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Crítica | Moby Dick (Quadrinhos, 2010)

Uma eficiente tradução do romance de Herman Melville em quadrinhos.

por Leonardo Campos
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Ao escrever Moby Dick e publicar em 1851, o escritor Herman Melville se deparou com o desgosto do público e da crítica de sua época, receptores que se decepcionaram com a estrutura demasiadamente complexa do romance, algo que ia à contramão dos interesses de quem esperava mais aventura e menos filosofia associada ao descritivo cenário da economia baleeira de Nantucket, reduto dos Estados Unidos que vivia da caça destes animais para aquecimento dos negócios rentáveis, mas nada sustentáveis, de uma era peculiar da formação de um país ainda em processo de transformação, com poucos anos de demarcação de sua independência. De acordo com dados de sua biografia, o idealizador deste volumoso projeto literário era, desde cedo, fascinado por palavras. Adorava contar histórias. Tendo sido retirado da educação formal por questões financeiras, adentrou na vida dos marinheiros de sua região e, com toda essa experiência, teve material suficiente para mergulhar na caudalosa gestão de Moby Dick, um romance conhecido por seu tamanho colossal, bem como sua complexidade.

Ao atuar como grumete de um navio baleeiro, ele passou a conhecer as histórias de quem navegava pelos Mares do Sul. Assim, Herman Melville teve uma vida cheia de drama e muita ação. Participou de um motim por divisão de lucros numa dessas viagens de caça e, com toda bagagem adquirida, tornou-se um escritor talentoso, mas não reconhecido em sua época, como tantos que hoje integram o “cânone literário”. E, uma coisa vai puxando a outra e chegamos satisfeitos, ao que o pessoal da editora Farol HQ nos entregou em formato de história em quadrinhos. Envolvente, dinâmica e muito bem desenhada, a tradução intersemiótica Moby Dick, de 2010, toma o ponto de partida respeitosamente, condensando as suas principais passagens e destacando para o leitor os tópicos delineados na abertura desta análise.

Aqui, temos altas doses de aventura, desenvolvimento de personagens com bons diálogos e expressões, suspense em torno da presença da baleia, em destaque apenas no desfecho, uso de cores e traços que mesclam diversos gêneros narrativos, tal como o romance, além da inserção de tensões entre os tripulantes do Pequod, envoltos numa redoma de perigo e estresse, causados pela privação de comida, perigos da proposta do Capitão Ahab, dentre outros. Em linhas gerais, é uma HQ baseada num romance escrito por quem viveu motins em navios, atravessou mares de incertezas, viveu diante de lendas de uma época muito própria e, interessado em contar as suas histórias, apostou todas as suas fichas na composição de Moby Dick, um romance feito para ser narrado nos suportes que ainda nem existiam em sua época de publicação. Sim, a história é um material em potencial para cinema, televisão, quadrinhos, etc.

Veiculada por aqui em março de 2010, esta edição apresenta os personagens principais, põe o não civilizado Queequeg em algum destaque em seu desenvolvimento, contempla o Capitão Ahab e a baleia branca com os mesmos planos triunfantes que tomam uma página inteira quando ambas as figuras aparecem, isto é, com muita expressividade. A publicação conta com uma excelente alternância entre planos abertos e fechados, exaltando o tom da aventura marítima nas passagens mais abertas e refletindo as tensões dos personagens nos quadros mais fechados. Dentre as situações do livro que ganham destaque por aqui, podemos observar o encontro do Pequod com o marinheiro em busca de seu filho, homem que solicita ajuda, mas tem o seu clamor negado por Ahab em estado de fúria, desesperado pelo encontro com Moby Dick, interessado em ceifar violentamente a baleia que lhe deixou com traumas e uma perna a menos. Ademais, a HQ é uma tradução de Érico Assis e Marcelo Adreani de Almeida para o material de Lance Stalhberg, desenhado por Lalit Kumar Sigh, idealizadores deste belíssimo projeto.

Moby Dick (Brasil, Março de 2010)
Roteiro: Lance Stalbergh
Tradução: Érico Assis, Marcelo Adreani
Arte: Lalit Kumar Sigh
Editora: Farol HQ
Páginas: 85

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