Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Mister No – Especial Vol. 5: Zulus!

Crítica | Mister No – Especial Vol. 5: Zulus!

por Luiz Santiago
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Quando eu vi a capa e o título dessa aventura pela primeira vez achei, no mínimo, estranho. Ver Mister No fora do Brasil ou de algum lugar da América do Sul causa esse impacto nos leitores que ainda estão engatinhando na leitura das HQs do personagem. Minha estranheza, no entanto, foi apenas em relação à mudança geográfica, não um pré-conceito em relação à história. Só o fato de ver esse personagem numa aventura com os zulus me deixou muitíssimo curioso… até que o tico-e-teco bateu e eu comecei a fazer as contas. As datas simplesmente não batiam.

O recurso narrativo de Guido Nolitta aqui não tem, em nossos dias, um impacto tão grande assim; afinal, temos um bom número de exemplos onde o foco da trama era “apenas um sonho“. Virou um clichê, é verdade (e já era um em 1990!). Mas toda vez que um clichê é bem utilizado, o resultado é no mínimo satisfatório. Em Zulus!, o leitor não se sente enganado em nenhum momento porque o autor deixa clara a entrada do protagonista na realidade do século XIX (Jerry Drake tem uma insolação e desmaia) e também reafirma as muitas impossibilidades dessas coisas todas estarem acontecendo “de fato“. Não se trata de um subterfúgio oculto e, talvez por isso, a gente consiga aproveitar muito mais o que a trama tem para nos oferecer.

A história começa com Mister No na África do Sul, em companhia de uma pesquisadora que procura ali elementos sobre a Batalha de Isandhlwana (1879), o primeiro grande combate da Guerra Anglo-Zulu que terminou com vitória britânica e com o fim da nação zulu independente. A ligação entre o presente de Mister No e sua colocação nesse momento do passado é feita de forma muito fluída e, como já disse, sem tentar enganar o leitor. Gosto muito da conversa de Jerry com sua companheira de viagem e principalmente da alegoria que Nolitta utiliza aqui para representar o “espírito do horror da guerra“. Achei genial a presença do General Custer se disfarçando, adotando diferentes nomes e sendo o cabeça de enfrentamentos absurdos, resultando em verdadeiros massacres numa guerra.

Durante a leitura dessa edição de Mister No Especial lembrei-me de uma outra história da Editora Bonelli (CEPIM, à época) que também falava dos zulus, a ótima O Homem da Zululândia, escrita e desenhada por Gino D’Antonio. É interessante como a editora manteve uma mensagem forte e bem construída sobre o que a guerra pode causar e o que faz com a alma dos homens. Nessa história temos até uma aberta crítica ao colonialismo europeu, tendo inclusive uma dose de autocrítica para o protagonista, cuja nação representa a alma do neocolonialismo. São essas camadas profundas que fazem histórias que seriam “apenas uma boa porradaria” tornarem-se veículos de reflexão sobre uma porção de assuntos. Mais um grande acerto da série Especial de Mister No.

Speciale Mister No #5: Zulu! (Itália, junho de 1990)
Publicação original:
 Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora 85 (Mister No – Especial Nº4, 2019)
Roteiro: Guido Nolitta
Arte: Roberto Diso
Capa: Roberto Diso
148 páginas

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