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Crítica | Melodia da Broadway (1929)

por Luiz Santiago
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Todo Falado! Todo Cantado! Todo Dançado!

Propaganda da MGM para Melodia da Broadway
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Desta vez, vamos começar de uma forma diferente. A ocasião pede uma propaganda de humor negro, então, vamos lá. “Você gosta de sofrer? Sua felicidade o incomoda? Está cansado de ir ao cinema e ver excelentes filmes, com ótimo elenco e roteiros bem escritos? Não deixe que isso o incomode mais! Assista ‘Melodia da Broadway’! Este filme irá tirar de você quase toda a vontade de viver! Ele irá ensurdecer seus ouvidos com vozes estridentes; ferir seus olhos com coreografias dignas de jogral infantil do Jardim I e irá fazê-lo repensar a questão do suicídio, pelo menos o artístico! Não perca mais tempo! Vá até o calabouço cinéfilo mais próximo e assista Melodia da Broadway!”.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1930, Melodia da Broadway é possivelmente a pior produção a levar o prêmio para casa. O espectador só não pode dizer que absolutamente tudo no longa é ruim, porque o tom de humor, uma vez ou outra, arranca algum riso ou porque duas canções do longa realmente valem a pena, a romântica You Were Meant For Me e a graciosa e bem executada Truthful Parson Brown.

Dirigido por Harry Beaumont, Melodia marcou época, foi um grande sucesso de bilheteria (o filme custou 379 mil dólares e arrecadou pouco mais de 2,8 milhões, só nos Estados Unidos) e ainda gerou três sequências, Melodia da Broadway de 1936, Melodia da Broadway de 1938 e Melodia da Broadway de 1940, além de ter sido refeito como Conquistadoras da Broadway, em 1940.

Para uma película com uma terrível direção, elenco trôpego (as protagonistas Anita Page e Bessie Love são tremendamente artificiais e caricatas, um ranço trazido do cinema silencioso) e roteiro que não sabe bem o que história pretende contar, as conquistas de Melodia da Broadway são, em uma palavra, impressionantes.

Se olharmos para a história do cinema, é possível encontrar explicações históricas e artísticas para a boa recepção e legado do filme, a despeito de sua má qualidade. É importante termos em mente que o longa é um musical e este gênero era uma grande novidade na época -– pelo menos como gênero “completo” (drama/comédia + músicas cantadas e tocadas) -–. Até aquele momento, apenas cinco musicais haviam sido lançados, sendo os mais famosos O Cantor de Jazz (1927), também conhecido por ter sido o primeiro “filme sonoro” da história do cinema, e A Última Canção (1928), ambos protagonizados por Al Jolson e produzidos pela Warner Bros [os outros musicais que completam a lista são Rapaz de Sorte, My Man e The Five O’Clock Girl, todos de 1928]*.

Melodia da Broadway foi o primeiro musical da MGM e foi também o primeiro longa do gênero a ser completamente falado, cantado, dançado e com a popular temática do backstage musical, amplamente repetida nos anos seguintes. Algumas pessoas também atribuem o sucesso do filme a uma forma de escape para a Grande Depressão, mas isso não é verdade. Sua premiere aconteceu em Los Angeles, em 8 de fevereiro de 1929, e os problemas econômicos dos Estados Unidos começariam a ser sentidos no início de setembro, alcançando seu clímax na “terça-feira negra” em 20 de outubro. O elemento histórico para o sucesso de Melodia da Broadway foi o contrário, a impressão otimista que o americano médio tinha do país naquela época, mas, principalmente, foi o desenvolvimento técnico do longa que chamou a atenção.

O roteiro do filme, escrito a oito mãos, tenta erguer uma visão de superação e amadurecimento das protagonistas, conseguindo em partes seu intento, mas tropeçando constantemente no meio do caminho. A história se confunde com um drama amoroso constrangedor –- pela forma como é apresentado -– e não conta com apoio do elenco, especialmente da dupla de atrizes protagonistas, cuja única cena realmente boa é a briga que travam no camarim, ao final do filme (os gritos e demonstrações de ódio são surpreendentemente muito bons). A transição entre os acontecimentos do enredo é organizada de forma insatisfatória pela montagem, que ainda usa de intertítulos para localizar o espectador espacialmente, o que torna ainda pior o lado dramático da fita, já que a impressão de saltos temáticos interrompe o processo natural de abstração do público para o que está acontecendo.

É impossível negar o valor técnico e histórico de Melodia da Broadway, da mesma forma que é preciso reconhecer o seu interessante desenho de produção, mas nada disso consegue aplacar o impacto dos seus tediosos 100 minutos de duração. A sessão é realmente válida se o espectador quer completar a lista de filmes vencedores do Oscar ou de obras com valor notável para o desenvolvimento da arte cinematográfica (nesse caso, do gênero musical e do uso som), mas, se procura um bom divertimento em um dos primeiros musicais do cinema… sinto em informar, não é bem isso que ele encontrará aqui.

* Para uma discussão maior sobre o uso do som no cinema, leia o nosso Plano Histórico: Uma Introdução ao Cinema Sonoro.

Melodia da Broadway (The Broadway Melody) — EUA, 1929
Direção: Harry Beaumont
Roteiro: Edmund Goulding, Sarah Y. Mason, Norman Houston, James Gleason
Elenco: Charles King, Anita Page, Bessie Love, James Gleason
Duração: 100 min.

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