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Crítica | Monstress – Vol. 5: Warchild

Figuras da guerra.

por Kevin Rick
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Eu falei na crítica do volume anterior que Marjorie Liu estava preparando um terreno fértil para a guerra, e assim se sucedeu em Warchild, uma história sobre diferentes ângulos e elementos de um grande conflito. Inicialmente, é interessante como a obra é montada ao longo das cinco edições que compõem o quinto volume, iniciando com pequenos flashbacks da batalha em Constantine quando Maika ainda era uma criança, e logo depois partindo para a atual guerra. A estrutura entre passado e presente tão cara na obra e seus temas intimamente ligados à história deste universo nos dão o contexto para essa montagem de ambos os conflitos, passando a sensação de repetição e violência cíclica, além de certas doses de pessimismo e melancolia que acompanham narrativas de guerra.

Este elemento é o primeiro indicativo da linguagem no restante do volume, passeando por diferentes componentes da batalha, desde a continuação das decisões daqueles no poder, como vimos em A Escolhida, até o combate em si, em toda a pintura medieval e visceral da arte de Sana Takeda. Importante notar como o texto de Liu está melhor cadenciado e menos expositivo nos momentos de preparação, dispondo de uma narrativa política engajante que aborda diversos núcleos e figuras que têm participação na batalha.

De almirante a generais, de reis e rainhas até civis, Liu constrói de maneira aplaudível o cenário e os integrantes da guerra. Existem elementos de tramas palacianas e monárquicas, espionagem, divergências culturais, drama de cortes, lutas medievais, e até um aspecto realista na visão de refugiados e escravos, que dão estofo a uma mitologia que já é extremamente rica, além de prover um leitura extremamente dinâmica e intrigante em torno da politicagem e os dramas violentos de uma batalha deste escopo. Não machuca que Liu tem diálogos afiadíssimos, com um subtexto que vai do preconceito ao idealismo com linhas reflexivas e até filosóficas.

Se tenho algo a reclamar, porém, está na quantidade personagens e núcleos do volume. O mistério circula a obra desde o início, mas confesso que às vezes fico bastante perdido no fio da meada do universo e sua infinidade de indivíduos e raças. O mesmo pode ser dito da diagramação de Takeda para as batalhas, que mesmo sendo visualmente estonteante na sua mistura de fantasia medieval steampunk, parece meio desorientada geograficamente, sem nos dar um sentido completo do combate. No entanto, são reclamações bem leves, pequenos incômodos que não afetam com grande peso o tabuleiro abundante de componentes de Liu, especialmente a maneira enigmática que a autora tem desenvolvido as questões mais alegóricas do lado de Zinn.

Para além da parte macro, as questões mais íntimas relacionadas ao contínuo estudo de personagem de Maika continuam dramaticamente inteligentes, complexas e ambíguas. Vemos não só o passado difícil da protagonista e o escalonamento do seu conflito interno em torno de comer pessoas (mais moralmente cinza impossível), como também diferentes camadas de autoconhecimento e auto-aceitação com a protagonista se abrindo para empatia e ideais, se tornado mais humana ao entender sua raízes arcânicas. Ajuda enormemente que o elenco a seu redor, em especial Corvinn e Kippa (personificação de uma história de fábula infantil), sejam tão bem trabalhados quanto Maika e seu monstrinho de estimação perdido em memórias.

Monstress – Vol. 5: Warchild (Monstress – Vol. 5: Warchild, EUA – 2020)
Contendo: Monstress #19 a 24
Roteiro: Marjorie Liu
Arte: Sana Takeda
Letras: Rus Wooton
Editora original: Image Comics
Páginas: 152

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