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Crítica | Mortal Kombat Legends: A Batalha dos Reinos

por Ritter Fan
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Quase um ano e meio depois de A Vingança de Scorpion, com direito ao lançamento do reboot live-action nesse meio tempo, a franquia animada Mortal Kombat Legends continua de onde parou com A Batalha dos Reinos que, como o nome indica, tem escopo mais ambicioso e grandioso. Infelizmente, porém, junto com essa tentativa de lidar com mais, mais e mais, não veio também um roteiro que acompanhasse essa ambição, levando a um longa que atira para todos os lados e, no afã de satisfazer todo mundo, erra todos os seus alvos.

Na verdade minto, pois talvez os fãs da série de games que se contentam apenas com o básico do básico, ou seja, que queiram ver somente fatalities ultraviolentos com a correspondente alta litragem sanguínea, ou aqueles que são partidários da tese bobalhona que “filme para entreter não precisa ser Cidadão Kane” (quantas vezes já não li isso…) pode ser que encontrem o que querem em A Batalha dos Reinos. Mas a grande verdade é que, como longa-metragem, o que a Warner Animation entrega é um paupérrimo divertimento que não tem a menor preocupação em explorar linhas narrativas, por mais simples que elas possam ser, ou mesmo tornar os sacrifícios dos personagens algo minimamente relacionável, para além da conexão que possamos ter com meras buchas de canhão.

Apesar de todos os seus problemas, A Vingança de Scorpion tinha, na trágica história de seu personagem titular, uma boa âncora narrativa que mantinha o longa com seus dois pés no chão mesmo considerando toda a premissa fantástica e sobrenatural. Havia pelo menos um personagem cuja jornada valia acompanhar, mesmo que isso tenha sacrificado o tempo de torneio, que, lógico, é o coração da franquia. A Batalha dos Reinos ensaia seguir por esse caminho ao mostrar, em seu prelúdio, como o bebê Liu Kang (Jordan Rodrigues) foi parar sob a proteção de Lord Raiden (Dave B. Mitchell), mas logo começa a abrir diversas frentes narrativas além da invasão em andamento das hordas de Shao Khan (Fred Tatasciore) que são impedidas pelos lutadores do longa anterior somados a Kurtis Stryker (Matthew Mercer) cuja presença não é sequer contextualizada em sequências que parecem ter sido copiadas, coladas e, claro, pioradas, da Batalha de Helm’s Deep de As Duas Torres. Com isso, temos Smoke (também Mercer) treinando Kuai Liang (Bayardo De Murguia), o irmão de Sub-Zero, os dois sendo atacados por versões robóticas de seus colegas, Shao Khan logo paralisando os ataques para propor um último torneio Mortal Kombat, Scorpion novamente fugindo do inferno depois que Shinnok (Robin Atkin Downes) diz que ele se fundiu a uma importante chave e assim por diante.

É, literalmente, um roteiro que não sabe se limitar a fazer o “normal” e contar uma história principal com outra paralela, com o texto de Jeremy Adams, na verdade, não conseguindo sequer eleger uma história que podemos realmente chamar de principal. Afinal, o torneio em si nada mais é do que uma sucessão de trechos de lutas. Sim, claro que é bacana, mas não o suficiente, ver os fatalities em efeito de raio-x, com corpos sendo dilacerados no processo, só que tudo é corrido demais, o que retira qualquer impacto que a pancadaria possa ter. E o pior é que as mortes só acontecem em relação a gente que não pisou no ringue antes, algo que fica evidente a partir da primeira que acontece, com personagens como Jax Briggs (Ike Amadi) e Kung Lao (Matthew Yang King) não passando de coadjuvantes de luxo por quem nada sentimos. Até mesmo os lutadores em tese principais, Sonya Blade (Jennifer Carpenter), Johnny Cage (Joel McHale) e o próprio “messias” Liu Kang, têm participação patética na arena, com uma mini-reviravolta acontecendo lá no meio que é tão mal preparada e executada, que chega a ser risível.

E o pior é que o torneio em si perde completamente sua importância em razão do desenrolar da trama que envolve Shinnok, Scorpion e Sub-Zero que, por seu turno, ganha uma resolução em questão de poucos minutos. Teria sido muito mais interessante se a produção tivesse quebrado a história em duas, primeiro trabalhando o Mortal Kombat final e, depois, em outro longa, caminhando para o mega-final boss que, aqui, do jeito que a coisa anda, só tem tamanho mesmo. Ou seja, mesmo tendo material simples, mas bom, para dois filmes, a Warner escolheu o caminho do “tudo de uma vez só porque é melhor”, transformando A Batalha dos Reinos em um filme que não consegue fazer nada bem e que, no processo, desperdiça seus personagens.

Juro que não entendo qual é a dificuldade de se adaptar um jogo de lutas para o formato de longa-metragem. A Vingança de Scorpion era um bom modelo a ser seguido e aprimorado, pelo que é inexplicável o caminho que foi seguido com sua continuação. Pode ser que alguns se sintam satisfeitos com essa mixórdia, mas tenho para mim que mesmo estas pessoas, lá no fundo, sabem que entretenimento descerebrado não precisa ser nesse nível de ruindade…

Mortal Kombat Legends: A Batalha dos Reinos (Mortal Kombat Legends: Scorpion’s Revenge, EUA – 31 de agosto de 2021)
Direção: Ethan Spaulding
Roteiro: Jeremy Adams (baseado em videogame criado por Ed Boon, John Tobias)
Elenco: Dave B. Mitchell, Jordan Rodrigues, Joel McHale, Jennifer Carpenter, Ike Amadi, Matthew Yang King, Matthew Mercer, Artt Butler, Grey Griffin, Fred Tatasciore, Robin Atkin Downes, Patrick Seitz, Bayardo De Murguia, Paul Nakauchi, Emily O’Brien, Debra Wilson
Duração: 80 mim.

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