Home QuadrinhosArco Crítica | Monstro do Pântano #65 – 70: Regênese (1987)

Crítica | Monstro do Pântano #65 – 70: Regênese (1987)

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Depois da badalada fase de Alan Moore à frente da Saga do Monstro do Pântano (Monstro do Pântano Vol.2), Rick Veitch, que então ilustrava e já tinha escrito uma edição da revista, assumiu o cargo de roteirista oficial, dando início a um arco que começava uma nova caminhada para o Pantanoso, já que Moore deixara a casa completamente arrumada e as pontas narrativas ligadas — porém, com indiretas sobre o futuro –, o que permitia ao novo escritor fazer uma abordagem nova e dentro de seu estilo, sem precisar consertar problemas que não havia criado.

Neste momento, temos o Monstro vivendo com Abby em uma espécie de “casa na árvore dos pântanos” e tudo parece ter voltado ao normal para ambos, sem grandes vilões ou mundos colidindo com as trevas para impedir a felicidade do improvável casal e a aposentadoria precoce do Musguento. Pelo menos por um breve instante.

A edição #65, (Podíamos Estar) Pescando Pérolas faz com que as coisas avancem tendo a base da aposentadoria do Monstro como motor do problema. Em uma breve visita à Mente (espaço-ideário-entidade que concentra as mais antigas e sábias demonstrações da flora na Terra), o Musguento recebe a notícia de que sua ausência do planeta, após os eventos de O Jardim das Delícias Terrenas, moveu as forças de controle do Verde para plantar a semente de um novo Elemental da Terra. E é sob este tablado que o próprio título do arco, Regênese, irá se assentar.

caveira plano critico Regênesecaveira plano critico Regênese

A arte deste arco, também realizada por Rick Veitch e finalizada por Alfredo Alcala, ganha ares de engrandecimento do Verde a partir de conjuntos. Os artistas constantemente representam o Parlamento das Árvores ou transformações naturais de grande porte em sequências que se tornam cada vez mais frequentes à medida que avançamos para o final. Com o excelente trabalho de cores feito por Tatjana Wood, o leitor tem a oportunidade de acompanhar um drama espelhado entre a cidade e o pântano; entre os interiores de casas e escritórios e até à Mente do Verde, todos com diferentes características de cores gerais dos painéis, denotando a passagem do tempo e o caráter do espaço representado, como o Pântano da Chacina ou o refúgio idílico de Alec e Abby.

Há um uso primoroso de páginas duplas, muito mais descritivas e povoadas de informações condensadas do que as que tínhamos na era de Alan Moore no título. Em um primeiro momento o leitor acha estranho que essas páginas ou mesmo a linha central do roteiro não tenham forte pendência para a ficção científica, que era um gênero admirado e sugerido por Veitch na fase anterior. Mas logo entendemos que todo o aparato sci-fi está nas cenas do cotidiano, mostrado em diferentes frentes. Não é exatamente a exposição do gênero, mas a temática está lá.

O existencialismo também é um dos pontos centrais do texto. Em capítulos como Um Estranho no Ninho e A Sabedoria de Solomon, Veitch explora a dualidade moral de qualquer ato que normalmente consideramos muito ruim, problematizando-o no mundo das plantas, falando sobre assassinato com um pouco de Messianismo e lançando mão de simbologias místicas e religiosas, como a excelente viagem de Abby ao Paraíso para encontrar o verdadeiro Alec, cujo final será uma extensa discussão sobre o funcionamento do Verde, sobre o que esta força vital permite ou não e o quanto a Natureza pode ser mortal e nociva para ela mesma e para os homens, principalmente se algo mexe em seu equilíbrio. No final das contas, todo o arco é uma apologia à vida de muitas formas e modos, mas a conclusão a que o autor nos faz chegar não é unicamente filosófica ou poética. Entendemos como essa defesa pode estacionar em medidas extremas como “manter-se vivo a qualquer custo” e não é à toa que uma imagem alucinante de Anton Arcane apareça aqui, em um único quadro, fazendo-nos lembrar que esta ideia já fora vista antes em execução.

parlamento das arvores planoc critico monstro do pantano

Nas três edições finais de Regênese o enredo se torna mais político e há algumas pequenas distrações que não precisavam acontecer, uma marcada pelo o retorno de John Constantine ajudando a identificar o próximo humano com a aura certa para ser o receptáculo do novo Monstro e outra com um caça-mistérios da TV, um apresentador que está à procura do Monstro. É importante deixar claro que nenhuma dessas linhas são ruins, mas a do apresentador é bem fraquinha, se comparada à de Constantine ou aos eventos envolvendo Alec. A partir de Reflexo em Olho Dourado a arte se torna mais grandiosa e ainda mais ligada a conjuntos, trazendo informações sobre como funciona o Parlamento das Árvores, o Comitê Especial e alguns icônicos Elementais do passado.

Nas edições O Renegado (#69) e principalmente em A Vida Secreta das Plantas (#70) temos uma diagramação de página que desafia um pouco o leitor a mudar o padrão normal de acompanhar uma HQ. O formato de longa tira contando coisas diferentes na edição #70, com uma organização de bastidores para a “encarnação” (ou seria “emplantação”? – sic.) da nova semente + o status do Monstro do Pântano, agora como renegado, são o suficiente para deixar o leitor curioso pelo futuro do mundo vegetal. Este é um dos momentos em que tudo corre perigo mas todos ignoram o fato. O título do arco, neste momento, se torna ainda mais irônico e preciso.

Regênese: Monstro do Pântano Vol.2 #65 a 70 (Swamp Thing Vol.2 #65 – 70: Regenesis) — EUA, outubro de 1987 a março de 1988
No Brasil: Monstro do Pântano: Regênese Vol.1 (Panini, 2016)
Roteiro: Rick Veitch
Arte: Rick Veitch (com Brett Ewins na edição #70)
Arte-final: Alfredo Alcala
Cores: Tatjana Wood
Letras: John Costanza
Capas: John Totleben, Rick Veitch, Tom Yeates
Editoria: Karen Berger
164 páginas (encadernado da Panini)

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