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Crítica | Miss Simpatia 2 – Armada e Poderosa

por Leonardo Campos
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No amplo sistema americano de produção cinematográfica, filmes que alcançam bom sucesso financeiro geralmente ganham continuações logo que o primeiro exemplar de uma franquia é lançada e cativa a crítica e público. Miss Simpatia, lançado em 2000, resgatou a carreira de Sandra Bullock que, na época, atravessava uma crise, dando-lhe a oportunidade de demonstrar o seu talento cômico em uma narrativa que também fez o seu diferencial ao investir no que hoje chamamos de girl power. A comédia de ação tinha romance, música pop, piadas divertidíssimas que criticavam os padrões estabelecidos por concursos de beleza e ainda um ótimo elenco de apoio, o que inclui Michael Caine, Benjamin Bratt, Candice Bergen, dentre outros.

Já no caso de Miss Simpatia 2 – Armada e Poderosa, temos novos rostos, tais como Regina King e Treat Williams, além do texto de Marc Lawrence, roteirista que trabalhou em diversas parceiras com Bullock no final da década de 1990 e nos primeiros anos após a virada do século. Há também um novo cenário, Las Vegas, espaço ideal para a discussão acerca das frivolidades das vidas que por lá circulam, envoltas numa redoma de artificialidade. Ainda assim, com todos esses elementos favoráveis, a continuação comprovou uma teoria com tom de hipótese que circula o meio cinéfilo há eras: as sequências, inferiores, iguais ou superiores ao “original”? Neste caso, o superlativo de inferioridade é gritante, pois além de não conseguir extrair do enredo o mesmo brilho do antecessor, a trama é cheia de conveniências absurdas e com piadas fracas.

Para uma comédia, o público e a crítica levam para si a máxima “rir é o melhor remédio”, algo que não pode ser encontrado ao conferirmos as piadas expostas no roteiro. O texto trava constantemente, as cenas que eram pra fazer rir acabam se mostrando constrangedoras, pois há também um forte problema de ritmo e conectividade entre os personagens e suas ações arbitrárias. O leitor, então, pode se perguntar: Miss Simpatia 2 – Armada e Poderosa é completamente descartável? A resposta imediata é não. Sandra Bullock continua linda e radiante em seu personagem, mas a atriz não consegue operar milagres diante do material que lhe é entregue para trabalhar. Como produtora, Bullock teve participação mais ativa na produção, mas isso não foi suficiente para que enxergasse o que de fato funcionava ou não.

Vamos, então, ao enredo. Gracie Hart (Bullock) conseguiu conter o ataque terrorista no filme anterior e salvou a vida de muitas pessoas no concurso de Miss Estados Unidos, além de ter reafirmado a sua competência enquanto policial diante do FBI, haja vista as motivações que a levaram ao disfarce e infiltração para investigar o que tinha de podre nos bastidores do evento. Ela agora, no entanto, é uma celebridade. Talvez Miss Simpatia 3 fosse uma proposta interessante para descobrir como lidar com as questões na era da cibercultura e dos aplicativos mais disseminados em nossos costumes cotidianos, mas a sequência em questão dificilmente seria cogitada depois do segundo filme opaco e sem um impulso de magnetismo do antecessor.

Voltemos. Ela agora é famosa e seu rosto reconhecido pelas ruas. Numa nova ação com a sua equipe, infiltrada para resolver um assalto à banco, o disfarce de Gracie é exposto e as coisas não saem como o combinado. A agente agora precisa fazer uma escolha: tornar-se uma figura a escrever relatórios policiais ou pode se transformar na “cara do FBI”, proposta midiática que tem como ideia, investir numa visão mais glamourosa da vida de uma agente. Isso requer programas de TV e entrevistas em outros meios de comunicação. Quem surge para ser sua nova parceira é Sam Fuller (Regina King), personagem extremamente masculinizada, representação do estereótipo da mulher durona que a própria Gracie desconstruiu em Miss Simpatia. Os erros e acertos da dupla, juntamente com o uso de situações patéticas para extrair o riso: eis os combustíveis para a trajetória do filme ao longo de seus longos 115 minutos.

Sob a direção de John Pasquin, acompanhamos a transformação do roteiro de Marc Lawrence numa trajetória audiovisual que flerta com comédia e ação. Gracie assume a sua função RP para o FBI, mas também precisa salvar mais uma vez a amiga Cheryl (Heather Burns) e Stan Fields (William Shatner), ambos sequestrados por um misterioso criminoso interessado em colocar a vida da dupla em perigo, mais uma vez. Assim, Gracie e Sam vão atravessar a cidade em muitas aventuras, algo que inclui um bar gay e o uso de roupas bem emplumadas para um disfarce bem específico. Se funciona? Não. É tudo muito forçado e encenado, tal como os comportamentos criticados pela trama e seu espaço cênico, isto é, Las Vegas, tratada como o território da representação cabal das ilusões, ambiente captado pela direção de fotografia de Peter Menzies Jr., profissional responsável por captar as imagens acompanhadas pela trilha sonora de John Van Targeren, melhor que o desempenho da textura percussiva do anterior.

O design de produção possui menos trabalho que o habitual, pois Maher Ahmad tem como função gerenciar um setor que já traz a própria cidade e seus pontos cheios de luz e vida própria, como já dito, um cenário próprio para as questões de Miss Simpatia 2 – Armada e Poderosa, um acerto, deve dizer, nos figurinos de Deena Appel e na maquiagem de Robin Beauchesne, responsáveis por deixar Sandra Bullock e os demais membros do elenco deslumbrantes em para a encenação. Ademais, Collins (Treat Williams) e Joel (Deadrich Boder) são subaproveitados e de maneira bem forçada, o esquema clichê da dupla que dá errado quase o filme todo, mas no final resolve se unir funciona mal, pois o roteiro não deixa espaço para que esse contato evolua adequadamente. Em suma, uma comédia equivocada, condenada ao fracasso desde o seu projeto, pois, desde que anunciada, na leitura da sinopse, sabíamos que não havia muita coisa a ser contada no desenvolvimento da saga da agente mais carismática e bela do FBI.

Miss Simpatia 2 – Armada e Poderosa (Miss Congeniality 2 – Armed and Fabulous) — Estados Unidos, 2005
Direção: John Pasquin
Roteiro: Marc Lawrence
Elenco: Sandra Bullock, William Shatner, Regina King, Abraham Benrubi, Diedrich Bader, Enrique Murciano, Heather Burns, Nick Offerman
Duração: 115 min.

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