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Crítica | Mayans M.C. – 5X01 e 02: I Hear the Train A-Comin / Lord Help My Poor Soul

Os Mayans acuados.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Como acontece desde a terceira temporada, que marcou o início do comando exclusivo da série por Elgin James depois da saída de Kurt Sutter, o quinto e último ano de Mayans M.C. começou com dois episódios transmitidos no mesmo dia. Abaixo, o leitor encontrará as críticas de cada um deles separadamente, com a do episódio 5X01 tendo sido escrita sem que o 5X02 tivesse sido conferido para reproduzir a experiência semanal. Vamos lá?

5X01
I Hear the Train A-Comin

Impressionante que a derradeira temporada de Mayans M.C. tenha chegado às telinhas menos de um ano depois do tumultuado e apressado quarto ano que teve como principal ponto negativo o mergulho de EZ Reyes no lado sombrio que o fez, ao final, emergir como presidente de seu clube de um lado tentado estabelecer conexão com o cartel Lobos Nueva Generación comandado por Soledad, agora ao lado de um ressuscitado Miguel Galindo, e, de outro, em plena guerra com uma facção dos Sons of Anarchy comandada pelo vingativo, violento e completamente louco Isaac Packer. No entanto, mesmo com esse retorno veloz, Elgin James, que escreveu e dirigiu I Hear the Train A-Comin fez questão de abordar cada detalhe do novo status quo e, ainda, adicionar alguns outros elementos.

E, considerando os diversos núcleos da série, essa não é uma tarefa fácil de se cumprir a contento. O showrunner faz um grande esforço para caracterizar EZ como um líder que se mostra seguro de si, mas que, a cada movimento, afunda mais em um mundo que ele claramente não tem experiência suficiente para navegar. Isso fica evidente na sequência em que os Mayans roubam um carregamento de armas dos Sons, pois essa vitória prometida a Miguel é, na verdade, uma grande derrota quando Soledad desdenha o fruto do trabalho do grupo ao comparar as armas quase de colecionador que são mostradas nas caixas com o equipamento moderno de seus guarda-costas.

No lado pessoal, a família Reyes parece fortemente fragmentada com a decisão de EZ em liderar os Mayans. Não só Angel recolhe-se à sua vida caseira com Adelita e com o pequeno Maverick, como ele chega a se esquecer do aniversário do irmão. Por seu turno, Felipe parece resignado com a escolha do filho mais novo, apesar de muito claramente lamentá-la a ponto de trazer reminiscências do passado que, para todos os efeitos, só agravam aquela sensação de Angel de que EZ sempre foi o preferido do pai. Mesmo que, ao final, o sobrinho seja finalmente apresentado ao tio como um presente de aniversário casado com um pedido de desculpas, quer parecer que a temporada ainda gravitará ao redor do conceito de família como deveria mesmo ser.

A introdução de dois novos clubes de motocicleta é o terceiro vértice do episódio e funciona bem como uma maneira de James ampliar o universo da série, ainda que as mulheres duronas do Broken Saints pareçam muito mais aquela conveniência bacana para reforçar os Mayans quando necessário for sem repetir a fórmula já um pouco cansada de grupos de homens tatuados e barbudos andando de moto. É um gender bender básico, sei bem, mas, para mim pelo menos, ele funcionou nem que seja para dar alguma variedade à estrutura da série. Da mesma maneira, a mera menção à existência do Iron War, um clube formado por policiais e guardas de prisão corruptos, ajuda na pavimentação dessa estrada mais alargada da temporada final e será interessante ver como eles serão desenvolvidos depois de serem indiretamente introduzidos aqui, durante o atentado contra Creeper na prisão.

Diria que os aspectos acima poderiam muito bem ter sidos os únicos abordados no episódio, já que os demais acabaram tirando o tempo de desenvolvimento apropriado dos pontos mais importantes desse início do fim e não trouxeram nada de realmente relevante para a mesa de discussões. Pouco ganhamos com o namoro de Bishop e Maggie e menos ainda com a orgia de Isaac. Claro que a linha narrativa de Letty e Hope, que se tornaram ladras de drogas para pagar o aluguel, é levemente mais interessante, mas creio que muito tempo tenha sido dedicado a essa jornada paralela que parece, no momento, existir somente para que não esqueçamos completamente de Coco e seu legado. Veremos aonde é que isso vai dar.

Obs: Quem diabos é aquele almofadinha do Guero que, do nada, passou a fazer parte dos Mayans? Será ele um daqueles personagens que só são inseridos para morrerem não muito tempo depois para dar aquela impressão de “grande perda”?

5X02
Lord Help My Poor Soul

Ultrapassado o sempre mais difícil episódio de início de temporada, Lord Help My Poopr Soul é um capítulo mais focado e objetivo e, por isso mesmo, mais eficiente e poderoso que coloca famílias na linha de tiro, começando por mais uma sequência capitaneada por Isaac e sua maneira teatral e extremamente violenta de agir que resulta no isolamento maior dos Mayans com a saída do grupo de Inland Empire da guerra e encerrando com Angel e Maverick sendo tensamente ameaçados por Cole e seu comparsa e que leva o irmão de EZ a entrar e desespero e a pedir – não, exigir! – o fim da investigação sobre o canal de tráfico de drogas, na prática também o fim da guerra. É, em essência, um assunto só sendo abordado por diversas frentes.

A sinuca de bico em que EZ se encontra é palpável e seu desespero traduz-se em sua completa falta de controle em lidar com o Iron War e, especialmente, o “Coringa” dos policiais corruptos que permitiu que Creeper fosse esfaqueado. O ponto mais baixo mesmo, porém, é quando o novo e inexperiente presidente vai, com o rabo entre as pernas, visitar Marcus Álvarez em sua casa, sendo recebido com aquela típica educação distante do personagem que, ato contínuo, o escorraça dali revelando a mágoa que sente pela votação ocorrida há seis meses.

Tenho problemas com a reunião no Templo convocada por Angel, que conta sobre Cole, levando à conclusão sobre o canal usado pelo tráfico, algo que deveria ser óbvio já há algum tempo. Mas a reação de EZ é que me pareceu deslocada, como se seus problemas tivessem do nada acabado, levando-o à afirmação megalomaníaca de que eles, agora, têm tudo o que é necessário para derrubar o Cartel. Confesso que a mudança de um EZ acuado para um EZ confiante com base em uma informação enevoada que leva a uma dedução básica não me pareceu a melhor maneira de conduzir essa linha narrativa, ainda que, claro, tudo vá depender do que efetivamente ele planeja fazer com a informação. Tudo o que não pode acontecer, em Mayans, é uma saída fácil seja para que lado for.

Mas a temática de família continua de diversas outra maneiras, seja com Emily literalmente presa em casa por Miguel, que usa o filho deles como forma de mantê-la dócil por ali, seja o que vemos Adelita fazer para o Cartel, a mando de Lincoln Potter, vendendo sua alma para proteger seus entes queridos, seja até mesmo o momento de doçura melancólica em que vemos Hank colocar sua desnorteada mãe em um lar para idosos em uma daquelas cenas de cortar o coração. É até possível equalizar a dura conversa de Katie com Creeper no leito do hospital dentro da mesma temática, assim como a visão doméstica da vida pós-Mayas de Álvarez.

A efetiva apresentação do Iron War, cujos membros, para minha surpresa, apesar de seres policiais e agentes prisionais, usam os tradicionais coletes de couro das gangues de motoqueiros, assim como o acordo que Miguel e Soledad fazem com outra facção do Cartel para usar o governo americano como escudo para suas atividades ilícitas são outros momentos interessantes para a série engrossar o caldo do que parece ser uma guerra em diversas frentes. Eu só não sei muito bem como os Mayans, mesmo com eventual ajuda do Broken Saints, terá a força necessária para lidar com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.

Em paralelo, a sequência no Departamento de Justiça que parece revelar o “caixa dois” de Potter para financiar sua operação perante o Cartel, assim como a investigação de Katie sobre o traidor dentro dos Mayans (presumo que estejam falando de EZ, mas não tenho certeza) são outros ingredientes com potencial para virar o jogo ou de alguma embaralhar as peças de forma a permitir jogadas novas em um tabuleiro complexo. Pode parecer que ainda faltam muitos episódios para a temporada acabar, mas a grande verdade é que ainda há muita coisa a ser amarrada e eu torço para que Elgin James tenha um plano bem claro para dar cabo de tantas linhas narrativas diferentes.

Mayans M.C. – 5X01 e 02: I Hear the Train A-Comin e Lord Help My Poor Soul (EUA – 24 de maio de 2023)
Showrunner: Elgin James
Direção: Elgin James (5X01), Brett Dos Santos (5X02)
Roteiro: Elgin James (5X01), Jenny Lynn (5X02)
Elenco: J.D. Pardo, Clayton Cardenas, Michael Irby, Carla Baratta, Danny Pino, Edward James Olmos, Emilio Rivera, Sarah Bolger, Andrew Jacobs, Stella Maeve, Frankie Loyal, Joseph Raymond Lucero, Vincent Vargas, JR Bourne, Emily Tosta, Vanessa Giselle, Augie Duke, Andrea Cortés, Selene Luna, Alex Barone, Caitlin Stasey, Branton Box
Duração: 59 min. (5X01), 47 min. (5X02)

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