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Crítica | Menina Má.Com

Pedofilia e sala de bate-papo: o lado tenebroso do ciberespaço.

por Leonardo Campos
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Quer teclar comigo? Este é o questionamento do cartaz de divulgação brasileiro de Menina Má.Com, produção de 2005 que flerta, em sua publicidade, com a história da Chapeuzinho Vermelho, mas que na verdade, pode ser uma ironia para os desdobramentos nesta história de caça e caçador. As séries, os filmes, os noticiários e as nossas experiências ao longo das últimas décadas já demonstraram que as salas de bate papo são terrenos escusos, hoje readaptados para os aplicativos de paquera e encontros, bem como as redes sociais, todos estes, espaços onde as pessoas podem tranquilamente forjar as suas identidades e criar personagens de acordo com os seus interesses e, mais importante, os elementos que interessam ao outro, num canal de comunicação que pode render boas empreitadas de amizade e relacionamento, como também podem gerar transtornos, haja vista ser este um ambiente para travessia de pedófilos, golpistas e outros seres humanos com propostas nada viáveis para a existência de seus interlocutores.

Em linhas gerais, é um terreno para correr riscos e, antes de escrever esta crítica retrospectiva, embasa numa segunda sessão do filme, depois de seu lançamento há quase 20 anos, percebi o quanto estas salas ainda são habitadas praticamente o dia inteiro, por pessoas que ofertam diplomas e carteiras de habilitação nada idôneas, bem como indivíduos casados que não podem se expor na dinâmica dos aplicativos e precisam encontrar os seus extras neste lugar ideal para manutenção de uma identidade secreta. É neste território que Jeff Kolhver (Patrick Wilson) encontra a jovem Hayley Stark, interpretada por Ellen Page, agora Elliot Page, depois do processo de transição de gênero. Ele supostamente é o tipo de homem que a sociedade condena, isto é, provavelmente um pedófilo, figura que aceita sair com a jovem de 14 anos, num encontro em um café que se desdobra numa visita ao seu espaço residencial. A proposta é inspirada em histórias reais sobre adolescentes japonesas que armam emboscadas para homens que procuram encontro com menores na internet, este filme

Ponto. A questão dos perigos do ciberespaço termina aqui. Mas, se distribui como um rizoma ao longo da trama, afinal, a situação soft de Jogos Mortais é fruto desta jornada que poderia ter sido evitado se o personagem masculino central fosse mais cauteloso em suas escolhas comunicacionais, no entanto, a internet serviu como espaço para disseminar os seus desejos e, que sabe, confrontá-los para o desejado encontro com aquilo que, tal como mencionado, condenamos. Sigamos: após semanas de conversas, eles se encontram na cafeteria, seguem para sua casa após flertes e ao chegar por lá, a garota apresenta as suas reais intenções. Algo na linha “preciso saber se ele é o cara envolvido no desaparecimento de uma garota”. Assim, o que seria uma possível aventura errônea se transforma num jogo macabro e sombrio. Hardy Candy, seu nome virtual, é referência a uma gíria acerca de meninas menores que utilizam a internet para encontros, colocando-se como possíveis iscas para seus interessados.

Em sua posição de torturadora, Hayley faz da vida de Jeff, um homem circunspecto, um inferno sem precedentes. É o que acompanhamos ao longo dos 104 minutos da narrativa, extensos demais para uma história que poderia ser contada assertivamente em menos tempo. David Slade entrega um trabalho de direção seguro, guiado pelo roteiro de Brian Nelson, bom, mas nada de espetacular. Aqui, temos mais uma daquelas comprovações de histórias potencialmente grandiosas que se perdem depois de transformadas no produto final, o filme. Há bons momentos, como a direção de fotografia de Jo Willems e seus close-ups eficientes, bem como a atmosfera estabelecida pelo design de produção de Jeremy Reed para a casa de Jeff. Ademais, a trilha sonora de Harry Escott e Molly Nyman ajuda na condução, mas não resolvem o clima de marasmo que se estabelece entre os picos de tensão. No geral, um filme diversos tópicos temáticos contemporâneos, sendo um deles, os perigos do lado escuso do ciberespaço.

Menina Má.Com (Hard Candy – EUA, 2005)
Direção: David Slade
Roteiro: Brian Nelson
Elenco: Patrick Wilson, Elliot Page, Sandra Oh, Odessa Rae, G.J. Echternkamp
Duração: 104 min.

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