Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | Mônica #94: A Festa do Dia da Jumenta Voadora! (2014)

Crítica | Mônica #94: A Festa do Dia da Jumenta Voadora! (2014)

por Luiz Santiago
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Nesta terceira aventura completa da Jumenta Voadora no Universo de Mauricio de Sousa, temos uma pequena queda de qualidade geral na trama em comparação às suas outras duas histórias, a saber, A Noite das Garotas (estreia da personagem, em 2004) e Lendas da Jumenta Voadora (2007). Muito provavelmente isso tem a ver com o título da edição (publicada na revista #94 da Mônica, em outubro de 2014), que fala de um dia de festa para essa fantasminha protetora dos tapauéres. O título sugere mais informações sobre a personagem, indicando um texto que fosse focar na mitologia da Jumenta, a fim de dar suporte à própria existência da festa. Mas o roteiro se deixa levar por diversas outras brincadeiras e coloca essas informações ou até a presença da personagem-título um pouco de lado.

Inicialmente temos apenas Cebolinha e Xaveco na festa, em Sococó da Ema, mas depois aparecem Magali e Mônica para completar a bagunça. Quando isso acontece, o enredo vai pouco a pouco se distanciando da Jumenta, preenchendo esse espaço com as brigas entre os amigos e, principalmente, com o fato de a Magali querer devorar a festa inteira, terminando a história como um “balão humano de gases“. Até o momento em que o pai do Xaveco serve de voz adulta para contextualizar, desmistificar ou desacreditar um pouco a ~verdadeira história~ da Jumenta, temos viva a intenção de colher novas informações. Mas aí a comilança da Magali, que tem pouca relação com a festa da Jumenta (é só uma condição fixa da personagem adaptada ao fato de que serviam comida à vontade ali) ganha verdadeiro espaço e tudo se volta para esse tema.

O que o roteiro discute de muito interessante aqui é algo que todo ano eu vejo aparecendo nas redes sociais. A Festa da Jumenta Voadora é comemorada no dia 31 de outubro, mesmo dia do Halloween. Em um certo momento da história, Cebolinha diz para o Xaveco que a festa brasileira está “roubando” os símbolos do Dia das Bruxas, e a pequena briga entre eles nos faz pensar no embate que alguns criam entre a data americana e a comemoração do Dia do Saci aqui no Brasil, que também é no dia 31 de outubro. Pelo menos nesse ponto há um bloco bem fechadinho de ideias. Agora, que faltou a essência das coisas relacionadas à Jumenta, na construção da história, ah faltou.

Na sequência à história principal temos três pequenos enredos que utilizam pouca ou nenhuma palavra, começando por uma história bem bonitinha, de uma página, onde vemos alguns membros da Turma dançando em suas casas, ao seu modo, com as coisas que gostam ao redor. Daí passamos para Tina: A Festa, que é aquela aventura onde diversas coisas ruins vão acontecendo em sequência a um personagem, mas que, no final, esse personagem consegue ressignificar as coisas ruins e terminar o dia numa boa nota. É exatamente o que a Tina faz nessa jornada de cão em que ela está, onde não consegue participar da baladinha que planejou, mas não termina o dia sem festa.

E para fechar a tríade, temos outra história de uma página, Turma da Mônica: O Culpado, onde nos aguarda uma boa surpresa a respeito das coelhadas da Mônica, que passa reto pelo cebolinha e vai espancar um outro menino pelos desenhos espalhados pelo bairro. Cumplicidade também é digna de coelhadas!

O tom d revista fica mais sombrio e muitíssimo mais criativo com Turma do Penadinho: Um Conto de Fadas do Outro Mundo, que reúne de maneira engraçada e metalinguística uma porção de contos de fadas bastante populares para contar as aventuras de uma certa princesinha fantasma em um reino muito distante. É uma trama que usa o fato de todos estarem mortos como um bom caminho para situações de humor e faz com que certas situações comuns da vida — como as brigas de casal — também ganhem seu lugar na narrativa, basicamente mostrando o que acontece depois do “viveram felizes para sempre“.

Turma da Mônica: Os Desenhos é praticamente uma continuação de O Culpado, trazendo um desenvolvimento narrativo bem similar ao daquela história, com a Mônica encontrando vários desenhos dela pela rua. A diferença aqui é o elemento cômico do final. Dessa vez, o roteiro não elencou uma correria ou uma porradaria, mas sim algo inesperado: Mônica considera que, talvez, o Cebolinha a desenha “daquele jeito” simplesmente porque ele não sabe desenhar. E bem… ela não está de todo errada, concordam? Na mesma linha de histórias parcialmente silenciosas temos a curtinha Mônica: Olhando, que é uma verdadeira gracinha de página, com a Mônica retribuindo ao leitor toda a atenção e todos os olhares que dirigirmos a ela ao longo dos anos.

Chico Bento: Histórias de Pescador é, junto à aventura da Turma do Penadinho e à da Mônica com o Do Contra, a minha favorita de toda a revista. Nela, Chico Bento, Zé Lelé e Zé da Roça conversam sobre uma pescaria que não deu certo para o Chico e o Lelé, enquanto o Zé da Roça morre de rir, claramente espantado com o tamanho do peixe que os meninos dizem que tentaram pegar. É aquela trama onde o riso vem pela legitimação de algo que todo mundo considera como mentira, como exagero. E ainda ganha pontos por trabalhar todo esse drama utilizando apenas a linguagem visual.

Duas histórias bem curtas completam a cota de enredos simples que essa edição nos apresenta. A primeira delas é Mônica e Magali: Diferenças, uma ode às amizades, à convivência entre pessoas que possuem grande diferença entre si. Uma daquelas histórias cuja proposta entendemos ser cada vez mais difícil no mundo real. Já a segunda, intitulada Mônica: Medo de Quê? é uma trama boba, sem muito nexo, envolvendo uma vassoura, a Mônica e, ao final, uma bruxa. Certamente a que eu menos gostei da edição, perdendo até para a tirinha vertical na última página, que volta ao tema dos desenhos do Cebolinha espalhados pelo bairro.

A última narrativa longa dessa edição é Mônica e Do Contra: Brincando de Faz de Contra!, onde temos a dentuça ao lado de um dos personagens mais naturalmente divertidos criados pelo Mauricio de Sousa. O garoto está brincando sozinho, parado no meio do nada e com a mão segurando algo, como se estivesse em pé no metrô. Sem querer, a Mônica é puxada para a brincadeira do Do Contra, fingindo que tudo aquilo estava acontecendo, servindo de “voz do leitor” na história. O mais legal é como o Do Contra leva tudo muito a sério, ficando bravo quando a Mônica não “reage certo” ou quase matando a menina do coração em alguns pontos mais intensos da trajetória. Uma história que exige imaginação e muita “seriedade infantil”!

Mônica #94: A Festa do Dia da Jumenta Voadora! (Brasil, outubro de 2014)
Editora: Panini
Roteiro: Mauricio de Sousa, Marina Takeda e Sousa, André Simas, Edson Luís Itaborahy, Emerson B. Abreu, Felipe C. Ribeiro, Flávio T. de Jesus, Gerson L. B. Teixeira, João Marcos P. Mendonça, Lancast Mota, Luciana Luppe, Marcelo Barreto de Lacerda, Paulo R. Back, Roberto Munhoz, Robson B. Lacerda, Rogério Mascarenhas 
Arte: Altino O. Lobo, Carlos A. Prereira, Denis Y. Oyafuso, Diego S. A., Emy T. Y. Acosta, Enrique Valdez, Fernando Luís Campos, Jairo Alves dos Santos, Jeane Mestre, Olga M. Ogasawara, Ricardo Roásio, Sidnei L. Salustre, Thiago Vieira
Arte-final: Andrea de Petta, A. Mauricio Sousa Neto, Clarisse Hirabayashi, Cleber Salles, Cristiane Coelhado, Juliana M. de Assis, Kazuo Yamassake, Lilian A. Almeida, Marco Antonio de Oliveira, Marcos Fernando Silva, Reginaldo S. Almeida, Rudinei C. Acosta, Sérgio T. Graciano, Tatiana M. Santos, Thiago Martins, Wagner Bonilla
Cores: Alexandro de Souza, Andréia Moreira Furutani, Miriam S. Tominaga, Sandra Yamassake 
Letras: Carlos Kina, Eliza T. K. B. Lacerda, Juliana Nunes   
84 páginas

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