Home QuadrinhosArco Crítica | Mister No – Vols. 6 e 7: O Homem da Guyana e Tambores na Selva

Crítica | Mister No – Vols. 6 e 7: O Homem da Guyana e Tambores na Selva

Desenterrando um passado.

por Luiz Santiago
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Depois de uma aventura no Amazonas e outra na Bahia (dois lugares que seriam muito visitados no decorrer dessa série), Mister No atravessa a fronteira do Brasil e entra na Guyana Francesa levando um grupo de europeus endinheirados e com suspeitos pedidos de discrição. Esses indivíduos queriam encontrar alguém no território francês da América do Sul sem que o governo local soubesse que eles estavam no país. Desde os primeiros momentos, o roteiro de Guido Nolitta nos dá material de sobra para que suspeitemos dos contratantes de Mister No. Não é normal pessoas com tanto dinheiro quererem entrar incógnitas em um país apenas para fazer turismo inocente. E é claro que essa suspeita negativa que temos deles acaba se mostrando acertada. Tinha coisa sendo tramada ali.

A ideia de um grupo de mafiosos franceses virem até a América e sequestrar um antigo condenado a cumprir pena na Ilha do Diabo (parte das chamadas “Ilhas da Salvação”. Até 1946, foi uma colônia penal francesa onde os presos considerados mais perigosos cumpriam pena) é boa, mas confesso que minou consideravelmente a qualidade da trama para mim. Talvez num outro título, com outro protagonista, esse tipo de motivo funcionasse bem, mas com Mister No, eu simplesmente não consegui engolir bem. Isolada, como eu disse, a ideia é boa — porque flerta com o polar, que é o noir francês. Ela só parece perdida aplicada nesse cenário geográfico. Ou é isso, ou o problema está na forma como o roteiro expõe a problemática para o leitor. Seja o que for, o efeito negativo, para mim, acabou sendo o mesmo.

Também ficou meio bagunçada a presença de indígenas e de negros bosquímanos da Guyana, vivendo escondidos na parte da Amazônia que cobre o território francês. É verdade que existem bosquímanos e indígenas ali, mas nenhum dos dois grupos são bem trabalhados nessa aventura, especialmente os negros, tratados como exóticos. Mister No termina defendendo-os do ataque dos racistas europeus, mas a presença de mais esse grupo social só serviu para preencher o texto, aumentando o número de páginas com conflitos relacionados ao contato deles com homens brancos. Parte das cenas de briga entre Jerry Drake e os bosquímanos é muito boa, e o roteiro consegue pelo menos criar tensão com tantos novos personagens, mas é só.

Quando eu achei que o arco apenas terminaria de forma alegre e simples, fechando simpaticamente essa desventura que Mister No procura esquecer com dança e bebida, Guido Nolitta inventa de adicionar um componente romântico ligado à superproteção de Julien Remy em relação à sua filha Anouk. Não é nada incomum para a época, mas novamente, esse tipo de machismo revestido de obrigação institucional é quem assume toda a responsabilidade dos problemas envolvendo o ex-presidiário: primeiro com sua irmã, e agora, possivelmente, com a filha. E o que era para ser apenas um final simples e alegre, acabou se tornando um final cômico e romanticamente patético. Talvez pareça que eu tive uma impressão mais negativa do que positiva sobre a história. Garanto que não foi isso. Este é um bom arco, sem coisas positivas que chamem absurdamente a atenção. Contudo, a quantidade de coisas deslocadas que o leitor encontra aqui é bem grande, de forma que é impossível não apontá-las e se incomodar fortemente com elas.

Mister No – Vols. 6 e 7: O Homem da Guyana e Tambores na Selva (L’uomo della Guyana / Tamburi nella giungla) — Itália, novembro e dezembro de 1975
Roteiro: Guido Nolitta
Arte: Roberto Diso
Capa: Gallieno Ferri
183 páginas

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