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Crítica | “Mind Of Mine” – Zayn

por Handerson Ornelas
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“Nunca houve espaço para que eu pudesse experimentar criativamente na banda. Se eu cantasse um refrão ou verso que fosse um pouquinho R&B ou eu mesmo, ele seria regravado umas 50 vezes até que ficasse um refrão bem pop, genérico pra caramba, para poder ser usado.”

Zayn após a saída do One Direction

Não é de hoje que boybands se separam e membros decidem seguir carreira solo. Isso acontece por motivos que vão desde brigas ou a busca pelo estrelato (ver seu nome em destaque ao invés do nome de um grupo é sempre uma tentação) até a busca por liberdade criativa. Justin Timberlake e seu NSYNC, Beyoncé e sua Destiny’s Child, Ricky Martin e seu Menudo. O novo artista a sair dessa safra é Zayn, ex-membro do One Direction que abandonou a banda atrás de maior liberdade artística.

Visto as polêmicas declarações do artista inseridas no início desse texto, é seguro ter uma curiosidade de como ele se sairia em carreira solo. Não convêm aqui discutir o som de seu antigo grupo, mas a partir do momento que Zayn se pronuncia de tal forma, é esperado, no mínimo, um trabalho sério e “compromissado” vindo dele. Bem, com base em Mind Of Mine, seu debut, podemos dizer que o jovem consegue cumprir isso.

Como padrinho em seu início de jornada, Zayn escolheu Malay, o principal produtor do álbum e nome por trás de alguns destaques do R&B moderno, como Channel Orange do Frank Ocean e Evolver do John Legend. E Malay imprimi certamente uma marca gigantesca em Mind Of Mine, o disco segue totalmente seu estilo (certo momento de iT’s YoU não se surpreenda se tiver impressão de estar ouvindo Frank Ocean) e, principalmente, entrega um trabalho coeso como obra, longe dos ‘álbuns recortes’ que vem sendo lançados recentemente.

Mind Of Mine segue na linha tradicional do neo-soul recente, transita entre um R&B dançante com pegada eletrônica (IucOzAdE e BeFoUr) – algo que pode soar apenas um flerte, mas que também tem momentos mais escrachados, como em LIKE I WOULD – e baladas de teor mais melancólico (BLUE e fOoL fOr YoU). A voz de Zayn é digna de nota aqui. Seu timbre está longe de ser o mais diferenciado do mercado, mas é interessante como é afinado e sabe brilhantemente modular sua voz e entregar uma interpretação sem exageros, com bons momentos introspectivos, como BRIGHT e dRuNk. O refrão de PILLOWTALK talvez seja a única exceção da regra, feito pra mostrar o alcance vocal de Zayn e, de quebra, soar como uma sábia escolha de single.

A maior ressalva a ser feita é a falta de alguma canção que tire o ouvinte da zona de conforto, aquela típica faixa que te impressiona e sempre te faz voltar a ela. Tal fato é ofuscado quando se percebe que o álbum, como um todo, se sai muito bem, sem que sequer uma canção impeça o disco de fluir. É verdade, também, que as letras – as vezes excessivamente razoáveis – nos impedem de embarcar na vida pessoal do artista (Zayn poderia oferecer algo além de contos de amor não correspondido), mas a organização geral do disco evita que isso seja um problema maior.

Mind of Mine marca um ótimo balanço de tentativa de adentrar o mainstream e a essência de uma boa obra de R&B. Deixa a desejar apenas em alguns aspectos criativos, mas demonstra Zayn como uma curiosa revelação para o futuro do neo-soul, com grande ajuda, claro, da produção de Malay. No fim, o garoto tatuado na capa do disco reflete a figura que o cantor tenta passar: o íDoLo tEeN qUe cReSceU.

Mind Of Mine
Artista: Zayn
País: Inglaterra
Lançamento: 25 de março de 2016
Gravadora: RCA
Estilo: R&B, Pop

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