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Crítica | A Recompensa do Assassino (Mistérios do 87º Distrito #6), de Ed McBain

O destino de um chantagista.

por Luiz Santiago
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Poderia ser 1937“… É com essa memória que Ed McBain nos localiza já na frase de abertura de A Recompensa do Assassino, ao narrar as condições do espaço cênico onde ocorre o assassinato de um homem chamado Sy Kramer. A cena é, em tudo, cinematográfica, no melhor estilo noir de ser. O autor cita as roupas dos homens e das mulheres, as cores, os chapéus, as ocupações e o pensamento da população da cidade, sempre envolvida com problemas pessoais que, algumas vezes, podem colocar em andamento uma cadeira intensa de acontecimentos, exatamente o que temos neste 6º livro da série Mistérios do 87º Distrito.

O whodunit, portanto, será em torno da investigação da morte de Kramer, e quem assume a investigação aqui é a dupla Steve Carella e Cotton Hawes, este último, jovem detetive que apareceu na série em A Escolha do Assassino e assumiu o papel de “herói”, a pedido do editor de McBain. Na visão dos anos 1950, contudo, o conceito é o mais estereotipado possível para um tipo clássico de masculinidade: homem bonito, solteiro, cheio de valentia e que sai com todas as mulheres que conseguir encontrar. Considerando esse aspecto, ler algumas passagens com Cotton ao longo da obra deixa o leitor contemporâneo com algumas expressões de desconforto diante de alguns momentos.

A divisão da investigação entre os dois detetives nos faz lembrar um pouco a dinâmica do primeiro livro da saga (Ódio Mortal), já que nos volumes seguintes vimos uma exploração maior de grupos coadjuvantes dentro o 87º Distrito, algo que não ocorre aqui. A narrativa é bem mais centrada e, talvez por isso, o leitor consegue focar bem mais nos mínimos detalhes em torno dos suspeitos, levantando boas perguntas sobre quem possivelmente poderia ter matado — ou mandado matar — o chantagista Kramer: a bela esposa de um político? Um ex condenado cansado de uma “vida de operário” e interessado em “voltar ao ramo“? Um rico executivo? Ou a pessoa misteriosa que tem pago altas somas a Kramer nos últimos meses?

O autor deixa um grande número de perigos encadeados para o final do livro, onde acontece também aquilo que diminui a qualidade da obra, justamente nos capítulos que se destinam a resolver o assassinato. Eu sempre tive bastante resistência a tramas que colocam os próprios bandidos explicando “todo o plano” para o mocinho, como ocorre frequentemente nos quadrinhos e nos filmes, por exemplo. Aqui, depois de uma tensa jornada onde tudo parecia perdido para os detetives, chegamos a uma situação difícil e ao mesmo tempo promissora onde autor toma a iniciativa de resolver tudo, não procurando uma alternativa ou uma forma de entrega mais orgânica e inteligente para as respostas tão almejadas.

A Recompensa do Assassino mostra um outro lado de Isola, o lado das pessoas que buscam por um sonho mas são esmagadas pelo tempo ou pelas condições econômicas à sua volta; mostra como atos do passado podem assombrar alguém no presente e também como pessoas em desespero podem agir de maneira violenta, tendo como justificativa pessoal o fato de que “está fazendo o que está fazendo apenas para se proteger“, para manter a sua própria integridade. É um livro que segue o modelo de narrativa rápida e interessante do autor, mas com o final mais fraco que a gente teve na série até o momento, muito por conta do jeito como as respostas foram fornecidas para o público.

Recompensa do Assassino (Killer’s Payoff) — EUA, 1958
Edição lida para esta crítica:
Allison & Busby (2009)
Série:
Os Mistérios do 87º Distrito / 87º DP (87th Precinct) – Livro 6
Autor: Ed McBain
311 páginas

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