Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Mister No – Especial Vol. 9: Perseguição Implacável

Crítica | Mister No – Especial Vol. 9: Perseguição Implacável

Mister No recém saído da Segunda Guerra.

por Luiz Santiago
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Perseguição Implacável (ou Hienas, em tradução literal do título original) é uma aventura muito importante de Mister No. O texto de abertura do volume, escrito por Michele Masiero, dá conta de algumas histórias anteriores do personagem que falaram sobre o seu passado, mostrando os “pontos cegos” que ainda temos na linha do tempo de Mister No e as oportunidades ainda muito interessantes para aventuras futuras. Aqui, estamos em 1945, com Jerry Drake recém retornado da guerra. Ele também acabou de fugir do hospital militar, com uma missão para cumprir. Seu colega de internação, Mark Hollister, confiou-lhe um envelope contendo algo muito importante que deve ser entregue nas mãos de um certo advogado no Oeste. A viagem é feita de maneira intrigante, começando com uma briga de Mister No em um vagão vazio de trem e terminando com uma reviravolta que consegue aquecer de verdade o nosso coração.

O texto de Alberto Ongaro e Luigi Mignacco é capaz de criar tensão em cada fase da viagem do protagonista, que por se passar em território americano, ter uma forte linha de abordagem ligada a justiça social e ajuda a quem necessita, e por ter indígenas envolvidos, me lembrou um pouco de outras histórias da Bonelli com ambientação similar. É bacana ver um Mister No mais jovem, com um comportamento bem mais impulsivo e encontrando-se pela primeira vez com algumas pessoas e situações que definitivamente fariam parte de sua vida futura. O indígena que ele defende e de quem fica amigo é um personagem incrível, assim como a história que está sendo narrada e que os autores fazem questão de chamar a atenção para as enormes coincidências que, mesmo sendo raras, podem acontecer como um “capricho do destino“.

Esse é um daqueles casos exemplares em que elencar coisas impossíveis não diminui ou atrapalha a história. Alguns autores fazem isso de forma desleixada, cavando um Deus Ex Machina ou encontrando saídas fáceis diante das muitas surpresas da vida. O problema é a forma como isso é feito. Na presente história, por exemplo, o texto deixa claro que está ciente do “absurdo” da coisa, mas lança um olhar objetivo para ela. Trabalha com essas raridades da maneira mais orgânica possível, não apenas endereçando-se ao “elefante na sala”, mas fazendo as ligações necessárias, criando pontes entre personagens e situações que só fazem sentido em uma narrativa onde existe um indígena que é neto de um xamã e que herdou muita coisa dos dons divinatórios do velho, algo reforçado após o traumatismo craniano que sofreu na guerra.

A ganância de uma determinada pessoa e a tentativa desse indivíduo e de seu grupo de criminosos agir de modo a colocar a culpa nos indígenas ou esperando que o racismo os ajude a se safar do ato me fez rememorar muitos momentos de Mágico Vento e até de Saguaro, tendo uma resolução que flerta, de alguma forma, com o futuro do personagem, num caráter mais humano, familiar, coletivo e cômico. Eu sei que esta não é a tônica de absolutamente todas as aventuras de Mister No no Brasil, e isso desde muito cedo (o arco iniciado em O Último Cangaceiro que o diga), mas o espírito geral das tramas com o personagem em nossas terras apontam para resoluções que indicam muito fortemente a esperança de tempos melhores, algo muito positivo para o futuro, após ou apesar dos muitos problemas atravessados até ali. Exatamente o que temos em Perseguição Implacável. Um final feliz muito bem-vindo.

Mister No – Especial Vol. 9: Perseguição Implacável (Le Iene) — Itália, março de 1995
Publicação original:
 Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora 85 (Mister No – Especial Nº8, agosto de 2022)
Roteiro: Alberto Ongaro, Luigi Mignacco
Arte: Giuseppe Viglioglia
Capa: Roberto Diso
130 páginas

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