Home QuadrinhosArco Crítica | Monstro do Pântano #88 – 92: Sobrevivência do Mais Apto (1989)

Crítica | Monstro do Pântano #88 – 92: Sobrevivência do Mais Apto (1989)

por Luiz Santiago
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No final dos anos 1980, a revista do Monstro do Pântano seguia uma interessante linha narrativa, derivada da saga Invasão!. À época, o roteirista à frente do Pantanoso era Rick Veitch, que vinha guiando de maneira pelo menos interessante uma segunda grande jornada do Monstro pelo Verde (a primeira havia sido criada por Alan Moore), jornada que agora estava fazendo o Avatar regredir cada vez mais no tempo toda vez que impelia sua essência pelo Verde e então renascia em outro lugar. Sob a pena de Veitch, o personagem visitou, nessa ordem, Segunda Guerra Mundial, Primeira Guerra Mundial, Mundo dos Sonhos – tempo indeterminado, 1872; dezembro de 1799 a janeiro de 1800 e século 6 de nossa Era. O próximo renascimento do personagem seria nos últimos momentos de Cristo, antes de sua prisão e durante a crucificação. Porém, a chefia da DC Comics proibiu a publicação desse roteiro (mais detalhes em Irmãos em Armas) e insatisfeito com a censura, o autor se demitiu.

Quem assumiu as rédeas da revista após a crise foi Doug Wheeler, que deu sequência — e finalizou — a linha de viagens do Monstro do Pântano. Nomeado de Sobrevivência do Mais Apto (título traduzido da edição #88: Survival of the Fittest), este arco dá continuidade de forma até que inicialmente interessante para a ideia de regressão plantada (hehehe) pelo autor anterior. Nessa parte do caminho, Wheeler faz o Musguento encontrar-se com guerreiros Cro-Magnon, chegar ao ano 40.000 a.C. e voltar mais ainda, até a Gonduana e a Laurásia, em 500 milhões a.C.. Até o momento, tanto o contato do Pantanoso com um dos ramos passados da nossa espécie quanto as cenas na criação do Parlamento das Árvores (vemos aqui os três pais fundadores, três Elementais que surgiram na seguinte ordem: Yggdrasil, Tuuru e Eyam) são momentos muito bons do arco. Mas a narrativa geral, infelizmente, parece não andar de jeito nenhum.

A primeira coisa que me incomoda aqui é a óbvia repetição dos eventos anteriormente formulados por Alan Moore quando preparou o leitor para a chegada de uma ameaça terrível para a humanidade e o planeta, algo muito similar ao que vimos em O Assassinato dos Corvos. Mas se fosse apenas a semelhança, tudo bem. Em títulos muito longos e reformulados (cada autor, uma Era e cara Era, um olhar para a história inteira do personagem, dinâmica igualmente percebida em Homem Animal) não haveria problema. Contudo, nestas edições, não temos mais nada de interessante fora os pequenos momentos entre o protagonista e seus ancestrais. Do outro lado da abordagem temos a primeira aparição de Tefé Holland, que coincide perfeitamente com o retorno do Monstro do Pântano (seu pai espiritual), resultado de uma chateante e nada criativa “expulsão” dele desde a origem do Parlamento das Árvores até a atualidade.    

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A origem do Parlamento das Árvores: os Pais Fundadores.

Eu gosto bastante da arte do arco, mas não consigo deixar de comparar como essa nova fase se coloca diferente em abordagem visual. Até a aplicação de cores de Tatjana Wood tomou um novo caminho, com uma paleta mais fria, com poucas alterações. Já os desenhos assumiram um caminho não muito distante do que tínhamos no título (Tom YeatesPat BroderickAlfredo Alcala fazem mesmo um bom trabalho), mas são menores os momentos de belas representações do Verde e até mesmo do Monstro. Apesar da qualidade, também é um aspecto aquém daquilo que tínhamos na Swamp Thing anteriormente.

Esta aventura também traz uma maior representação do povo cajun, o que é curioso, mas não faz parte dos meus momentos favoritos da narrativa. Para completar o círculo de retorno do Pantanoso, temos um flerte de Doug Wheeler com o Cristianismo (seria uma forma de ele colocar algo em simpatia a Rick Veitch?) fazendo com que três indivíduos em contato com o Verde fossem até Houma e levassem um presente para a bebê Tefé (o Homem Florônico, o astrônomo Mamadou Ngom e o Xamã Najgarjuk), fazendo as vezes de Reis Magos. E no fim, vem a pior edição do arco, La Terre Qui Disparait, uma narrativa confusa, desnecessária e que apresenta uma óbvia ligação com algo também utilizado por Moore antes e que provavelmente terá uma relação com “O Perigo” previsto: um novo ataque ao Verde e ao planeta por forças gigantescas.

Mesmo com algumas boas ideias, Doug Wheeler não conseguiu manter uma sequência coesa ao longo de todo o arco. Pode eté ser porque ele teve que resolver uma linha dramática que não foi criada por ele, o que é compreensível, mas o impacto negativo fica no leitor. Vamos ver como ele se sai nas próximas edições.

Swamp Thing #88 a 92: Survival of the Fittest —  EUA, setembro de 1989 a fevereiro de 1990
Roteiro: Doug Wheeler
Arte: Tom Yeates, Pat Broderick
Arte-final: Tom Yeates, Alfredo Alcala
Cores: Tatjana Wood
Letras: John Costanza
Capas: John Totleben
Editoria: Karen Berger, Art Young
124 páginas

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