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Crítica | Ms. Marvel – 1X05: Time and Again

Sem dar tempo ao tempo...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

É comum a reclamação de que as séries da Marvel Studios têm poucos episódios e que isso é a causa de alguns dos problemas que elas têm. Mas isso simplesmente não é verdade. Ou, pelo menos, a lógica da afirmação está equivocada. O problema, quando existe, é de outra natureza: os roteiros é que não são ajustados para caber no formato pretendido. Isso acontece com séries de todo o tamanho, na verdade, e é uma questão de planejamento, que vem do nascedouro da obra. Ms. Marvel começou muito bem com Generation Why e Crushed, mas passou a ratear quando focou na origem dos poderes de Kamala Khan. Time and Again talvez seja a evidência mais contundente de uma história criada para ser maior do que o espaço disponível.

Comecemos pelo flashback para 1942 na Índia pré-Partição em que descobrimos porque Aisha (Mehwish Hayat), bisavó de Kamala, decide ficar em nossa dimensão, no lugar de voltar para a dela. Ela é ajudada pelo gentil Hasan (Fawad Khan), bisavô de Kamala, em sua bucólica plantação de rosas e os dois se casam, gerando Sana (Zion Usman), avó de Kamala. Vem a Partição, a fuga dos muçulmanos da Índia para o recém-formado Paquistão e todo aquele inferno ferroviário que serviu de cliffhanger em Seeing Red, com o roteiro de Fatimah Asghar inteligentemente convertendo o flashback em “história real” ao demonstrar que Kamala efetivamente viajou no tempo, aparentemente “conjurada” por sua moribunda bisavó e servindo como a guia para que sua avó encontrasse seu bisavô em meio ao tumulto.

É muito para desempacotar e é particularmente demais para ser abordado em algo como dois terços de um curto episódio. Quando o espectador começa a criar empatia com Aisha e Hasan, vem uma elipse para a gravidez, depois para Sana já nascida, em seguida para as revoltas e distúrbios no país e o preconceito contra os muçulmanos e então a confusão na estação de trem. Em resumo, o roteiro acaba desperdiçando dois potencialmente importantes personagens do passado da protagonista e, de quebra, perde a oportunidade de lidar com mais vagar com a Partição da Índia que, convenhamos, antes da série trazer o assunto à tona, quase ninguém do Ocidente sequer tinha ouvido falar e que aquele “filminho narrado” no começo sequer começa a arranhar a superfície.

E, quando Kamala retorna ao presente (nem vou começar a discutir a lógica da viagem no tempo no Universo Cinematográfico Marvel, pois essa é uma discussão tão infrutífera e inútil quanto falar sobre que herói é o mais poderoso…), a ação acaba naturalmente comprimida em pouquíssimos minutos que dão conta do começo razoavelmente aleatório da abertura do portal para a Dimensão Noor, a descoberta de que esse retorno é mortal mesmo para quem antes habitava por lá e, pior do que isso, as dúvidas de Najma sobre o que raios ela quer da vida. Afinal, em questão de segundos, ela, que sem hesitar abandonara o filho nos EUA, resolve, com os olhos marejados, só porque Kamala falou no nome dele, se arrepender e, no processo, sacrificar-se para fechar o portal e, ao que parece, enviar seu poder (eu nem sabia que ela tinha poder ou foi poder canalizado do portal?) para Kamran do outro lado do mundo. Ou seja, Najma, que sequer conseguimos conhecer direito ao longo da minissérie, já foi embora, deixando como “vilões” o Departamento de Controle de Danos que, vamos combinar, são mais alívios cômicos do que qualquer outra coisa.

E a revelação de que Kamala é a menina superpoderosa de Nova Jersey para Muneeba e Sana? Foi algo como “ah, você é aquela tal, legal…” e pronto, mais nada, quase como se mamãe Khan estivesse descobrindo que filha Khan resolveu pintar seu cabelo de loiro para ficar igual ao de sua super-heroína favorita (na verdade, acho que Muneeba reagiria mais à tintura de cabelo do que à descoberta de que a filha pode criar plataformas de tons lilases…). Eu realmente gostaria de um tempo maior de fervura para a grande revelação e as consequências disso para todos ali presentes e não uma economia forçada de diálogos porque a minutagem do episódio estava acabando.

Teria sido tão mais interessante se o foco tivesse permanecido nas descobertas adolescentes sobre como usar o bracelete mágico lá em Nova Jersey, sem essa obsessão com a origem do objeto. Ou, ao revés, se todo o foco fosse nessa história de origem. Simplesmente não havia espaço para as duas coisas ao mesmo tempo e Time and Again é a principal prova disso. Sei que ainda falta um episódio, mas ele não tem nenhuma chance, por melhor que seja, de curar esse problema de ritmo e de abordagem que realmente vem impedindo a série de chegar ao nível de qualidade que prometia em seu início. Uma pena.

Ms. Marvel – 1X05: Time and Again (EUA, 06 de julho de 2022)
Desenvolvimento: Bisha K. Ali
Direção: Sharmeen Obaid-Chinoy
Roteiro: Fatimah Asghar
Elenco: Iman Vellani, Matt Lintz, Yasmeen Fletcher, Zenobia Shroff, Mohan Kapur, Saagar Shaikh, Laurel Marsden, Azhar Usman, Arian Moayed, Alysia Reiner, Travina Springer, Rish Shah, Nimra Bucha, Samina Ahmad, Farhan Akhtar, Aramis Knight, Mehwish Hayat, Zion Usman, Fawad Khan
Duração: 41 min.

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