Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Mônica e a Sua Turma #1 (1970)

Crítica | Mônica e a Sua Turma #1 (1970)

por Luiz Santiago
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Principal personagem criada por Mauricio de Sousa, a Mônica apareceu pela primeira vez, como parte de uma história, numa tirinha do Cebolinha no jornal Folha de S. Paulo, em 3 de março de 1963. Para ela e para todos os outros personagens do Mauricio, haveria ainda um longo caminho de publicações em jornais e mais uma porção de propagandas até que finalmente começassem a aparecer em uma revista mensal.

Licenciados para a Editora Abril (passando, anos depois, para a Globo e depois para a Panini), esses personagens começaram a aparecer mensalmente nas bancas em uma revistinha chamada Mônica e a Sua Turma, cujo primeiro número saiu em maio de 1970. É sobre essa primeira edição que falarei aqui, comentando todas as histórias nela contidas. Na ficha técnica há apenas a citação do Mauricio no roteiro e arte e de Waldyr Igayara na finalização porque foram os únicos que eu consegui encontrar com créditos. No expediente ao final da revistinha não há indicação da equipe criadora, então se vocês tiverem fontes mostrando mais nomes para essa edição, me digam.

Nota: é sempre bom destacar que foi apenas em 2015 — antes tarde do que nunca, né? Mas olha…! — as revistas do Universo de Mauricio de Sousa passaram a creditar os criadores de forma clara, em cada história, não apenas no expediente minúsculo e confuso ao fim das edições. Nesse primeiro número, porém — e não sei até quantas edições daqui para frente — nem esse expediente criativo está exposto.

Na primeira história, intitulada Mônica é Daltônica?, temos um (quase?) gaslight engendrado para derrotar a Mônica, um plano que tinha por objetivo afetar o psicológico da garota, minando a sua autoconfiança. Essa é uma ideia malvadona, engraçada e criativa engendrada não pelo Cebolinha, mas por… Zé Luís! Quem diria, não é mesmo? E olha que funciona muito bem nesse contexto!

A história começa com Cebolinha indo até o local da reunião, uma casa abandonada do bairro, aparentemente em um lugar difícil de achar, pois o troca-letras chega atrasado ao encontro porque não consegue encontrar o caminho até a tal casa. A estrutura aqui não é diferente daquilo que conhecemos de muitas outras tramas com “planos infalíveis” para derrotar a Mônica, independente de quem faz o plano. A surpresa, nesse caso, é o fato de Zé Luís ser a mente por trás de tudo — e o Cebolinha não contesta isso: o Zé é aceito como líder por todos –, isso e o fato de ter um plano muito bom, além de uma sombria graça em sua execução.

Por ser uma história curta, o leitor não consegue pensar muito em grandes desenvolvimentos nem nada do tipo, mas a maneira como cada um dos garotos faz o seu papel para deixar a Mônica achando que estava ficando velha e ia morrer é ao mesmo tempo maldosa e engraçada, levando de maneira bem orgânica para a descoberta da verdade por parte da baixinha. A ação aqui não é tão intensa como teríamos em outras aventuras da personagem. Mas no fim, ela bate em todo mundo, como sempre, e procura reafirmar se realmente consegue enxergar direito as cores. Um ótimo começo de edição.

A segunda história da revista chama-se Bidu e Franjinha: O Cachorro Falante, e tem um argumento bem inteligente, trabalhado inicialmente em duas vias distintas que se unem numa trama só. Primeiro vemos o mágico Marko, que é demitido do teatro por suas “mágicas estranhas”. Pensando em se vingar, ganhar muito dinheiro e comprar o teatro de onde saiu, ele resolve criar um número com um cachorro falante — aparentemente ele tem poder para isso. É aí que vê Bidu dormindo e resolve fazer com que o bicho aprenda a falar.

O segundo caminho da trama se dá com Franjinha, Titi e um outro garoto que eu não reconheci quem é, brincando na rua. Até que Franja joga uma pedra na cartola do mágico Marko, mas acaba acertando a cabeça do infeliz, dando início à confusão que marca toda a história. É muito interessante como as coisas escalam. A gente imagina que o roteiro irá seguir a vingança do mágico e já pensamos no sequestro do Bidu ou algo do tipo, mas não é isso que acontece. O humor peculiar dessa parte da trama se liga ao lado engraçado, malvado, mas muito divertido dos amigos de Franjinha abandonando-o porque “não querem ter problemas com a lei“. E na mesma pegada de uma “possível confusão mental” do protagonista que tivemos em Mônica é Daltônica?, terminamos essa história com o pobre Franja sem entender nada, tentando fazer o Bidu falar. É meio cruel, mas é realmente engraçado.

Em Jotalhão: O Amor da Rita, temos uma historinha triste, mas muito bonitinha e com um humor melancólico, bem mais para adultos do que para crianças, pela forma como é escrito. Nessa trama com a Turma da Mata, Jotalhão está passeando com o Coelho Caolho (chamado pela Rita Najura apenas de “Coelho”) e interrompe a marcha porque não quer “fazer o caminho da ponte“, sabendo que a pobre Rita está esperando por ele ali. A busca da Rita pelo Jotalhão, o amor não correspondido e a presença de Saulvo nessa sopa torna a relação entre os personagens cheia de suspense, pois não sabemos qual será a reação de cada um diante das verdades que precisam encarar. O arranjo final entre Rita e seu pretendente pode até gerar uma baita discussão sobre expectativas e tentativas de transformar seu parceiro em outra pessoa. Como disse, é uma história fantástica, que cabe melhor aos olhares adultos.

Em Cebolinha: O Soro da Invisibilidade, o que parecia ser apenas uma história maluca com o Cebolinha, acabou sendo uma das mais divertidas e, em muitas formas, mais sacanas da revista. Aqui, o cabelinho espetado bebe uma poção, um soro inventado por um cientista e, como o título já indica, acaba ficando invisível (há brincadeiras visuais com O Homem Invisível aqui). A relação do Cebolinha com o Cascão é mais uma vez reafirmada, porque o menino que não gosta de tomar banho fica ao lado do amigo, apesar de toda a estranheza da situação que passa por diversas fases, da surpresa à quase depressão do Cebolinha por estar invisível, atravessando também a fase de querer fazer traquinagens nessa nova condição. O que mais “choca” (pelo ponto de vista contemporâneo) é a página final, quando o Cebolinha, achando que ainda não podia ser visto, tira a roupa todinha na frente da Mônica e é mostrado com a bunda de fora. Para alguns grupos de leitores de hoje, imagino como uma história como essa não deva parecer.

Raposão: A Corrida é mais uma história com a Turma da Mata, agora com o Coelho recebendo o sobrenome de Caolho. É uma releitura muito divertida e muito espertinha (bem do jeitinho brasileiro) da fábula da lebre e a tartaruga. E o término é igualmente bem curioso, não só pela forma sagaz como o Raposão arbitra a corrida, mas pela forma como Tarugo e o próprio Coelho se colocam diante da ideia de disputar um contra o outro. O medo da traição a um amigo e o “jeitinho honesto” que Tarugo encontra para contornar tudo isso deixa a trama cada vez mais legal, até a conclusão já esperada: cheia de porrada.

E a revista termina com Mônica: Cascão Não Quer Sabão. O fedor do menino é sentido pela Mônica de longe. Ela até tenta levá-lo à força para tomar banho, mas o Cascão vence a briga (pasmem!) e sai correndo para casa, “evitando a tragédia”. Até que aparece um vendedor de sabonetes da marca Milava (hehehe), um personagem que dá umas aparências com o Silvio Santos, e a trama passa a se desenvolver a partir daí, pois a empresa oferece milhões para quem tomar 90 banhos e dizer frases de efeito para o marketing do tal sabonete. É uma maneira engraçada de relacionar alguns personagens (Franjinha até inventa um creme impermeabilizante pro Cascão!) e confrontar o menino que não gosta de banho com o seu maior medo. 

Mônica e a Sua Turma (Turma da Mônica) #1 (Brasil, maio de 1970)
Roteiros: Mauricio de Sousa
Arte: Mauricio de Sousa
Arte-final: Waldyr Igayara de Souza
Editora: Editora Abril
68 páginas

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