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Crítica | Motoqueiro Fantasma

por Guilherme Coral
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estrelas 1

Antes da Marvel Studios entrar de vez no mundo do cinema por meio de Homem de Ferro, nossa opção de filmes verdadeiramente bons de super-heróis era bastante limitada, basicamente longas “perdidos” dentro de porcarias como Quarteto Fantástico e Demolidor. Motoqueiro Fantasma certamente não é uma das exceções. Encabeçado por Mark Steven Johnson, o mesmo diretor/roteirista que trouxera às telonas o Homem sem Medo a adaptação é nada mais que uma bagunça dramática e desritmada sem tamanho, que nos faz ansiar pela passagem dos minutos para que nos possamos ver livres dessa tortura que soa como se o próprio Motoqueiro estivesse olhando em nossos olhos.

A trama gira em torno de Johnny Blaze (Nicolas Cage), um motociclista que realiza altas façanhas com sua moto, como pular por cima de uma fileira de carros como Evel Knievele, desde pequeno. Quando descobre que seu pai está com câncer, ele faz um acordo com o demônio Mefistófeles (Peter Fonda) a fim de curar sua doença e, sem saber, torna-se o novo caçador de recompensas da criatura. Anos depois, o diabo o convoca para perseguir Coração Negro (Wes Bentley), outro demônio que está atrás de um antigo contrato escondido que daria domínio sobre inúmeras almas, garantindo a ele poder quase que ilimitado.

O longa-metragem tem início com uma narração em off de Sam Elliott, que posteriormente descobriríamos ser o antigo Ghost Rider (seria um tanto estranho chama-lo de “motoqueiro” – em português o personagem ganhou o nome Cavaleiro Fantasma, nos quadrinhos). Evidentemente, a intenção era dar um certo ar de western, ao menos para alguns trechos do filme e a escalação de Elliott não poderia ser mais precisa, visto a experiência do ator no gênero (Tombstone – A Justiça Está Chegando é apenas um dos muitos exemplos). De fato, o início de Motoqueiro Fantasma consegue acertar com sua história de origem, ainda que as atuações deixem muito a desejar. O contraste com o que vemos depois, porém, até nos faz esquecer dessa introdução.

A partir do momento em que Nicolas Cage entra em tela, o que já era dramático atinge a décima potência, com um trabalho de atuação com direito a dedos apontados para outros personagens e risadas maléficas que parecem ter sido tiradas de um desenho infantil – isso sem falar nas frases de efeito, mas culpo o roteiro por isso. A construção de Blaze adulto também é uma coisa completamente risível – ele passa de um ser apático que come jujubas(!!!), o que por si só já é bastante ridículo, para um homem capaz de praticamente matar-se por amor. Isso sem falar que ele aceita ser o Motoqueiro praticamente de uma hora para a outra, como uma tentativa de se desvencilhar que simplesmente não consegue convencer nenhum de nós (muito menos Mefistófeles).

Para piorar, o icônico Coração Negro é retratado com um vilão totalmente sem sal, desperdiçando Wes Bentley em um papel que basicamente consiste em soltar frases de efeito e matar pessoas de maneira duvidosa. O mesmo se estende para seus capangas, que são derrotados um mais rapidamente que o outro e de formas simplesmente ridículas, como é o caso da corrente giratória para fazer um pequeno tornado de fogo, o que apenas torna mais claro o que já era bastante evidente: os artificiais efeitos especiais da obra. E não estou falando de algo que envelheceu mal e sim de uma coisa que já nasceu péssima.

Como se nossa imersão já não estivesse fragilizada o suficiente, o roteiro ainda insere diversas quebras de ritmo através do drama pessoal de Blaze com sua ex-namorada, Roxanne (Eva Mendes), que é simplesmente deixada para trás no desfecho do filme, jogando fora todo o tempo que passamos vendo os dois tentarem se reaproximar. A simples inserção de inúmeros malvados torna a narrativa fragmentada, jogando-nos em um esquema quase que de videogames, com inúmeros chefes a serem enfrentados ao longo da projeção. No nosso caso, a grande luta é contra a vontade de desligar a televisão mesmo.

Motoqueiro Fantasma é um daqueles filmes que nos deixa sem saber como um estúdio pode ter, em sã consciência, aprovado uma coisa dessas. Ou, pior ainda, como pode ter ganhado uma continuação – evidente que o razoável sucesso comercial motivou essa decisão, mas poderíamos ter sido poupados desse atentado ao bom senso e ao próprio personagem em si. Temos, aqui, uma obra que necessita ser esquecida.

Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider) – EUA/ Austrália, 2007
Direção:
 Mark Steven Johnson
Roteiro: Mark Steven Johnson
Elenco: Nicolas Cage, Eva Mendes, Sam Elliott, Brett Cullen, Peter Fonda, Donal Logue, Wes Bentley
Duração: 114 min.

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