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Crítica | O Vigarista (Mistérios do 87º Distrito #4), de Ed McBain

por Luiz Santiago
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O pensamento de Ed McBain neste quarto livro da série Os Mistérios do 87º Distrito foi de dar maior destaque para Teddy Carella, esposa do “detetive herói” que o autor teve que “reviver” no final de O Traficante do Vício. No pós-escrito que ele posteriormente fez para O Vigarista, percebemos o quanto queria inserir cada vez mais o lado particular dos detetives do 87º DP na série, mas não necessariamente a partir de um mesmo ponto de vista. Se nos livros anteriores Steve Carella acabou ganhando um farto espaço de ação, aqui é Teddy quem recebe a carinhosa atenção do autor, protagonizado uma das sequências mais interessantes e angustiantes do livro, embora a resolução que a envolve seja similar (até demais) com aquela que vimos em Ódio Mortal.

O início da trama tem um cruel toque cômico, com o narrador falando sobre os “jeitos de ganhar a vida” nos Estados Unidos e, já na primeira cena, o relato de uma jovem negra contando para a polícia um golpe que ela sofreu na rua por um suposto jovem e belo pastor. Com o tema do livro sendo colocado na nossa frente já de início, ficamos imaginando como a escalada de toda a situação iria se desenvolver — e já víramos em O Homem dos Óculos Escuros a capacidade do autor em tornar situações criminosas aparentemente simples em coisas verdadeiramente grandiosas e intensas. Em O Vigarista, podemos dizer que algo um tanto parecido acontece, só que com um outro direcionamento, a presença mais familiar, mais íntima dos detetives e policiais envolvidos.

A escalada da história acontece já no segundo bloco narrativo, quando uma jovem é encontrada morta, flutuando no rio. O divertido (e macabro) processo de investigação é colocado em andamento e, a partir daí, o enredo entrelaça essas duas correntes dramáticas: a do golpista (ou dos golpistas) e a do assassino. É claro que pelo peso da trama relacionada ao assassinato de mulheres (logo descobrem que elas foram jogadas no rio depois de morrem envenenadas por arsênico), vemos esse lado ganhando grande peso e assumindo a principal linha de atenção do livro, mas pouco a pouco o enredo cria pontes entre essa parte e a parte dos golpistas, unindo as duas ações criminosas em uma única, no encerramento da obra.

Eu comentei, mais acima, sobre a interessante presença de Teddy nesse quarto volume da série. Em dado momento da história, a presença de tatuagens na mão das vítimas encontradas no rio chamam a atenção de Steve Carella, e ele, juntamente com a esposa, vão até um chinês tatuador, na Chinatown da cidade. É nesse espaço que uma ótima sequência de tensão e perseguição se arma na parte final de O Vigarista, deixando-nos preocupados pelo fato de Teddy não poder falar. Mesmo assim, ela arruma diversas maneiras de avisar à polícia e ao marido o que está acontecendo, e assume, por assim dizer, a investigação em andamento, perseguindo o infame assassino e salvando a nova vítima do homem.

A já citada semelhança entre o encerramento desse livro com o de Ódio Mortal (refiro-me especificamente à relação entre Teddy e o criminoso) incomoda um pouquinho, mas não é nada grave. O livro é de fato muito bom e mantém, já na “segunda fase de contrato” conseguido por Ed McBain com o seu editor, o nível de inteligência e boas surpresas na história, fazendo o leitor querer pular imediatamente para a próxima aventura do 87º Distrito.

O Vigarista (The Con Man) — EUA, 1957
Série:
Os Mistérios do 87º Distrito / 87º DP (87th Precinct) – Livro 4
Autor: Ed McBain
No Brasil: Editora Globo (1988)
216 páginas

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