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Crítica | Mestres do Universo: Salvando Eternia – 1ª Temporada, Parte 2

He-Man sem He-Man é He-Man sim!

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Se alguém achou que a gritaria com base em “infâncias destruídas” que exigiu mais He-Man em Mestres do Universo: Salvando Eternia teria o resultado esperado, é melhor achar novamente, pois o plano inicial de Kevin Smith, de colocar Teela no protagonismo, continua firme em forte na Parte 2. Na verdade, minto, pois ele basicamente “dobrou a meta” e não só manteve a filha da Feiticeira lá no pódio, desta vez finalmente assumindo o manto que lhe foi prometido lá na série oitentista original, como alçou Maligna ao posto de antagonista principal, rebaixando Esqueleto no processo. E, mais uma vez, Smith acertou em cheio.

É bem verdade que o Príncipe Adam – que não, não morreu pela segunda vez – está bem presente nos cinco episódios que encerram a história, mas sua persona marombada só aparece de verdade em dois momentos, o primeiro canalizando o poder de Grayskull sem a espada e transformando-se na versão loira do Hulk em modo berserk e, depois, na batalha final, em sua forma clássica, na luta campal nos arredores do Castelo de Grayskull. He-Man é, portanto, o “enquadramento” narrativo da série, que, com seus 10 episódios (olhando o todo), cumpre com louvor a missão de continuar a série da Filmation, mas organizando a mitologia e dando uma ordem ao caos original de uma série escrava de sua função primígena de vender bonequinhos e, com isso, abrindo espaço para um futuro com grande potencial de aproveitamento em temporadas futuras.

No entanto, mesmo não tendo que reapresentar o universo da série, a Parte 2 tem minutagem de menos para história de mais, o que exige um passo apertado para uma série de acontecimentos importantes, como a resolução do cliffhanger da Parte 1 em que Adam é quase morto por Esqueleto, o ataque a Eternos, a reunião do príncipe com sua família, com o Rei Randor sendo o único capaz de fazer sua forma neanderthal retornar ao normal e a conciliação de todo o drama de Teela de forma que a ela seja permitido embarcar em sua jornada definitiva em direção ao legado de sua mãe, guardiã de Grayskull. Em outras palavras, os roteiros, até para também abrir espaços para épicas batalhas – o He-Hulk versus o Super-Esqueleto comandando um exército de zumbis é excelente – precisa seguir por atalhos narrativos que, sem muita cerimônia, dão à Teela um certo grau de controle de magia e, não demora, a leva de volta ao castelo para que ela, então, possa assumir o manto de Feiticeira.

Mas até aí tudo bem, já que o amadurecimento da guerreira vinha sendo trabalhado desde o primeiro segundo da Parte 1 e, aqui, na Parte 2, apenas vemos o desfecho do que já era perfeita e logicamente esperado. Infelizmente, porém, o mesmo não acontece com Maligna. Sim, sua vilania foi relativizada quando ela própria uniu-se aos heróis na jornada para reunir as duas metades da Espada do Poder, mas ela reverteu ao “normal” quando Esqueleto ressuscita, revelando ali, bem no finalzinho da primeira parte, sua subserviência total a ele. É esse gancho que a segunda parte usa para trabalhar o relacionamento abusivo dela com seu “mestre”, dando a entender não só abuso verbal como, também, ousadamente, sexual. O problema é que o espaço dedicado a isso é acanhado, o que faz com que os eventos que se seguem, com ela traindo o Esqueleto, furtando a espada e canalizando para si os poderes de Grayskull com o objetivo não de conquistar Eternia ou o universo, mas de destruir toda a existência por interpretar que tudo é caos e que, portanto, seu sofrimento de uma vida inteira foi sem propósito, pareceu-me corrido demais, sem que houvesse fluidez em suas conclusões.

Até mesmo o tal alinhamento universal que o Super-Esqueleto mostra para ela e que faria Eternia ser fisicamente o centro de todo o universo mais uma vez parece um conceito tirado completamente da cartola de Kevin Smith, sem nenhuma preparação prévia e com esse exato evento sendo o gatilho para Maligna basicamente enlouquecer de desespero. No entanto, que fique bem claro que o problema, aqui, foi a velocidade das coisas e não os eventos em si. Faltou mais construção para Maligna, o mesmo tipo de construção que Teela gozou ao longo dos 10 episódios até tornar-se a primeira Feiticeira a poder sair do confinamento do Castelo de Grayskull em sua forma humana. Aliás, a comparação com o desenvolvimento de Teela tornam os problemas no de Maligna ainda mais sensíveis, ainda que sua história trágica seja não só interessantíssima, como muito importante de ser trabalhada.

Por outro lado, a união do povo de Eternia depois do chamamento de Teela e a gigantesca batalha nos arredores de Grayskull, com espaço para todos os coadjuvantes aparecem com algum destaque, inclusive He-Man, Scare-Glow e, claro, a versão 2.0 de Gorpo, com direito até a uma redenção final para Maligna, funcionou muito bem e criou o recomeço que a franquia precisava, com destaque para a grande virtude do Príncipe Adam, que é devolver o poder sempre que ele não é mais necessário. Até mesmo o epílogo com Esqueleto retornando aos membros da seita tecnológica provou-se algo bem pensado por Smith ao introduzir o culto, já que ele abre as portas para a potencial chegada de Hordak e, quem sabe, a conexão com She-Ra em temporadas futuras, se o projeto continuar.

Kevin Smith e seu Mestres do Universo: Salvando Eternia, ao colocar as mulheres no protagonismo E antagonismo, literalmente salvaram He-Man, finalmente emancipando o desenho bobinho de outrora e transformando-o em algo rico e realmente interessante. É possível que a choradeira de marmanjos saudosistas continue, mas tenho para mim que mesmo eles secretamente reconhecem que a melhor coisa que poderia ter acontecido ao hominho loirinho fortinho deles foi ficar no banco de reservas um tempo para poder ressurgir em toda a sua glória ao lado de quem manda de verdade ali, ou seja, a nova Feiticeira.

Mestres do Universo: Salvando Eternia – 1ª Temporada, Parte 2 (Masters of the Universe: Revelation, EUA – 23 de novembro de 2021)
Desenvolvimento: Kevin Smith (baseado em obra de Lou Scheimer)
Direção: Adam Conarroe, Patrick Stannard
Roteiro: Kevin Smith, Eric Carrasco, Tim Sheridan, Diya Mishra
Elenco: Sarah Michelle Gellar, Tiffany Smith, Lena Headey, Chris Wood, Mark Hamill, Liam Cunningham, Stephen Root, Griffin Newman, Susan Eisenberg, Kevin Michael Richardson, Kevin Conroy, Henry Rollins, Jason Mewes, Alan Oppenheimer, Justin Long, Tony Todd, Diedrich Bader, Alicia Silverstone, Phil LaMarr, Cree Summer, Harley Quinn Smith, Dennis Haysbert, Adam Gifford, Jay Tavare
Duração: 132 min. (cinco episódios)

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