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Crítica | Ms. Marvel – 1X02: Crushed

Paixão de super-heroína adolescente.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Quando Kamala Khan volta para casa depois que seu crush Kamran (Rish Shah) mostra interesse nela e a clássica Be My Baby, das The Ronettes, começa a tocar em sua cabeça, com direito a um número de dança à la Dirty Dancing, aquilo que já estava muito bom ficou basicamente perfeito, ou seja, a exata captura audiovisual daquele fulgor adolescente inocente, de primeira experimentação, de algo novo e diferente na vida de uma jovem. E isso porque, mais uma vez, o grande trunfo de Ms. Marvel, mesmo que este segundo capítulo já comece a mergulhar em outras questões, é manter seu foco centrado em Iman Vellani que, muito sinceramente, não sei mais se está atuando ou apenas sendo ela mesma, uma adorável e cativante jovem de origem paquistanesa que vê seu mundo começar a se abrir a partir do momento em que um bracelete herdado de sua avó a transforma em uma super-heroína.

Toda essa abordagem do primeiro crush de Kamala – mesmo que, muito claramente, Kamran só tenha se aproximado dela em razão de um segredo mais insidioso que envolve sua mãe e certamente os poderes recém-adquiridos – é exemplar, com a direção de Meera Menon acertadamente reduzindo um pouco a cinética acelerada e a estética de quadrinhos do ótimo primeiro episódio para dar tempo ao tempo e abrir espaço para essa conexão imediata entre os dois jovens sem que o espectador seja furtado de momentos importantes que lidam tanto com demonstrações de como os poderes em si funcionam quanto com suas origens misteriosas que parecem remontar à traumática e pouquíssimo lembrada Partição da Índia que deu origem ao Paquistão e que, mais tarde, levou à secessão de Bangladesh. Essa costura narrativa, aliás, que se dá ao trabalho de usar o contexto de um momento histórico importante para a família de tantos milhões de pessoas, é muito bem-vinda e o roteiro de Kate Gritmon, mesmo tendo que recorrer a um momento expositivo no jantar em família, mas que não chega a ser cansativo, consegue dar cabo de seu objetivo com louvor, até porque todo o lado de derramamento de estereótipos muçulmanos que o primeiro episódio exigia cessa quase que por completo aqui, com toda a sequência no Eid Mubarak, que tem esse objetivo, parecendo muito mais fluida e bem colocada.

E, se o passado histórico não é esquecido – ou, mais corretamente dizendo, é provavelmente pela primeira vez abordado em uma obra pop audiovisual -, a modernidade também não é, com as redes sociais ganhando ainda mais ênfase nesse mundo adolescente que a produção adoravelmente traz à vida. A primeira aparição de Ms. Marvel no episódio anterior é amplificada sobremaneira por meio das redes e pela jovem patricinha que foi salva, catalisando basicamente tudo o que vemos no episódio, do aparecimento de Kamran até a efetiva chegada dos agentes do Departamento de Controle de Danos, algo que certamente ganhará outros contornos com sua segunda aparição – a primeira consciente de seus poderes – salvando um garoto em uma sequência que é a recriação amadora e hesitante, no bom sentido, do inesquecível momento em que Superman salva Lois Lane na primeira aparição pública do super-herói no filme de 1978.

Como se isso não bastasse, há espaço para lidar com o simpático Bruno subindo pelas paredes de ciúmes de Kamala e de lidar melhor com a amizade da jovem com Nakia Bahadir (Yasmeen Fletcher), o que permite momentos de crítica à religião muçulmana com a divisão física entre homens e mulheres na mesquita que, claro, representa muito mais do que apenas isso, mas também outros de adoção de identidade, quando Naki explica sobre seu uso do hajib, e isso sem contar com a candidatura dela à diretoria do centro religioso que leva a jovem a hilariamente “chantagear” Yusuf, pai de Kamala. É um daqueles raros exemplos de episódio de série menos, digamos, cerebrais, em que cada segundo conta, em que cada cena tem significado, com o pleno aproveitamento de tudo o que é colocado na tela, até mesmo as referências à aparente habilidade sobre-humana de Paul Rudd de envelhecer e algo semelhante – mas aí decididamente “sobrenatural” – acontecer com Kingo, além de, não podemos esquecer, Bon Jovi, porque não se faz uma série passada em Nova Jersey sem falar deles.

E isso me leva a um ponto particularmente interessante. Considerando que estamos falando de uma série (ou minissérie, não sei) de apenas seis curtos episódios, a ausência de um vilão bem definido e, mais ainda, a impressão de que ele/ela sequer é necessário, já nesse segundo episódio, é um atestado de sua qualidade, ao mesmo tempo que é algo que pode, talvez, preocupar. Sim, o final do episódio, em que Kamala é resgatada por Kamran, parece apontar para um momento mais definidor no próximo capítulo que provavelmente revelará o que aquela mulher quer de verdade e o que exatamente sua avó fez de tão grave assim para todos falarem dela como se ela fosse uma “prostituta católica que teve relações sexuais com seu namorado negro judeu que trabalhava numa clínica militar de aborto” (não é só Kamala que faz referências!), e sim, isso incluirá mais detalhes sobre seus poderes, mas meu ponto é que, muito sinceramente, eu sequer consigo sentir falta disso e ficaria já muito feliz com mais momentos musicais protagonizados por Iman Vellani.

Em outras palavras, as complicações inevitavelmente virão e, sob certos aspectos, elas precisam mesmo vir, mas eu espero, com todas as forças, que a vitalidade, as cores, a energia adolescente e a inocência que Ms. Marvel vem mostrando tão bem não se percam em um mundo chato de adultos sérios com problemas mais sérios ainda que não sejam bem costurados à premissa como são os aspectos étnicos e históricos da família da protagonista. Crushed é outro grande acerto em uma série que tem tudo para amolecer mesmo os corações mais petrificados que “não gostam de séries teen” ou que “não aceitam as mudanças de poderes da protagonista”. Afinal de contas, como resistir à Be My Baby, por Kamala Khan?

Ms. Marvel – 1X02: Crushed (EUA, 15 de junho de 2022)
Desenvolvimento: Bisha K. Ali
Direção: Meera Menon
Roteiro: Kate Gritmon
Elenco: Iman Vellani, Matt Lintz, Yasmeen Fletcher, Zenobia Shroff, Mohan Kapur, Saagar Shaikh, Laurel Marsden, Azhar Usman, Arian Moayed, Alysia Reiner, Rish Shah
Duração: 49 min.

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