Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Mister No – Especial Vol. 7: Aventura em Manaus

Crítica | Mister No – Especial Vol. 7: Aventura em Manaus

por Luiz Santiago
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Aventura em Manaus é uma história metalinguística de uma maneira bastante criativa. Ela explora o desejo de uma criação artística relevante, realista e duradoura por parte de um escritor e desenhista chamado James Newman, americano milionário que chega à cidade de Manaus em busca das mais absurdas estripulias aventureiras, com o intuito de viver intensamente a vida e depois transportar essas experiências para as páginas dos quadrinhos. Uma HQ direta e constantemente citada aqui é Terry e os Piratas, de Milton Caniff, mas também encontraremos referências visuais a Popeye, Yellow Kid, Mickey e Mandrake, o Mágico, este último, servindo de ponte cômica para o encerramento da aventura.

O roteiro de Guido Nolitta nesta edição está bastante cru, fazendo jus à atmosfera que o Sr. Newman cria em torno de si. Seus passos em Manaus espanta de imediato Mister No, que estava louco para ganhar uma grana com o turista, mas acaba é sendo contratado para guiar uma expedição a barco pela Floresta Amazônica, colocando o ávido Newman em contato com a natureza selvagem e com todos os perigos e desconfortos que ela pode oferecer. O leitor percebe que algo não vai dar certo no meio de todo esse desejo, e o rumo que Nolitta dá à história é bastante incisivo ao criticar o pensamento de Newman, de que “para escrever com realismo sobre alguma coisa é preciso tê-la vivido“.

Diante dessa crítica, Nolitta se permite ser cruel com o personagem, frustrando a grande viagem de descobertas e fazendo com que ele tenha contato com aquilo que de pior pode ter numa cidade como Manaus. É uma crueldade dramática interessante e merecida, porque Newman não tem respeito pela sua vida e nem pela vida dos outros. Ele está cego por um pensamento de “vivência da realidade exótica” que, na verdade, é um tipo de suicídio planejado, já que toda a prudência é abandonada, com ele chegando até a dar carona para um traficante de armas… tudo para “apimentar” a viagem pela floresta. De todos os números da série Mister No Especial, acho que este foi o mais intenso em termos de construção de um único personagem, com todos os seus dilemas e características. Por outro lado, acho que foi justamente esse ponto de destaque que fez com que eu me aproximasse um pouco menos da trama como um todo.

Deslocando-se pouco pela geografia local e com um modo quase irônico de apresentar o “conflito” que se apresenta para o personagem, o roteiro acaba entregando uma ação mais concentrada, comedida, de certa forma “simples demais” para os padrões a que estamos acostumados nos Especiais de Mister No. E sim, eu entendo perfeitamente a motivação para esse tipo de enredo nessa história específica, mas, para mim, é o tipo de enredo-armadilha: paradoxalmente funciona muito bem de um lado e justamente por conta de alguns desses ingredientes de bom funcionamento é que perde pontos em outro aspecto. Todavia, isto é apenas um detalhe geral, porque a história é verdadeiramente muito boa e este sétimo Especial da série não decepciona, mostrando-nos como a falta de limites para se atingir um determinado tipo de experiência para fins artísticos pode acabar muito mal… e para muitas pessoas.

Speciale Mister No #7: Avventura a Manaus (Itália, julho de 1992)
Publicação original:
 Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora 85 (Mister No – Especial Nº6, abril de 2021)
Roteiro: Guido Nolitta
Arte: Roberto Diso
Capa: Roberto Diso
146 páginas

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