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Crítica | Mulher-Maravilha – Vol. 3: Força (Novos 52)

por Davi Lima
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A revitalização da Mulher-Maravilha nos Novos 52 continua em voga nesse terceiro volume. Com uma narrativa extremamente fluida no trabalho moderno de tratar mitologias gregas em êxtase, com reinterpretação do Olimpo e os variados filhos de Zeus, a iminência de uma guerra contra Apollo, novo chefe do Olimpo, e a subsequência de apresentações de irmãos de Diana, constroem a história da busca pelo novo semideus recém nascido. Após Hermes escondê-lo, a missão de encontrar o bebê subdivide a trama numa grande descoberta familiar que vai delineando uma profecia de guerra enquanto Mulher-Maravilha se mostra heroica na sua humanidade. Porque o grande trabalho de modernização dos mitos gregos, que fica ainda mais intenso nessa terceira parte, não é o propósito de atualização, e sim o dinamismo que a heroína de mais convívio com os seres humanos vai revelando nesse mundo de deuses austeros, mas extremamente previsíveis.

A inclusão da edição #0 em todas as séries principais do Novos 52 pode ser uma tática da editora sem muitos direções criativas que partiram dos escritores de cada série, mas ao menos com a linha Mulher-Maravilha o desafio do escritor Brian Azzarello de contar a lenda do minotauro em Creta como origem de algum ponto dramático de Diana Prince é a toada certeira para se compreender a última edição deste volume três. Com uso repetitivo de recordatórios para contribuir nas transições de história, entre a jornada de Diana e o tal primogênito de Zeus, o ar da leitura sempre impõe algo importante mas sem necessidade de cadenciar para tal efeito imponente de algo mitológico. 

Sem dúvida, o desenhista e arte-finalista Cliff Chiang contribui para a sequência da leitura nesse tom grego. No entanto, Cliff se ausenta como principal artista e dá lugar para Tony Akins dar o traço bem semelhante. Em meio a essa mudança e acréscimo de novos desenhistas em divisão de trabalho, a até um colorista alternativo junto com Matthew Wilson, há uma variação de qualidade no efeito desse ar mitológico e moderno, mas o que unifica do início ao fim, além da Mulher-Maravilha como personagem, é o tal drama de Diana quanto ao minotauro e o treinamento de Ares. 

A noção de lenda da edição #0 se faz por ser uma história anterior, com Ares vestido de guerreiro grego e Diana na infância, bem antes do que Hera fez em Themyscira no volume um, que moveu toda a trama da Mulher-Maravilha. Mas ela se torna lenda de fato pelas ações da heroína, assim como ela vai se tornando uma lenda a cada encontro com seus irmãos desconhecidos, filhos de Zeus, porque consegue dissipar traumas e pacificá-los, como uma agente de união familiar, uma lenda dentro da lenda grega de deuses e semideuses brigando entre si. Seu irmão Lennox ajuda-a a encontrar e a mediar os encontros por conhecer melhor a família, mas ele é o personagem cético, fruto de um semideus modernizado, que sempre trás a tona o heroísmo personalizado da Mulher-Maravilha, em valores fora do tempo contemporâneo que vão ligando os traços de uma profecia mitológica em meio a união pretensão de irmãos se ajudarem, Hera ter um mínimo papel de mãe, criadora, e criticar o sexismo de não culpar Zeus de tantas vezes trair sua esposa. 

Paralelamente no mesmo volume três, a jornada do primogênito, escavado nas geleiras por uma devota à mitologia grega, é a ação mais intensa nesse punhado de edições antes do embate de Mulher-Maravilha com Hermes. O fator mais explicativo e diretamente impactante entre tempos da “grecolândia” no século XXI parte desse arco que vai fortificando o personagem em evolução de descoberta quem ele é, ao mesmo tempo que torna ambígua as intenções desse primeiro filho de Zeus dentro da guerra, em relação a Apollo e os irmãos de Zeus. Porque junto com Diana são as tramas que colocam em cheque os destinos personificados de cada deus dentro do Olimpo e quais planos e maldições foram imputados aos semideuses filhos de Zeus. 

Se por um lado o primogênito se porta com violência, Mulher-Maravilha se diferencia pela sua empatia exacerbada e precisa em utilizar a violência. Junto a isso, na melhor edição #16, junto com a #14, são as que colocam a provocação de dúvida sobre qual destino do bebê, filho de Zola e Zeus, que assusta o irmão e semideus Milan. Entretanto, ao mesmo tempo que se coloca um grande gancho em como vai se desenrolar a guerra pelo trono do Olimpo, os deus se explicitam mais previsíveis quando as duas tramas paralelas se portam, mesmo quando o misterioso Ares é talhado como louco na reunião do Olimpo e Hera, agora humana, começa a ter ares mais dramáticos. 

Logo, esse volume três se finaliza em definir como cada deus e semideus do Olimpo se colocam como destinados às suas criações, mesmo quando elas permitem fugir da rota planejada. Por isso a Mulher-Maravilha se diferencia, especialmente em colocar Hera ao seu lado, e também por confiar em Ares e todos os irmãos semideuses antes desconhecidos por ela, e que Lennox apontava como difíceis de conseguir ajuda com eles. Todo o inesperado acaba sendo a espera da guerra, em que mesmo na finalização mais familiar de Diana e seus amigos e na aparente derrota do primogênito em sua evolução de retomar ao seu poder completo, fica o mistério implícito, que antes era explícito para os cliffhangers das edições, de que o mistério dos deuses é exatamente crer que eles não são previsíveis, como bem a estática edição #17, que quebra a narrativa fluida de Azzarello, com até uma coloração diferente, mas extremamente importante para definir isso numa grande reunião familiar mitológica grega num bar de hotel.

Assim, resolução da Mulher-Maravilha, o contraponto a isso, em toda essa renovação dos Novos 52, é ela conservar seu heroísmo em sua jornada moderna de tratar com a História Antiga como grande futuro a ser descoberto nas próximas edições. Essa é a sacada instigante de Azzarello em objetivar seu texto como valorizar os recordatórios, e a contribuição estética temporalmente imersiva de Cliff Chiang na rapidez de pouco detalhismo do desenho como na representação greco-romana do traço.

Mulher Maravilha – Vol. 3: Força (Wonder Woman – Vol. 3: Iron)
Conteúdo: Mulher-Maravilha #0, #13 à #18
Roteiro: Brian Azzarello
Arte: Cliff Chiang, Tony Akins, Amilcar Pinna
Arte-final: Cliff Chiang, Tony Akins, Dan Green, Rick Burchett, Amilcar Pinna, Goran Sudžuka
Cores: Matthew Wilson
Editora: DC Comics
Data de lançamento original: 11 de setembro de 2013
Editora no Brasil: Panini Comics
Páginas: 164

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