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Crítica | Monstro do Pântano #7 – 13: A Conspiração Leviatã (1973)

por Luiz Santiago
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As edições comentadas neste texto compreendem os números #7 a 13 do primeiro volume da revista Monstro do Pântano (Swamp Thing, Volume 1), publicadas nos Estados Unidos entre dezembro de 1973 e dezembro de 1974.

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#7 – A Noite do Morcego

a noite do morcego plano critico monstro do pantano

A rigor, a história da edição #7 de Monstro do Pântano, Night of the Bat, é uma edição de perseguição. O Pantanoso escapa da cidade-quase-fantasia de A Mecânica do Terror ao lado de um cão, Mutt, que será seu companheiro durante essa edição, e chega a Gotham City, procurando Cable e Abigail. Na cidade do Morcego, o Monstro se encontrará com o misterioso Mr. E. e a perseguição ao Conclave reaparece. Em dado momento da história, fala-se de Ferrett, um dos bandidos responsáveis pelo acidente com a fórmula biorrestauradora de Gênese Sinistra e o roteiro de Len Wein aproveita para marcar novamente o território moral e heroico do Monstro do Pântano.

Para falar a verdade, a edição é bem diferente do que se espera de uma história do Monstro do Pântano. Por conter o Batman e a trama acontecer em “seu território”, o roteiro precisou dar contexto e importância ao Morcegão, muitas vezes deixando o protagonista da revista de lado. Pouca coisa se acrescenta, mas o mistério é mantido e o acontecimento com Mutt, no final da revista, é simplesmente marcante e inesquecível.

Quem ganha realmente muitos pontos é a arte de Bernie Wrightson, que pode parecer estranha quando coloca Bruce Wayne em cena, mas seus desenhos do Batman, de Gotham e dos personagens secundários são maravilhosos; o mesmo vale para os cenários, na minha opinião, um dos pontos mais positivos do desenhista nesta edição.

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#8 – Perigo no Túnel 13

monstro do pantano perigo no tunel 13

The Lurker in Tunnel 13 é uma estranha, porém interessante homenagem de Len Wein à criatura Cthulhu, de H.P. Lovecraft. A história se passa no trânsito do Monstro entre a cidade de Gotham e Perdição, onde chega após perder-se caminhando na neve e encontrando um velho habitante local.

O roteiro começa de forma intrigante e nos deixa curiosos para conhecer o verdadeiro mistério da cidade. Após a edição #7, onde tivemos uma atenção maior ao ambiente urbano de Gotham e seu herói local, voltamos ao mundo das bizarrices e coisas impossíveis característicos das histórias do Monstro do Pântano. E claro, isso é ótimo.

O mistério aqui está na construção da criatura mística-alien-maligna-metafísica chamada M’Nagalah. Desde a chegada do Monstro do Pântano à cidade, Bernie Wrightson caprichou nos quadros com rostos em primeiro plano e pequenas ambientações do espaço — por se tratar de uma cidade encravada nos Apalaches, no Estado da Pensilvânia, Perdição tem uma interessante e isolada geografia, além de uma marcante história — uma característica que ganha excelente figuração no encontro do Monstro do Pântano com a criatura, com destaque para a diagramação inventiva, com quadros menores e pano de fundo cósmico.

O furo da edição vem no discurso da criatura M’Nagalah, que de alguma forma esteve controlando e “incentivando” determinadas coisas no planeta Terra como o início da vida e as guerras, por exemplo. Por serem contraditórias e não terem um motivo primário para tanto, a colocação parece deslocada. Mas a concepção é muito boa. O pai da vida e o pai da morte, vindo de outro universo e aqui manisfestado através de um método ocultista realizado por Abraham Monroe. A possível continuação da história vem com a importância final dada a Jason Monroe, que passa a portar a “coisa”, ou ao menos é assim que entendemos. Definitivamente não é o fim do Deus-Câncer.

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#9 – O Visitante do Espaço

perigo do espaço plano critico monstro do pantano

Esta The Stalker From Beyond pode até ter um início um pouco manco ou estar fora de uma sequência dramática em relação às edições anteriores — o que não é assim tão estranho, porque desde a edição #6, a ligação entre as edições está ficando mais sutil, ao menos até aqui –, mas sem sombra de dúvidas é uma grande história.

Len Wein investe em uma realidade que se fazia muitíssimo presente nos anos 1970, a questão da conquista do espaço. Se o tema foi, na verdade, uma bandeira presente durante toda a Guerra Fria, tendo maior ou menor atenção durante alguns momentos do período, na década de 70 muitas discussões morais e éticas em relação aos aliens dominaram os quadrinhos, o cinema e a literatura de ficção científica ou terror.

Nesta edição, Matthew Cable recebe um chamado do Exército para lidar com um OVNI que caiu na pantanosa região da Louisiana, exatamente no local onde o antigo laboratório de Alec Holland ficava. A edição se divide entre o encontro do Monstro do Pântano e dos humanos com o alien (cuja espécie ou planeta não são nomeados). Tratamentos e relações diferentes são colocados em cada uma dessas partes e, claro, o grande destaque vai para a monstruosa e estranhamente humana relação entre o “visitante do espaço” e o Pantanoso.

O final traz o questionamento do próprio Cable sobre o modo como ele estava tratando ou enxergando o Monstro do Pântano, que então julgava ser o assassino de seu amigo Holland. Claro que desde Monstro na Charneca esse assunto vem sendo colocado em pauta, ganhando novo fôlego em A Noite do Morcego, mas aqui parece ser um verdadeiro divisor de águas. Vejamos o que as futuras edições dirão sobre isso.

* Nota: a arte-final desta revista foi feita por Mike Kaluta, o primeiro artista além de Bernie Wrightson a se envolver com o Monstro do Pântano desde a sua criação. E esta entrada de um artista “de fora do projeto” foi um sintoma do que veríamos na edição seguinte da revista, O Homem que Não Quis Morrer!

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#10 – O Homem Que Não Quis Morrer!

o homem que não quis morrer plano critico monstro do pantano

The Man Who Would Not Die marca a despedida de Bernie Wrightson da arte de Monstro do Pântano, fato que contribuiria para a saída de Len Wein dos roteiros da série, meses depois, porque segundo ele, “já não se divertia tanto fazendo o Monstro sem o Bernie“.

A história aqui tem uma pegada social e histórica bastante forte, misturando os elementos do horror à escravidão dos negros nas plantações de algodão no sul dos Estados Unidos e jogando com a passagem do tempo e a possibilidade de sonho ou realidade para a história. Há alguns momentos em que o leitor chega a se perguntar sobre qual é o verdadeiro significado da trama mas, ao analisá-la bem, percebe-se que Len Wein quis brincar com o sobrenatural e trazer de volta um velho inimigo.

Os Não-Homens, criaturas sintéticas criadas por Anton Arcane, aparecem aqui em perseguição ao Monstro do Pântano, caçada cuja justificativa é o ponto mais fraco do roteiro. Mas passado esse ponto, temos um conto assustador com zumbis negros, um flashback que insere o vilão humano da história e os mocinhos de outro tempo, Auntie Elsbeth Bellum e Black Jubal.

O desfecho da história é claramente aberto à ideia de que no futuro teremos Arcane e seus Não-Homens de volta e também mostra, num quadro à distância, uma outra criatura, uma massa disforme que não sabemos ao certo quem é (talvez Arcane?)…

A arte de Bernie Wrightson, como visto nas seis páginas acima, é um espetáculo à parte. Cores fortes e em belo contraste, traços grandes e fortes, feições duras, excelente trabalho de luz e sombra, sugestão para alguns “pontos cegos” do quadro, etc. Ao lembrarmos de como a criação do Pantanoso aconteceu e vermos como a parceia de Wrightson e Wein ocorreu de Gênese Sinistra até aqui, não é de se espantar que o roteirista tenha se sentido “sozinho” após a saída do amigo, mesmo tendo um grande artista como Nestor Redondo no leme artístico da revista, como veremos a seguir em As Minhocas Gigantes.

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#11 – As Minhocas Gigantes

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Len Wein realizava aqui o seu primeiro roteiro sem a parceria de Bernie Wrightson, trazendo-nos a aventura maluca de Zachary Nail, um cientista que queira preservar a espécie humana em uma um tipo Éden, misturando ficção-científica e horror. O local, construído nos pântanos da Louisiana, coloca Matt Cable, Abigail Arcane e o Monstro do Pântano em contato, ligando-os aos “prisioneiros” do tal cientista e às bizarras minhocas gigantes.

The Conqueror Worms é uma história que facilmente poderia ser atribuída ao universo de Star Trek, porque mistura ciência, maluquices e uma discussão de caráter filosófico sobre a vida, o bem e o mal. Como vimos nas edições anteriores, esse universo do horror amalucado foi um padrão central usado por Len Wein na escrita dos roteiros após A Mecânica do Terror, padrão que trouxe grande estranheza para as histórias mas que funcionou bem na maioria delas.

Este enredo com a minhoconas roxas é o caso mais fraco até agora, mesmo que tenha um excelente início. O autor nos traz uma discussão de identidade pessoal do Monstro, questionando a Deus o motivo pelo qual permitiu que ele vivesse daquele jeito e amaldiçoando sua existência. A arte de Nestor Redondo, com traços mais leves, menor contraste de cores e refiguração da aparência do Monstro do Pântano (que pelo menos aqui perde as raízes dos ombros, embora ganhe nos pés, como se vê em um dos quadros acima), ajuda a dar um ótimo fôlego para o início da história, que passa a perder pontos a partir do momento em que Matt e Abigail chegam ao Éden afundado de Zachary Nail.

O que não funciona é a dinâmica forçada que a trama ganha e as explicações dadas para cada foco narrativo. A colocação das minhocas como um dos seres vivos mais antigos da Terra (precedendo os humanos) e a construção de um Éden sci-fi no meio de um pântano é demais para a sanidade de qualquer um. Nós nos divertimos bastante em alguns momentos da história e Len Wein ainda consegue nos fazer pensar e trocar de lado algumas vezes no decorrer das páginas, mas a avaliação do todo não é assim tão interessante.

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#12 – O Homem Imortal

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A proposta de The Eternity Man é bem interessante, embora trabalhe de maneira nada convincente a questão da viagem no tempo. Milo Mobius, um nobre medieval germânico, se relaciona com uma bruxa e dela rouba o segredo único da imortalidade em plena época de Peste Negra. A bruxa o amaldiçoa a recomeçar a viver toda vez que fosse morto. Ele não teria paz, viveria os mesmos erros e só conseguiria morrer de verdade se um amigo o matasse. Baita maldição, essa.

Nesse ponto dos relacionamentos, o roteiro de Wein funciona a contento. Vemos o “recrutamento” de Bolt, o homem que teve a amada morta nos eventos de As Minhocas Gigantes e culpava o Monstro do Pântano pelo acontecido. Cable e Abigail o convence de que o Pantanoso não tem nada com aquilo e que Bolt deveria ajudar a achar o Monstro. Algo bom pode vir daí, vamos esperar.

O final da aventura traz a clara possibilidade do retorno de Milo, que sabemos não ter morrido porque a gema da viagem do tempo não levou o Monstro ou o próprio Milo para outro período da História. Resta saber como isso pode aparecer no futuro.

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#13 – A Conspiração Leviatã

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The Leviathan Conspiracy é a última aventura do Monstro do Pântano escrita por Len Wein, que deixou o título por não estar muito contente em criar histórias para o personagem após a saída de seu amigo Bernie Wrightson dos desenhos.

Lançada em dezembro de 1974, a revista quase apresenta um reboot para o Monstro, apresentando um caminho mais confortável para David Michelinie, que assumiria os roteiros da revista a partir da edição seguinte. A história dá sequência à longa caçada de Cable, Abby e agora Bolt ao Monstro do Pântano. Um projeto científico é colocado em cena e claro, a já esperada trama de “exploração e entendimento do ser estranho” entra em cena. Mas essa questão funciona bem na revista e nos traz a marcante revelação, em um determinado encontro no laboratório: I… AM… ALEC… HOLLAND…

O final, com todo o trama do funeral, a saída do túmulo, a recusa do Monstro em se ajuntar a Cable e os outros amigos e a reflexão emotiva em relação a Linda são momentos que trazem à tona a humanidade ainda presente no Pantanoso e deixa a ponta solta para uma nova fase, o momento onde a caçada entre amigos terminou e o Monstro enfim reconheceu o pântano como o seu lar.
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Monstro do Pântano Vol.1 – #7 a 13 (Swamp Thing, Volume 1) – EUA, 1973 — 1974
Lançamento no Brasil:
 Editora Ebal, março a setembro de 1980
Roteiro: Len Wein
Arte: Bernie Wrightson, Nestor Redondo
Arte-final: Bernie Wrightson, Mike Kaluta, Nestor Redondo
Editoria: Joe Orlando
Páginas: 24 (cada número)

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