Home QuadrinhosArco Crítica | Mickey Mystery: A Noite dos Mortos-Vivos e A Lente da Verdade

Crítica | Mickey Mystery: A Noite dos Mortos-Vivos e A Lente da Verdade

Ossos do ofício.

por Luiz Santiago
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A série Mickey Mystery tem uma história dividida em duas partes, duas vertentes de publicação. Uma delas, a menos conhecida, é quando a série surgiu na Disney Dinamarca, em 3 de janeiro de 1994, numa história chamada Too Close for Comfort (em dinamarquês: Gang i Hjernevindingerne). Já a outra fase foi na Disney Itália, através da famosa e muito elogiada minissérie Mickey Mouse Mystery Magazine, cuja edição #0 (das 11 que o projeto teria), intitulada Anderville, foi publicada em 10 de outubro de 1994. No presente compilado, eu faço a crítica de duas aventuras dessa fase dinamarquesa do personagem. Ambas publicadas aqui no Brasil.

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A Noite dos Mortos-Vivos

Boas histórias de investigação conseguem jogar com a percepção do leitor e do investigador protagonista, garantindo uma resolução que traga surpresa; seja pela escolha de uma reviravolta na trama, seja pela qualidade e elegância com que a resposta para as perguntas nos são fornecidas. Em A Noite dos Mortos-Vivos, o roteirista Bob Langhans leva muito a sério a questão da perplexidade na narrativa, fazendo de toda a sua história um verdadeiro jogo de cartas marcadas pelo vilão. Este é um dos planos mais legais já criados pelo Mancha Negra, que foca na presença de zumbis para assustar o Mickey Mistery, mover a opinião popular em direção a um certo ridículo e, por fim, desacreditar o grande detetive. É um caso muito interessante de gaslight, desta vez aplicado a um personagem que normalmente não cairia nesse tipo de abuso psicológico, justamente porque já lidou com isso algumas vezes e deveria saber identificar os indícios desde cedo. Mas nem os mais preparados conseguem escapar de alguns abusos.

Cada etapa do plano do Mancha garante uma surpresa diferente para o leitor, que também ganha de presente as pistas e as surpresas visuais da arte de Joaquín Cañizares Sanchez. Assim como se constrói, de forma muito sólida — com o Mancha claramente vencendo o Mickey em seu elemento de detetive –, o plano se resolve de forma exemplar, pelo menos até as 4 páginas finais, que me pareceram um pouco atropeladas e repetitivas para alguns pontos da história. Do desenvolvimento, porém, eu gosto de absolutamente tudo: os falsos zumbis, a ideia de que o plano era afundar a reputação do Mickey e o fato de que a Minnie entra como um troféu inesperado, caindo de bandeja nas mãos do vilão. E o gancho que os autores fazem, nos quadros finais, mantém a angústia do “caso não resolvido“, porque o responsável ainda está solto e segue brincando com as forças da lei e da investigação na cidade.

Em tempo: a primeira página da aventura é visual e tematicamente maravilhosa, mostrando o Mickey refletindo sobre uma investigação em andamento (“os diamantes da condessa“), antes de “Minnie” invadir a casa com a história dos zumbis. A arte dá a impressão de um local pouco cuidado, talvez nos subúrbios. Vemos o prédio do detetive de fora, de um ângulo baixo (contra-plongée). Em primeiro plano, algumas latas de lixo e um gato nas sombras. É assustador, criando imediatamente a sensação de um cenário de terror. Outro ponto a ser destacado aqui é a entrevista com o autor de um livro de zumbis. Tudo o que essa entrevista desencadeia é bem estruturado por Bob Langhans, e acaba sendo a principal coluna do grande plano para fazer o Mickey pirar.

A Noite dos Mortos-Vivos (Zombie-slænget / The League of The Zombies) — Dinamarca, 28 de fevereiro de 1994
Código da História: D 91400
Publicação original: Mickey Mysterier nº 1994-03
No Brasil: Minnie (2ª Série) 37
Roteiro: Bob Langhans
Arte: Joaquín Cañizares Sanchez
Capa original: Tello-Team
38 páginas

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A Lente da Verdade

Lançada em outubro de 1994, A Lente da Verdade usa uma boa quantidade de elementos da aventura publicada na Mickey Mysterier em fevereiro daquele ano, que foi A Noite dos Mortos-Vivos. Embora tenha sido escrita por outra pessoa (Janet Gilbert, que aqui, conta com a arte de Miguel Fernandez Martinez), a trama segue um alinhamento editorial facilmente percebido pelo leitor, que vê a recorrência de planos mais inteligentes e maldosos no cerne dos enredos, muito ancorados na nossa realidade, como no caso de calúnia e roubo de posição profissional aqui em cena. Minnie liga para Mickey dizendo que ele precisa levar uns papéis para ela… na cadeia! Ela admite, inclusive, ter assaltado o banco, mas tudo era parte de um combinado com outro jornalista da rede, numa reportagem que pretendia mostrar a segurança frágil de alguns lugares.

Aqui também há uma tentativa de descrédito de um personagem, só que dessa vez, direcionada a Minnie. Ela tem um programa de TV e o fato de ter sido pega assaltando um banco se torna notícia contra ela mesma — o dono da rede explora isso como criador de audiência, inclusive. No texto também há uma reviravolta, mas ela não é tão bem estilizada quanto na trama anterior, apesar de ser muito boa. A discussão do roteiro aqui é super válida para os nossos dias, porque questiona aquilo que a câmera convenientemente mostra. Supostamente, a câmera não mente. Mas em tempos de imagens manipuladas, sem contexto dos fatos acontecidos antes do destaque, ou mesmo ao redor do destaque, sabemos que não é bem assim. Nem sempre o que se vê na câmera é a verdade. Ou pelo menos… não toda a verdade.

A Lente da Verdade (Kameraet lyver aldrig / The Camera Never Lies) — Dinamarca, 10 de outubro de 1994
Código da História: D 93340
Publicação original: Mickey Mysterier 1994-11
No Brasil: Almanaque Disney 291 / Seleção Disney (Encadernada – 2ª Série) 1
Roteiro: Janet Gilbert
Arte: Miguel Fernandez Martinez
Capa original: Peter Härdfeldt
26 páginas

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