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Crítica | Mr Selfridge – 3ª Temporada

por Ritter Fan
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estrelas 4

Obs: Há spoilers somente das temporadas anteriores, não da terceira. Leia as críticas das demais temporadas, aqui.

A terceira temporada de Mr Selfridge, série britânica que conta a vida do personagem título, americano visionário fundador da loja de departamentos Selfridges, em Londres, é a primeira a focar de verdade nele. Afinal, apesar da atuação expansiva e muito carismática de Jeremy Piven como Harry Selfridge, a primeira temporada foi muito mais focada na emancipação feminina do que qualquer outra coisa. Selfridge era, apenas, um fio condutor que catalisava os acontecimentos. Na segunda temporada, o objetivo primordial foi tratar da chegada da 1ª Guerra Mundial e as mudanças no cotidiano londrino em razão da escassez e do alistamento dos homens para lutarem no fronte. Agora, o foco é mesmo em Harry Selfridge, que passa a ser o centro das atenções da narrativa.

E essa mudança não é ruim em si. Talvez até seja necessária, até porque os roteiros continuam primando por trabalhar muito bem os coadjuvantes, adentrando em relacionamentos interpessoais e questões sócio-econômicas muito importantes. Mas, enquanto antes a trama acontecia apesar de Selfridge, agora ela acontece em razão dele. Trata-se de uma mudança nas “regras do jogo” que servem bem à narrativa e ao objetivo da série, que novamente dá um pulo temporal de cinco anos quando começa. Estamos, agora, em 1918.

E esse começo é carregado de tristeza. Como descobrimos ao final da segunda temporada, Rose Selfridge estava com câncer no pulmão em estágio já bem avançado e, sem perder tempo, a nova temporada abre com seu enterro e um devastado Harry tendo que lidar com as consequências da ausência de sua amada. Mas o peso desse prelúdio é logo soterrado quando um novo salto temporal ocorre, ainda no primeiro episódio, com a revelação de que Rosalie (Kara Tointon), filha mais velha de Harry, vai se casar com o aristocrata russo (fugido da Revolução Russa, claro) Serge De Bolotoff (Leon Ockenden), que traz a tiracolo sua mãe, a Princesa Marie (Zoe Wanamaker). Além disso, Harry investe seu dinheiro e seu coração em uma empreitada que pode levá-lo à falência: casas populares para veteranos de guerra, em homenagem à sua esposa falecida. Isso o leva a se relacionar com Nancy Webb (Kelly Adams), mentora do programa.

Esse três personagens novos, todos na esfera de influência de Harry e mais a volta do asqueroso Lorde Loxley com sede de vingança contra Harry, estabelecem o tom da temporada, que lida exatamente com as decisões administrativas e familiares de Harry que afetam a saúde de sua loja, gerando desconfiança perante sua diretoria, desconfiança essa fomentada, claro, por Loxley. Gravitando ao redor dessa estrutura, a temporada lida com três outras histórias: a de Victor Colleano, que agora tem seu próprio restaurante e um novo sócio, George Towler, irmão de Agnes, e a luta dos dois para manter o negócio legítimo diante da corrupção da polícia; a de Violette Selfridge (Hannah Tointon),  filha mais velha de Harry que tem espírito independente e se envolve romanticamente com Victor e, finalmente, a sempre complicada relação entre Roger Grove e Josie Mardle. O tema da emancipação feminina fica ao encargo de Violette, tentando achar seu lugar no mundo e também, de  certa forma, com Nancy, também batalhadora, mas de maneira bastante peculiar e que influencia pesadamente na forma de agir de Harry.

Como pano de fundo, vemos as consequências devastadores da guerra para aqueles que conseguiram voltar. As mulheres tomaram vários postos de emprego tradicionalmente dos homens que, agora, não têm para onde ir, muitos tendo que mendigar pelas ruas de Londres. Esse aspecto sócio-econômico da época permeia quase que literalmente toda a narrativa, pois, usando um acontecimento específico com Kitty Edwards, os roteiros passam a funcionar como dominós, alterando o status quo dos personagens e catalisando diversos problemas para Harry, inclusive facilitando a volta de Lorde Loxley.

Assim, dentro dessa estrutura, a temporada triunfa ao equilibrar o foco em Harry, dando um grande espaço para Jeremy Piven brilhar na pela do personagem, com questões históricas interessantes e que ajudam a colorir o mundo já glamouroso de sua família. Vale especial destaque, também, para as maravilhosamente irritantes atuações de Zoe Wanamaker como a russa Princesa Marie que continua agindo como se fosse ainda do Czar e de Aidan McArdle, como Lorde Loxley, um daqueles personagens que todo o espectador tem vontade de pular na tela da televisão para esmurrar. Esses dois trazem diversas sequências memoráveis e divertidas, além de estarem muito bem inseridos dentro da trama geral.

Mr Selfridge, em sua terceira temporada, mantém a qualidade das temporadas anteriores mesmo arriscando em mudar seu foco. Diversão garantida.

Mr Selfridge – 3ª Temporada (Idem, Reino Unido – 2015)
Direção: Rob Evans (eps. 1 a 3),  Robert Del Maestro (eps. 4 e 5), Joss Agnew (eps. 6 e 7), Lawrence Till (eps. 8 a 10)
Roteiro: Kate Brooke (eps. 1, 4 e 10), Kate O’Riordan (eps. 2 e 9), Helen Raynor (eps. 3, 5 e 8), Matt Jones (ep. 6), James Payne (ep. 7) (baseado em livro de Lindy Woodhead)
Elenco: Jeremy Piven, Tom Goodman-Hill, Amanda Abbington, Kika Markham, Katherine Kelly, Ron Cook, Trystan Gravelle, Samuel West, Amy Beth Hayes, Lauren Crace, Deborah Cornelius, Calum Callaghan, Greg Austin, Aidan McArdle, Kara Tointon, Hannah Tointon, Kelly Adams, Amy Morgan, Sacha Parkinson, Zoe Wanamaker, Leon Ockenden
Duração: 490 min.

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