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Crítica | Mothra vs. Godzilla (Godzilla Contra a Ilha Sagrada)

por Luiz Santiago
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Depois do sucesso colossal de King Kong vs. Godzilla (1962) a Toho percebeu que tanto o público japonês quanto o público americano (para o qual fez cenas especiais de Mothra vs. Godzilla, para serem adicionadas na ocasião do lançamento do filme dos Estados Unidos) realmente se interessava por ficção científica com criaturas gigantes se enfrentando. Em um mundo sob uma estrutura geopolítica de medo e, sendo esses monstros da Toho uma representação do terror atômico japonês após Hiroshima e Nagasaki, não é de se espantar que muito desse temor fosse colocado nos tais filmes, onde a representação da realidade apenas ligada ao entretenimento encobria um medo de destruição compartilhado não só pelos nipônicos mas por milhares àquela época de nossa História que temiam palavras como “telefone vermelho”, “crise de mísseis”, “guerra” e “bomba”.

Chegando aos cinemas em 1961, no filme Mothra, a Deusa Selvagem, a benevolente e gigantesca mariposa logo se tornara um ícones do cinema japonês, o segundo mais importante monstro depois de Godzilla. Neste filme, é ela quem enfrenta o lagarto atômico, entrando pela primeira no enredo da franquia uma cooperação entre os habitantes da metrópole e um povo exótico, no caso, os habitantes da ilha onde se faziam testes nucleares, como visto no filme de estreia de Mothra. Essas reminiscências que aparecem no roteiro de Shin’ichi Sekizawa servem para nos ligar tematicamente às outras películas (embora isso seja desnecessário pois, a rigor, cada uma dessas histórias é auto-contida) e para nos mostrar o surgimento de algo na concepção dos vilões; algo que geraria frutos a partir do longa seguinte da franquia, Ghidrah, O Monstro Tricéfalo (1964), ou seja, a colocação de Godzilla não apenas como um bicho destruidor, sem mais nada a ser considerado.

Se daqui para frente o lagartão teria uma posição quase que de anti-herói, é no presente filme que sua jornada pode soar confusa e quase sem propósito para um espectador mais apressado. Este, no entanto, não é um problema que o longa carrega. Existem outros incômodos aqui, como a repetição dos movimentos das criaturas durante a batalha (que afora esse aspecto é realmente um embate épico), a extensão demasiada da ação dos jornalistas em alguns blocos da narrativa e a integração pouco fluída entre as cenas na ilha das pequeninas cantoras e o Japão.

No entanto, o foco central da obra que é a oposição entre Mothra e Godzilla é majoritariamente bem dirigido e tem um dos melhores usos da trilha sonora de Akira Ifukube, que desde o tufão no início do filme chama a atenção do público para os seus conhecidos acordes de anúncio de destruição, tornando os outros problemas até certo ponto aceitáveis, dentro das boas coisas que a narrativa nos traz. O destaque é o foco no enfrentamento entre os bichos, nos momentos de humor inesperado que esse mano a mano nos traz e o caráter de espetáculo inacabado que é sempre um plus nesses filmes, onde mesmo a aparente morte de um gigante nos deixa a dúvida se é ou não definitiva. E nunca é.

A criação dos efeitos especiais aqui não destoa tanto do uso de tela azul como em A Deus Selvagem e o uso da cidade em miniatura junto com a inserção dos monstros manipulados por fios ou com atores vestindo fantasia, mesmo com as limitações esperadas para uma produção desse porte realizada em 1964, tem o seu nível de convencimento. Evidente que existem cenas risíveis que depõem contra o filme, como na reta final, onde as larvas gêmeas de Mothra saem pelo mar para caçar Godzilla, aqui, com um design diferente, infelizmente com o rosto mostrado em closes que mais parece erros de continuidade entre a primeira e a última luta. Se já tinha sido estranha (embora interessantíssima) a batalha do lagarto contra a mariposa gigante, a coisa chega a um status bem mesmo empolgante quando as larvas entram em cena — mas é impossível não gargalhar quando uma delas segura firme no rabo do bicho.

Mesmo sem uma cena de ligação que poderia tornar o final mais orgânico, Godzilla Contra a Ilha Sagrada diverte e consegue nos trazer mais um capítulo de luta entre gigantes. O elenco é parcialmente desajeitado e a história até recicla muitos ingredientes de outros filmes do gênero, mas Ishirô Honda logra aglutinar essas falhas técnicas com um espetáculo monstruoso. A equação, como sempre nesses casos, termina positiva. E lá vai o público ansiando embarcar na próxima aventura atômica da Toho.

Mothra vs. Godzilla / Godzilla Contra a Ilha Sagrada (モスラ対ゴジラ / Mosura tai Gojira) — Japão, 1964
Direção: Ishirô Honda
Roteiro: Shin’ichi Sekizawa
Elenco: Akira Takarada, Yuriko Hoshi, Hiroshi Koizumi, Yû Fujiki, Kenji Sahara, Emi Itô, Yumi Itô, Yoshifumi Tajima, Jun Tazaki, Kenzô Tabu, Yoshio Kosugi, Akira Tani, Susumu Fujita, Yutaka Sada, Ikio Sawamura
Duração: 89 min.

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