Home TVEpisódio Crítica | Mulher-Hulk: Defensora de Heróis – 1X01: A Normal Amount of Rage

Crítica | Mulher-Hulk: Defensora de Heróis – 1X01: A Normal Amount of Rage

O que é verde, alta, forte e muito simpática?

por Ritter Fan
4,9K views

A oitava série da Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel introduz Jennifer Walters, a Mulher-Hulk, ao já vasto elenco de super-heróis da Marvel Studios. Criada por Stan Lee e John Buscema em fevereiro de 1980, a personagem é prima de Bruce Banner, o Hulk original, que, depois de ser baleada, recebe transfusão de sangue dele, transformando-se na “Selvagem Mulher-Hulk”, conforme o título de sua primeira publicação solo. No entanto, a personagem sempre foi mais “humana” e ao mesmo tempo menos poderosa que o primo e, com o tempo, assumiu sua persona verde como sua única persona.

Em A Normal Amount of Rage, primeiro episódio da série, o espectador é brindado com uma versão dessa origem por intermédio do uso do artifício do enquadramento, ou seja, com Jennifer Walters (Tatiana Maslany) se preparando para fazer um discurso de encerramento de um caso no tribunal, mas parando o ensaio para quebrar a quarta parede – outra característica de seus quadrinhos – e retornar alguns meses no tempo para explicar porque ela é uma Hulk, como sua amiga e paralegal Nikki (Ginger Gonzaga) diz logo antes. Com isso, vemos Jennifer e Bruce (Mark Ruffalo) – com sua transformação completamente controlada por um gadget preso ao seu braço – viajando de carro e alegremente conversando quando uma nave de Sakaar (aquele planeta para onde o Hulk foi mandado em Thor: Ragnarok, estabelecendo o primeiro mistério da série, aliás) aparece do nada e causa um acidente que faz com que o sangue de Bruce se misture com o de Jennifer, imediatamente transformando-a na Mulher-Hulk.

Não demora e toda a ação é transportada para um paradisíaco refúgio de Bruce Banner no México construído para ele por Tony Stark (como ele repete um milhão de vezes…), com direito a laboratório subterrâneo e tudo mais onde aprendemos como foi o processo de controle do Hulk que vimos em O Incrível Hulk até a versão “Hulk Esperto” atual. O objetivo de Bruce é explicar o ocorrido à prima e fazê-la passar pelo mesmo longuíssimo tratamento pelo qual ele passou para controlar seu alter-ego esmeralda. E é a partir desse ponto que o divertido, leve e bobo (sim, bobo, mas isso é positivo e não negativo como aqueles que hilariamente levam filmes de super-heróis muito a sério tentarão dizer…) coração do episódio realmente começa, com Jennifer mostrando sucessivas vezes que ela é uma espécie de versão superior do Hulk, com controle de sua raiva, de sua transformação e “destransformação” e assim por diante, com a dinâmica de Maslany (novamente atuando como se não estivesse fazendo o menor esforço para ser excelente) e Ruffalo sendo imediatamente cativante.

Essas descobertas acontecem muito rapidamente, claro (vide a duração do episódio), e é hilário ver o Hulk Esperto ficar cada vez mais frustrado e invejoso do progresso meteórico da prima, o que leva a conflitos destrutivos, brincadeiras simpáticas e uma sucessão de situações que põe os dois em polos opostos, mas não tanto. Infelizmente, porém, apesar do mais do que óbvio e bem-vindo subtexto feminista que está presente em toda essa interação de Hulks, Jessica Gao, criadora da série e roteirista do episódio, parece querer tratar os espectadores como tapados incapazes de perceberem o que subjaz na narrativa, criando situações e diálogos para lá de artificiais que explicam em detalhes os conceitos debaixo do que estamos vendo. Isso não é exclusivo de Gao, vale dizer, pois, ao contrário, tem sido recorrente em séries e filmes das mais diferentes produtoras (o mais novo filme da franquia Predador é outro exemplo recente disso), com o raciocínio e a dedução sendo abafados por um didatismo deslocado, cansativo e artificial, que parece só existir para subestimar o espectador de todas as idades e nivelar todo mundo por baixo.

Mesmo assim, em linhas gerais, todo o treinamento no paradisíaco esconderijo de Bruce Banner funciona bem, com uma computação gráfica que cumpre sua função de nos fazer acreditar que estamos vendo os dois atores, só que razoavelmente mais fortes e pintados de verde. Quando a história, então, retorna para o presente, com Jennifer Walters finalmente no tribunal, temos a entrada completamente descontextualizada e mais do que preguiçosa da vilã Titânia (Jameela Jamil) que irrompe no local do nada, forçando a protagonista a revelar-se como Mulher-Hulk e salvar o dia. Tudo bem que se trata de uma série e há espaço mais para a frente para explicar o que aconteceu, mas é irritante o uso da “varinha mágica narrativa” para criar uma vilã na hora em que a super-heroína precisa aparecer para “fechar a história”. 

Muito provavelmente, o que teremos pela frente é Jennifer passando pelo processo de aceitar a nova pessoa que ela é agora e passando a usar sua forma verdejante como seu novo padrão estético e, claro, abrindo a prática da defesa jurídica de super-heróis em seu escritório (ou em outro, não sei). Pode ser muito interessante, mas, para a série realmente alcançar esse objetivo, ela precisa parar de pegar o espectador pela mão e explicar tudo em detalhes, além de realmente investir no protagonismo da excelente Tatiana Maslany.

Mulher-Hulk: Defensora de Heróis – 1X01: A Normal Amount of Rage (She-Hulk: Attorney at Law – EUA, 18 de agosto de 2022)
Criação: Jessica Gao
Direção: Kat Coiro
Roteiro: Jessica Gao
Elenco: Tatiana Maslany, Mark Ruffalo, Ginger Gonzaga, Jameela Jamil
Duração: 38 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais