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Crítica | Mil e Uma Tentativas de Se Tornar um Oceano + Febre 40º

por Davi Lima
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Febre 40º

O curta metragem Mil e Uma Tentativas de Se Tornar um Oceano tem um título que beira ao literal, como um tiro aleatório entre o macroscópico e o microscópico, com imagens e vídeos de movimentos mimicamente aquáticos, que a água pode fazer, para tematiza uma denúncia contra a poluição. A obsessão pelo ritmo em ondas, como algo rápido que freia e acelera de novo, é até previsível quando se atenta os conceitos das imagens ao movimento oceânico e a batida de velocidade que o curta vai permutando. Mesmo com esse experimento, se a diretora parece mostrar como a tentativa de ser o oceano é a fuga, e como a tentativa parece o único caminho num mundo acelerado e que não se ouve no campo de velocidade, ela também se conforta em produzir seu cinema como a própria tentativa: um som inaudível. Febre 40º

A apresentação de uma pintura em formação, em que a cineasta escolhe usar o momento de créditos para continuar mostrando a construção da pintura com a tinta se espalhando no quadro, invoca a ideia de tentativa, pois não mostra o quadro pronto, assim como curta nunca define a denúncia. Wang Yuhan coloca o tentar como a própria denúncia de exposição de que não se consegue falar, que não se consegue ver mais oceano e a matéria que vem dele ou que se torna ele na relação de movimento aquático. A narrativa percorre entre o biótico e o abiótico, especialmente usufruindo da tecnologia industrial como força de imagem na relação com a poluição e movimento, como se afetasse o oceano e sugasse seus movimentos para produzir novas formas de detalhismo construtor de matéria. Então, a matéria maior, o oceano, o grande oceano, fica sem voz, em que a matéria construída ocupa tudo. Por isso a ideia de se tornar oceano, como os vídeos de crianças brincando na piscina, nessa relação com natureza aquática, mesmo com cloro. Mas infelizmente o curta tateia essas ideias, como uma repetição, se firmando como uma grande tentativa sem progresso ou regresso.

Assim, a experiência mais forte do curta seja de como a tentativa de fato é vazia em sua essência, ao menos quando ela tenta ser a própria linguagem final. A variação do conceito da tentativa é abrangente, e por isso mesmo montar vídeos em aceleração como tentativas de movimento e tentativa de denúncia para mostrar como a tentativa tem sido a única arma em meio ao afogamento da voz do oceano, também parece dizer que não há outra matéria além da água, em que até mesmo a água tem ar.

Mil e Uma Tentativas de Se Tornar um Oceano (One Thousand and one attempts to  become  an ocean) – França, China, 2021
Direção: Wang Yuhan
Roteiro: Wang Yuhan
Elenco: muitos vídeos de macroscópico e microscópico.
Duração: 12 minutos

Febre 40º


A diretora Natalia Reis no seu curta-metragem chamado Febre 40º ordena o erótico e o pornô em uma diferenciação entre abordagens que se equilibram entre o desejo e a carne. Para essa diferenciação, para formar o equilíbrio e até colocar em evidência esse exercício da diretora a interface tecnológica, a representação dos pulsos cerebrais e dos dispositivos tecnológicos de fibras, o clássico software e hardware com um cérebro emulado por toda a tela preta de nervuras brancas. Isso é a navegação de um espectador por uma experiência cinematográfica do tesão conceitual. Não tem sexo explícito porque é a imagem de calor que mostra a volúpia corporal e os preparativos sexuais são as explicações fraseais na tela, não o efeito do contato progressivo, fazendo um outdoor de atenção para dizer experimentalmente o que é o tesão.

Uma obra conceitual como Febre 40º, que realmente se constrói de partes bem firmadas para formar um todo que em si diferencia as partes como envolvimento harmônico a se demonstrar, como uma febre que vai se expondo como uma temática sexual usa imagens de calor e pulsos de brilho visual que emulam tecnologia e espasmos que surgem de uma convulsão febril quando se chega a graus exorbitantes de temperatura, acalentam atenção e efetivam uma recompensa que varia bastante a partir do trato da interface explícita ou implícita do curta. Ou seja, quando Natália Reis coloca um diálogo no início do seu filme como um diálogo de computador e sobrepõe imagens variadas de cenas de sexo por imagens de calor com representações de hadware e software ela chama a atenção junto com as frases de powerpoint indicando uma apresentação de um espetáculo, ela também busca entregar simultaneamente ao percurso do curta a sensação celestial do tesão, o que implica bastante em como os conceitos eróticos e pornográficos se diferenciam e como a base de passagens dessa diferenciação se porta. Qual fio condutor disso tudo? Ele é aparente ou invisível? 

A partir dessas perguntas que o cinema experimental da diretora ganha respostas positivas, negativas e mistas, no caso para mim um tom mais positivo, já que a brincadeira séria entre erotismo e pornografia exige nem ser cru demais, nem ser apaixonante demais, como se a narrativa entendesse que o sexo é algo muito especial de fato, não ordinário como suas interfaces variadas. É a limítrofe que preserva a música tocada no curta como sensação e atenção, algo como razão e emoção o tempo todo. E é por isso também que é difícil medir até onde vai esse experimento febril da obra, mas com certeza ela aumenta a temperatura cerebral, isso sim.

Febre 40º (Febre 40º) – Brasil, 2021
Direção: Natália Reis
Roteiro: Natalia Reis
Elenco: um cérebro bem desmontado
Duração: 7 minutos

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