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Crítica | Mr. Vingança

por Rafael W. Oliveira
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Chan-wook Park é um daqueles diretores pouquíssimos conhecidos em terras estrangeiras, mas cuja menção do nome já faz tremer de excitação aqueles que o conhecem. De fato, foi o violento Oldboy que elevou o nome do diretor ao status de Cult, mas com Mr. Vingança, primeira parte de uma trilogia planejada, Park já havia arrancado diversos elogios do público e crítica, e já demonstrava, de forma bastante explicita, seu apuro para belíssimas concepções visuais e surpresas de tirar o fôlego em seus filmes.

Em poucas linhas (na verdade, isto é mais uma tentativa de revelar o menos possível sobre a trama), Mr. Vingança é, inicialmente, um filme sobre vingança, mas aos poucos, vai revelando seu real objetivo: é um estudo assustador e impactante sobre a degradação do ser humano diante da entrega ao sentimento da ira, assim como suas reações, que como vemos, sempre estarão acompanhadas de uma tragédia iminente e inevitável.

Como parte de uma trilogia que visa trazer visões diferenciadas sobre o tema (apesar de estar acima de Lady Vingança, o filme fica um passo abaixo de Oldboy, muito mais visceral), Mr. Vingança sai levemente prejudicado, embora também possa ser visto como um filme isolado. O que importa, de fato, é a experiência proporcionada por Chan-wook Park, que não apenas elabora um espetáculo visual e sensorial como poucas vezes já vimos, mas também nos magnetiza com a linha de acontecimentos da narrativa, que de início soa confusa, mas em poucos minutos nos torna intensamente familiarizados com os personagens e suas atitudes.

O principal acerto do roteiro é jamais tecer alguma espécie de julgamento sobre seus personagens, humanizando-os de tal forma que jamais vemos qualquer divisão entre herói e vilão, entre o bom e o mau: o que vemos são dois homens em busca de sua vingança pessoal. Tão simples que chega a ser banal. Mas o filme de Chan-wook é uma forma de encarar a nós mesmos, de nos fazer refletir sobre a real natureza do ser humano, que desde o primórdio dos tempos foi capaz de atos terríveis, sem se importar com as consequências. Desta forma, nosso julgamento sobre os personagens se torna inviável quando uma indagação muito mais profunda surge: o que faríamos se estivéssemos nesta mesma situação? Buscaríamos vingança? Os nos entregaríamos ao conformismo do acontecimento? A força de Mr. Vingança está justamente nessa capacidade de fazer com que o espectador reflita sobre si mesmo.

Enquanto que o estudo sobre a vingança e suas consequências consegue ser lindamente sutil (mas jamais imperceptível), o diretor segue o lado contrário no que se refere a sua criatividade visual, onde cada tomada e cada enquadramento é concebido como uma forma de ressaltar a objetividade da obra. Assim, a ação do filme é extremamente crua e realista (o que pode ser difícil para alguns), e a tensão de algumas sequências atingem níveis estratosféricos. Mr. Vingança é um filme que leva o espectador e seus personagens à flor da pele. Literalmente.

E no fim das contas, não há final feliz, apenas a tragédia iminente, como já foi dito. Para muitos, Mr. Vingança pode soar como uma obra reducionista e pessimista sobre o real interior do ser humano, mas convenhamos, nós fazemos por merecer. E se tal fator lhe incomodar, apenas se permita deliciar com a inventividade e criatividade de um realizador cujo talento se tornou cada vez mais raro no cinema atual.

Mr. Vingança (Boksuneun Naui Geot, Coréia do Sul, 2002)
Roteiro: Chan-wook Park, Jae-sun Lee, Mu-yeong Lee, Yong-jong Lee
Direção: Chan-wook Park
Elenco: Kang-ho Song, Ha-kyun Shin, Du-na Bae, Ji-Eun Lim, Bo-bae Han, Se-dong Kim, Dae-yeon Lee
Duração: 121 min.

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