Home Diversos Crítica | O Homem dos Óculos Escuros (Mistérios do 87º Distrito #2), de Ed McBain

Crítica | O Homem dos Óculos Escuros (Mistérios do 87º Distrito #2), de Ed McBain

por Luiz Santiago
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Os eventos de O Homem dos Óculos Escuros (O Assaltante Educado, pela Nova Fronteira, aqui no Brasil) se passam logo após a saída do detetive Steve Carella, com sua esposa, para a lua-de-mel, como vimos ao fim de Ódio Mortal. Aqui, mais do que no volume de abertura da série Os Mistérios do 87º Distrito, temos a exploração de diferentes grupos de policiais do DP agindo em missões diversas e dando para o leitor distintas noções de comportamento, conversas e periculosidade de tudo o que esses profissionais enfrentam no dia a dia de trabalho.

Desta vez, Ed McBain foca em um assaltante que está atacando mulheres na cidade (fictícia) de Isola. O caso cai nas mãos do detetive Hal Willis, que precisa ajustar o seu método no decorrer da trama, já que parece cada vez mais difícil chegar ao ladrão. O autor manipula as emoções dos leitores gerando grande expectativa para cada ação do bandido, pois são precedidas por uma narração que sugere um olhar de abuso sexual, e logo imaginamos que outro tipo de violência entrará em cena. E esta é uma outra notável diferença entre The Mugger e Cop Hater: desta vez, temos duas interessantes linhas de ação guiadas por diferentes policiais.

A segunda trama já demora um pouco mais para ganhar corpo. Nela, acompanhamos um guarda da patrulha da cidade, chamado Bert Kling, que inesperadamente se envolve numa caça a um assassino, algo fora de seu poder de atuação profissional (ele não é um detetive) e também do momento trabalhista em que se encontra: afastado temporariamente por ordem médica, para recuperar-se de um tiro no ombro.

Com habilidade, o autor alterna as duas histórias e faz com que cada um desses blocos tenham a sua própria dinâmica de desenvolvimento, às vezes intercalando a espinha dorsal da narrativa com subtramas cômicas (o caso do ladrão de gatos é inicialmente hilário e logo depois se torna macabro) e com diálogos ou interrogatórios maravilhosos, seguindo o exemplo daquilo que vimos no livro anterior. A atmosfera, todavia, é muito diferente. Se em Ódio Mortal víamos notas comparativas com o noir, aqui em O Homem dos Óculos Escuros vemos notas comparativas com um gênero que ganharia forma no cinema italiano na década seguinte, o giallo — mas vale lembrar que a Mondadori já publicava livros gialli desde 1929, sendo este, inclusive, adicionado na grade da editora, nos anos 70 –, especialmente pela forma como explora as personagens femininas.

Um dos temas abordados nos dois arcos é sobre o método utilizado por investigadores para pegarem criminosos, e sobre como pessoas com diferentes treinamentos e ocupações podem adicionar estratégias benéficas a essa prática. Claro que o arco de Bert Kling é o que melhor representa isso, mas o autor faz questão de brincar com essa questão também no arco dos detetives experientes. Mostrando as faces da violência no subúrbio da cidade, McBain faz uma interessante escalada, partindo de denúncias simples de roubo pelas ruas (a primeira denúncia é absolutamente engraçada) e desaguando numa situação bem mais complexa, uma trajetória que envolve assassinato, conflito de gerações, dificuldade de aproximação, primeiro encontro pavoroso e um encerramento fraterno e bonito. Uma pitada de felicidade após uma intensa e bruta busca.

O Homem dos Óculos Escuros (The Mugger) — EUA, 1956
Série:
Os Mistérios do 87º Distrito / 87º DP (87th Precinct) – Livro 2
Autor: Ed McBain
Editora original: Permabooks
No Brasil: Nova Fronteira
242 páginas

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