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Crítica | Men of Crisis: The Harvey Wallinger Story

por Luiz Santiago
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Por algum tempo, ainda no início de sua carreira, Woody Allen procurou espaço para trabalhar de forma livre na televisão, mas nunca teve sucesso. Depois de suas duas primeiras experiências verdadeiras como diretor (por motivos óbvios não estou considerando O que Há, Tigresa? como “experiência verdadeira na direção”), ou seja, depois de Um Assaltante Bem Trapalhão (1969) e Bananas (1971), Allen acabou deixando de lado todo e qualquer esforço pessoal para emplacar trabalhos na TV, sendo inclusive muito crítico em relação a essa mídia.

Nesse contexto, Men of Crisis: The Harvey Wallinger Story foi uma espécie de milagre de momento, pois o diretor decidiu abraçar um projeto especial para PBS, e este ficou sendo, por muito tempo, o seu único projeto televisivo, que mesmo assim ganharia apenas mais três adições no futuro: Não Beba Dessa Água (telefilme de 1994), Sounds from a Town I Love (curta realizado para o Concert for New York City: Live em 2001) e Crise em Seis Cenas (minissérie da Amazon, lançada em 2016).

No presente mocumentário, o texto segue a carreira do fictício Harvey Wallinger (Allen), assessor chefe e conselheiro de Richard Nixon, sendo claramente uma sátira do então Conselheiro de Segurança Nacional, Henry Kissinger. No filme, a comédia se ergue de forma simples e divertida, através de depoimentos falsos que são ligados a vídeos oficiais tirados de contexto, uma manipulação que Allen já sabia muito bem como fazer (por conta de O que Há, Tigresa?) e que estava fortemente baseada em elementos político-sociais sensíveis naquele momento nos Estados Unidos.

O protagonista, Harvey Wallinger, trabalha com Nixon desde que este foi vice-presidente de Eisenhower, e toda uma gama de piadas sobre a carreira do futuro presidente e de sua equipe na Casa Branca é realizada: Allen zomba da suposta inteligência e competência desses indivíduos, de suas histórias pessoais, de suas frases em entrevistas à imprensa e de suas “grandes conquistas republicanas”. A trajetória política também passa pela derrota de Nixon nas eleições de 1960 para John F. Kennedy, e coloca Wallinger bem ativo no contexto das eleições de 1968, dando conselhos a Nixon, floreando suas atitudes e habilidades. Em sua crítica, Allen dá a entender o narcisismo gigantesco do então presidente e as ideias nada inteligentes que este tinha nos bastidores.

Por conta do conteúdo ácido, o Especial foi retirado da grade de programação da PBS antes mesmo de ir ao ar, graças a pressões da Casa Branca. À época, Woody Allen disse que era por conta daquele tipo de coisa que “se limitava ao cinema“, onde foi, de fato, o cerne de sua obra. Como comentei antes, ele só faria projetos para a TV mais três vezes no futuro, e em condições bem especiais: uma na época das homenagens às vítimas do WTC, e as outras duas com bastante liberdade criativa para fazer o que ele queria. Men of Crisis: The Harvey Wallinger Story é uma produção pouco conhecida do diretor, mas que não faz feio ao humor caótico e cínico que ele explorava nos primeiros anos de sua caminhada cinematográfica. Com certeza vale a pena conferir!

Men of Crisis: The Harvey Wallinger Story (EUA, 1972)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Woody Allen, David Ackroyd, Wil Albert, Conrad Bain, Dan Frazer, Diane Keaton, Louise Lasser, Reed Hadley
Duração: 25 min.

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