Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Mister No & Martin Mystère – Especial Vol. 8: Fuga de Skynet

Crítica | Mister No & Martin Mystère – Especial Vol. 8: Fuga de Skynet

Aliens na Amazônia.

por Luiz Santiago
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Mister No cercou, por algum tempo e sem muito compromisso, o Universo de Martin Mystère. Ele teve uma breve aparição no arco A Vingança de Rá, foi citado como o piloto que levou De Leon para cima e para baixo no arco O Homem Que Descobriu a Europa e, tempos depois, de forma bem mais interessante e relevante, apareceu no arco A Reencarnação de Annabel Lee. Desta forma, Fuga de Skynet acabou sendo a realização final de um “antigo sonho” dos leitores; a oficialização de uma interação entre esses dois exploradores da editora Bonelli. Aqui, eles não se cruzam por acaso nem ficam apenas algumas cenas juntos. Trata-se de uma história longa onde um procura o outro por motivos profissionais e vivem, juntos, uma aventura aos moldes das narrativas neuróticas de ETs dos anos 1950, com participação do governo americano, dos Homens de Negro e de forças que querem encobrir a existência desses seres para a população.

Concebida por Guido Nolitta e Alfredo Castelli, os criadores de ambos os personagens, esta é uma aventura que abraça sem nenhum tipo de vergonha o espírito dos anos 50 em relação aos avistamentos celestes, ou seja, a toda onda de teorias (da conspiração ou não) sobre a presença de alienígenas no planeta Terra, especialmente a partir do final da década de 1940. Há também uma relação direta (literal e estética) com o cinema B de ficção científica e terror espacial. Algumas pessoas reclamam dessa história dizendo que o texto não avança e que é muito vergonhoso e clichê (no sentido negativo do termo), argumento do qual discordo imensamente. Como disse mais acima, a intenção do texto é olhar para o passado, para um tipo de abordagem feita às “histórias de ETs” num momento diferente de nossa História, com uma cadência mais inocente e direcionada a problemas típicos da Guerra Fria e das sociedades, como um todo, em meados do século XX. E por que, isso?

Porque uma das linhas cômicas do quadrinho é o destaque para a diferença de idade entre Jerry Drake e Martin Mystère, logo, a diferença de pensamento, postura diante do perigo e maneira de encarar as coisas acabam sendo abraçadas também pelo estilo de escrita, no caso, pendendo para “a época de Mister No“. Em um breve flashback, vemos como um acontecimento na vida de Mister No (a origem de tudo, na verdade) aparece em uma notícia de jornal, que é colecionada por Martin Mystère, ainda criança. O recorte de jornal é a primeira notícia de um álbum que ele cria sobre “grandes mistérios“, flertando com a sua jornada futura como “Detetive do Impossível”. Quanto ao clichê, é um fato. A história é totalmente ancorada em clichês típicos de aventuras com extraterrestres, mas não o tipo ruim de clichê (exceto no finalzinho). Vendo este roteiro como uma homenagem a uma época específica, o clichê torna-se o grande cimento da trama, uma estrutura confortável e conhecida, mas bem trabalhada, de algo que já vimos tantas vezes antes.

Eu só não gosto como as coisas dentro da nave são escaladas na reta final, e vejo que a motivação do alien aqui é apenas jogada para impulsionar o problema dos mocinhos. Dada a simplicidade absurda da intenção do vilão (ele quer dominar a humanidade), cabia ao roteiro dar um pouco mais de detalhes sobre a raça e suas funções, a fim de incrementar a participação e presença no conflito. A partida, ao final da edição, foi uma boa escolha dos autores, muito melhor do que a destruição do alien pelos humanos. Com essa resolução, abre-se a porta para futuros retornos dessa raça à Terra e marca-se a superioridade dela sobre os habitantes da Terra. Dessa conclusão do conflito, o texto pula para uma relaxada conversa final entre os protagonistas (aliás, é muito bom ver Diana com uma boa presença em cena, dizendo e fazendo coisas relevantes) e Esse-Esse, que não acredita no que ouve. O espírito de camaradagem entre os personagens é o grande destaque, e a conversa sobre a diferença de idade, com suas provocações e com a exposição do lado positivo da coisa termina a trama numa nota alegre e muito convidativa. Eu leria uma série inteira de aventuras desse Mister No mais velho ao lado de Martin Mystère, Java e Diana!

Mister No & Martin Mystère – Fuga da Skynet (Itália, julho de 1993)
Publicação original:
 Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Editora 85 (Mister No – Especial Nº7, agosto de 2022)
Roteiro: Guido Nolitta, Alfredo Castelli
Arte: Domenico Di Vitto, Stefano Di Vitto
Capa: Roberto Diso
146 páginas

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