Home Colunas Crítica | Mulher-Maravilha (Piloto – 2011)

Crítica | Mulher-Maravilha (Piloto – 2011)

por Ritter Fan
830 views

Lá pelos idos de 2010 e 2011, a Warner tentou emplacar mais uma série de TV da Mulher-Maravilha. Sua primeira tentativa foi ainda na década de 60, em formato de sitcom, estrelando Ellie Wood Walker e Linda Harrison como a personagem (sim, duas atrizes). Depois, em 1974, um piloto estrelando Cathy Lee Crosby foi produzido e oficialmente lançado na TV, estando até hoje disponível em canais oficiais, mas que nunca se tornou série. Nele, a versão da Mulher-Maravilha que vemos foi inspirada no tempo em que a heroína perdera seus poderes nos quadrinhos e passou a ser mais uma detetive particular do que qualquer outra coisa. Não deu certo.

No ano seguinte, finalmente a Mulher-Maravilha ganhou sua até agora única série de TV live-action, estrelando a bela Lynda Carter no papel-título e que durou três temporadas, a primeira delas se passando na Segunda Guerra Mundial e as duas seguintes nos anos 70. Eis que, logo antes da febre de séries de TV baseadas em super-heróis começar a assolar as telinhas, com a The CW quase que monopolizando as baseadas em heróis da DC a partir de 2012, a Warner tentou emplacar uma série que repaginava a Mulher-Maravilha para o século XXI, estrelando Adrianne Palicki que, depois, faria parte do elenco de Agents of S.H.I.E.L.D., da Marvel e ABC (uma curiosidade: B.J. Britt, que também migraria para AoS como Trip, faz uma ponta no piloto).

E a série nunca saiu da fase de piloto inacabado – sem todos os efeitos especias inseridos – já que a NBC não se interessou pelo que viu. Aliás, até Palicki hoje em dia reconhece que foi um acerto a série não ter ido para frente. E, de fato, talvez a única coisa boa que possa ser dita sobre o piloto é que a atriz tem o physique du rôle exato para viver a heroína e poderia, em um mundo sem Gal Gadot mastigando as telas como a amazona, ter sido uma boa Mulher-Maravilha.

O problema do piloto não está no uniforme colorido demais da heroína, nem no uso de calças no lugar de um maiô (ainda que ela apareça com o uniforme clássico na luta final) e nem mesmo na mudança de ambientação para Los Angeles, onde toda a ação se passa. A questão é que o roteiro de David E. Kelly tem medo de abraçar o que faz da Mulher-Maravilha a heroína que é nos quadrinhos e foi nas telinhas, assim como é nas telonas e tenta reinventar a personagem, destruindo sua essência no processo.

Se alguns consideram que o coração do Superman foi para o brejo na visão sombria e destrutiva de Zack Snyder em O Homem de Aço, é porque não viram o que Kelly faz aqui. No piloto, a Mulher-Maravilha é Diana Temiscira, presidente de uma empresa que fabrica figuras de ação e estatuetas baseadas em sua persona super-heroística, que é pública. Não fica muito claro, mas o dinheiro obtido com os brinquedos é usado para outros fins mais nobres. De toda forma, ela já começa o episódio em plena ação nas ruas de Los Angeles – mais especificamente ali pela Calçada da Fama, em Hollywood – e mostra, ao longo de toda a fita, um completo desprezo pela lei dos homens, ignorando as leis e fazendo justiça com as próprias mão de maneira ainda mais aberta e prepotente do que o Batman (que, pelo menos, tem identidade secreta). E isso sem contar com o fato que ela tortura e mata vilões apesar de ter um laço que é chamado “da verdade”, mas que, aparentemente ou não funciona ou ela prefere fazer uso de meios mais sádicos para obter informações.

A grande vilã é Veronica Cale, personagem criada por Greg Rucka em 2003 como inimiga da Mulher-Maravilha. No episódio, ela é uma empresária da indústria farmacêutica que cria uma espécie de fórmula do super-soldado, fazendo experimentações ilegais em humanos. Chega a ser ridículo o confronto público entre Diana e Veronica, com a primeira acusando a segunda sem provas em plena coletiva de imprensa e a segunda reagindo com uma visita a Diana em sua empresa, a Themyscira Industries.

Apesar do mais absoluto desrespeito ao material fonte, há um caminhão  de referências à mitologia da heroína no episódio, ainda que seu legado amazona seja apenas mencionado en passant, provavelmente porque isso seria explorado em episódios posteriores (ou não). Ela tem uma “identidade secreta” como Diana Prince, uma mulher “normal” que vive em um prédio comum com um gato chamado Sylvester, além de usar, em determinado momento, uma roupa branca que lembra uma das fases mais fracas da heroína nos quadrinhos, além de pilotar um jatinho particular (não invisível) irresponsavelmente pelos céus da cidade.

Mas a grande verdade é que nada funciona bem nos 45 minutos da narrativa. Todo o elenco flutua entre o minimamente competente (como é o caso de Tracie Thoms como uma nova versão de Etta Candy, uma das personagens mais clássicas da Mulher-Maravilha) até o completamente canastrão, como é o caso da atuação de Elizabeth Hurley como Veronica Cale. A própria Palicki, apesar do porte físico perfeito para a amazona, tangencia perigosamente a canastrice total com seus trejeitos exagerados e teatrais demais.

O piloto, portanto, não é muito mais do que uma curiosidade histórica agora. E ainda bem. Trata-se da versão da Mulher-Maravilha que temos que simplesmente agradecer por nunca ter vingado.

Mulher-Maravilha (Wonder Woman, EUA – 2011)
Direção: Jeffrey Reiner
Roteiro: David E. Kelley
Elenco: Adrianne Palicki, Cary Elwes, Elizabeth Hurley, Tracie Thoms, Justin Bruening,  Edward Herrmann,  Joseph Gatt, Cary Elwes, Pedro Pascal, B.J. Britt
Duração: 45 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais