tudo andou bem (ou mal, dependendo do seu ponto de vista) para EZ, não sei se posso dizer o mesmo para a guerra em si. Apesar das ótimas e tensas sequências de ação e violência desenfreada, especialmente o ataque ao Q.G. do capítulo de San Bernardino, tudo me pareceu muito… distante. Afinal, apesar do morticínio, tudo o que vemos são homens de colete dos Sons sendo atacados e eles pouco significam para nós. Faltou maior identificação com o suposto grupo inimigo e, mais ainda, algum nível maior de dificuldade, algum preço mais alto a ser pago além de Canche que, claro, não foi exatamente vítima da guerra, pelo menos não da guerra macro. Os Sons, em Mayans, são muito mais figuras míticas do que personagens e, com isso, um pouco do impacto foi perdido no meio do caminho, mesmo que a pancadaria tenha sido um ótimo veículo para EZ terminar de aceitar sua persona psicopata e, também, para Bishop e Taza encontrarem se não exatamente um meio termo, pelo menos uma maneira de eles conviverem.

A outra grande linha narrativa é a que lida com Adelita e sua incapacidade de amamentar seu filho, o que a leva ao desespero e à impressão de que marcou o destino do bebê com o que ela fez com sua família adotiva. Confesso que gosto muito dessa humanização da personagem, pois, por mais destemida que ela sempre tenha sido, ela consegue compreender o que EZ também compreende, ou seja, uma espécie de DNA de violência que é passado de geração para geração. Mesmo com Angel feliz da vida com sua nova chance de ser pai – incomoda-me seu abandono de Nails e espero que isso seja abordado mais adiante -, não consigo ver um desfecho feliz para ele, Adelita e o bebê e só consigo imaginar o pior possível considerando o quanto Elgin James já mostrou ser capaz de fazer mesmo sem Kurt Sutter na produção.

Três outras linhas narrativas ganham espaço no episódio, com duas delas deslocadas. Falo das vidas privadas de Gilly e Creeper, o primeiro lidando com seus traumas de quando lutou na guerra e o segundo exalando felicidade ao apresentar sua namorada Kody a seus irmãos. Mesmo tendo sempre reclamado do quanto os outros Mayans eram meros extras na série, elogiando a tentativa de James de desenvolver mais gente do que apenas o núcleo Reyes, Bishop e Coco, tenho para mim que não cabia a abertura desse espaço aqui. O que senti é que o foco nesses aspectos distantes das linhas narrativas principais acabou detraindo do tempo que seria mais bem empregado ao lidar com o luto dos irmãos líderes do LNG e da declaração de guerra civil de El Banquero contra sua irmã Soledad, esta revelando, ao final, ter sequestrado Miguel Galindo justamente pensando nessa possibilidade.

Afinal, creio que os desenvolvimentos no seio familiar do LNG me pareceram jogados aqui, já que muito pouco vimos dos irmãos ao longo dos sete episódios anteriores da temporada. El Banquero era um líder violento na temporada anterior que, nesta agora, ganhou uma imagem submissa no momento em que Soledad foi introduzida, sem que o conflito entre eles fosse trabalhado mais do que alguns segundos por vez aqui e ali. Sua tentativa de golpe de estado com direito a um ataque virulento à irmã agora que a mãe deles morreu (foi só eu que demorei para lembrar o porquê de eles estarem chorando?) até faz sentido, assim como faz sentido Soledad, muito mais “jogadora de xadrez” que o irmão, ter se preparado para contingências, mas faltou desenvolvimento e construção, com os personagens mal conseguindo sair da unidimensionalidade absoluta. Por isso é que eu digo que os dramas de Gilly e Creeper poderiam ter ficado no banco de reservas neste episódio, pois eles não me parecem ter relevância imediata para o final da temporada.

Apesar de seus problemas, The Righteous Wrath of an Honorable Man solidifica de vez a queda de EZ, inteligentemente paraleliza esse aspecto com a dor de Adelita e faz a guerra entre Mayans e Sons explodir de vez, com espaço para que a cizânia dentro dos próprios Mayans seja mais uma vez iniciada. Com dois episódios pela frente e sem anúncio ainda de uma quinta temporada, tenho dificuldade de imaginar um fim de arco realmente satisfatório, sem que as pontas fiquem completamente soltas. Mas a série já mostrou ser capaz de surpreender, pelo que só nos resta esperar.

Mayans M.C. – 4X08: The Righteous Wrath of an Honorable Man (EUA – 31 de maio de 2022)
Showrunner: Elgin James
Direção: Danny Pino
Roteiro: Debra Moore Muñoz
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Sarah Bolger, Michael Irby, Richard Cabral, Raoul Trujillo, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Jimmy Gonzales, Greg Vrotsos, Grace Rizzo, Carla Baratta, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, Frankie Loyal, Manny Montana, Justina Adorno, Guillermo García, Lex Medlin, Gino Vento
Duração: 50 min.

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