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Crítica | Moby Dick (Quadrinhos, 2008)

Uma básica tradução em HQ do romance de Herman Melville.

por Leonardo Campos
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Um naufrágio de grandes proporções. Uma tragédia que ficou marcada para sempre, eternizada pelo romance Moby Dick, de Herman Melville, ponto de partida desta tradução veiculada em nosso país pela Companhia Editora Nacional. O livro em questão é uma história fascinante. De difícil leitura, fracionada em sua hibridez de tipologias narrativas, no entanto, mescla com resultados surpreendentes. É uma aventura sobre a relação intrínseca entre o homem e a natureza, adornada por múltiplos elementos simbólicos. As interpretações, também, são múltiplas. Há conexões de Melville com Homero, a possibilidade de debate sobre o romance transpor para a ficção as preocupações do autor com o crescimento do regime democrático nos Estados Unidos. A cor, da baleia, por exemplo, um animal raríssimo e branco, reflete outra gama de simbologias, associadas aos debates sobre questões religiosas, sociais e políticas presentes no desenvolvimento dos personagens e no passo a passo da ação. No geral, um clássico absoluto diluído na cultura de massas e constantemente mencionado, adaptado, traduzido, como é o caso desta história em quadrinhos publicada aqui no Brasil em 2008.

Ao longo de suas 48 páginas, Moby Dick traz uma estrutura assinada por Sophie Furse no roteiro, com ilustrações de Penko Gelev, material traduzido por Santiago Nazarian. Com um plano geral e uma citação do suntuoso Paraíso Perdido, de John Milton, totalmente adequado para a proposta do que é narrado, acompanhamos logo em seguida a apresentação dos personagens. Com uma estrutura que envolve as imagens dissociadas do texto, dispostos logo abaixo, nós leitores temos aqui uma escolha não muito interessante, mas que não estraga a jornada. Só lamentamos pela escrita muito grande, texto demais para uma história que precisa se revelar por meios visuais. Assim, funciona em muitas passagens como um resumo ilustrado, perdendo o potencial que o campo das histórias em quadrinhos tem para transformar em imagens o texto literário. Um recurso que ajuda e informa é o emprego das notas de rodapé, uma presença constante.

A aventura, como sabemos, retrata a saga de Ismael no baleeiro Pequod, uma embarcação regida pelo caricato Capitão Ahab, um homem que sai de Nantucket com a promessa de trazer o cobiçado óleo de baleia para lubrificar as máquinas industriais e iluminar os postes da cidade, mas acaba revelando a sua grande façanha quando o percurso já está avançado. Sua meta é caçar Moby Dick, a furiosa e misteriosa baleia cachalote branca que numa ocasião anterior, ceifou a sua pena e o deixou com profundo desejo de vingança. Nesta trajetória, se discute códigos de civilização na dinâmica do arpoador Queequeg, personagem que ganha aqui alguns flashbacks para explicitação de sua biografia, algo pouco comum nas adaptações em quadrinhos. O Capitão Ahab também ganha um, bastante elucidativo, antes que o vejamos nas profundezas, tragado pelo cetáceo que encerra a sua presença complexa “em cena”.

Ademais, no desfecho, temos a famosa passagem de Ismael, boiando no caixão criado para seu amigo Queequeg, à espera da salvação que chega do horizonte, representado por um plano geral eficiente. Além da história visual em si, Moby Dick também traz um posfácio com vida e obra de Herman Melville, curto, mas repleto de passagens elucidativas, bem interessantes. Há uma linha do tempo da biografia do escritor, detalhes sobre a economia baleeira e informações sobre o legado do livro. É uma parte curta, mas com notas interessantíssimas, observações que não constam em outras publicações. Em linhas gerais, é uma tradução bacana de uma das mais famosas obras literárias mundiais, mas é aquela opção que ficaria fora do topo, sabe? No cânone das HQS, esta com certeza ocuparia um dos últimos lugares da lista, não pela falta de qualidade estética ou narrativa, mas por ser a mais burocrática, focada em se apresentar com um resumo do romance para os leitores, ideal como material didático para uma eficiente jornada de cunho pedagógico, sem ter, no entanto, traços mais elaborados ou perspectiva mais ousada.

Moby Dick (Março de 2008)
Roteiro: Sophie Furse
Tradução: Santiago Nazarian
Arte: Penko Gelev
Editora: Companhia Editora Nacional
Páginas: 48

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