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Crítica | Mulher-Maravilha – Vol. 5: Carne (Novos 52)

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

  • Contem spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros arcos da Mulher-Maravilha (Novos 52).

Chegamos ao penúltimo volume da fase de Brian Azzarello comandando as páginas da Mulher-Maravilha e já está bem clara a intenção do roteirista em terminar essa sua jornada da forma mais grandiosa possível. Na edição anterior, Guerra, vimos o Primogênito de Zeus sendo derrotado pela Mulher-Maravilha, mas isso foi apenas a primeira batalha. Carne é mais uma história de construção, com todas as peças se movimentando a fim de nos presentear com uma grande guerra entre os deuses. Com grandes perdas já começando a aparecer, fica bastante claro qual será o papel da heroína no meio disso tudo.

Com a morte de Ares, Diana deve tomar seu lugar como deusa da Guerra. Ela, porém, nega essa convocação e retorna para a Terra, onde continua a cuidar de Zola e seu bebê, Zeke. Mal esperava, contudo, que Cassandra, leal ao Primogênito, inicia a busca pelo filho de Zeus, chegando ao ponto de sequestrar outros deuses para descobrir a sua localização, além, é claro, de buscar uma forma de entrar no Olimpo. Enquanto isso, Apollo, atual governante dos céus, mantém o Primogênito acorrentando, o torturando das mais diversas formas, para que ele quebre e jure lealdade ao Sol. O que ele não esperava, contudo, é que seu irmão conseguiria quebrar as correntes.

Carne, como já sugere o título, é uma edição visceral dessa era da Mulher-Maravilha, com Azzarello puxando inúmeros elementos da Mitologia Grega, especialmente no que diz respeito à tortura do principal antagonista desses arcos. A angústia, porém, não vem de seu sofrimento e sim da noção de que, eventualmente, ele irá se libertar e isso o tornará mais furioso do que nunca. Em toda essa construção do autor, que praticamente ignora o mundo “mortal”, somos lembrados de obras como Fábulas, que trabalham com a fantasia no mundo real de maneira similar. Isso, claro, diferencia sua obra de praticamente todos os outros quadrinhos de super-heróis, tornando-a única e inesquecível.

O texto mistura muito bem o tom mais otimista com a brutalidade de algumas páginas, trabalhando a nítida diferença de Diana com o restante do Olimpo. Esses, como a própria Hera já disse, fazem o que querem, não se importam com qualquer um e brigam sempre que necessário. Segundo Apollo, porém, logo esquecem de tudo isso. Nisso tudo, uma das figuras mais fascinantes é o atual governante dos céus, que almeja conduzir o negócio dos deuses de forma diferente, pregando a paz, mas tortura o próximo sem dó ou piedade. É um poço de contradições que denota o quanto ele não se diferencia dos seus iguais, todos egoístas ao máximo. A Mulher-Maravilha, portanto, funciona como uma espécie de alívio, no meio de tanta dor.

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Cuidadosamente, o texto vai nos levando mais para próximo desse esperado grande conflito, que marcará o término dessa era da heroína. Azzarello demonstra total domínio de sua obra, sabendo exatamente quando utilizar determinado personagem a fim de movimentar a trama. Ninguém soa esquecido, muito pelo contrário, todos os elementos estão profundamente conectados, com as intenções de um se intercalando com a de outros, formando um belo e complexo quadro geral. Conforme avançamos, claro, esse quadro vai se simplificando, já que todos passam a caminhar para o mesmo lugar.

A arte de Cliff Chiang e Tony Akins, que intercalam algumas edições, consegue transmitir todo esse tom visceral da maneira ideal. Eles não usam da violência explícita, mas permitem que imaginemos, nos mais minuciosos detalhes, o que está acontecendo. Claro que temos a presença de sangue aqui e ali, além de alguns cortes bem evidentes nos corpos dos personagens, mas chega a ser surpreendente como a tortura do Primogênito soa tão real, mesmo que não vejamos muito dela. Podemos sentir sua dor e a ira crescente dentro de si, algo bem caracterizado pelo seu olhar furioso, que contrasta com a constante calma de Apollo, sempre cheio de si.

Apesar de ser um volume de preparação, construção daquilo que está por vir na edição final de Brian Azzarello, Carne demonstra toda a força de sua narrativa. Trata-se de uma obra que se diferencia de todas as outras de herói, com forte identidade visual e narrativa, com a Terra sendo usado apenas como cenário para esse conflito de deuses. Com um poderoso cliffhanger nos vemos no ímpeto de pular imediatamente para o próximo volume, que, enfim, trará a grande guerra entre o Primogênito e o resto.

Mulher-Maravilha – Vol. 5: Carne (Wonder Woman – Vol. 5: Flesh) — EUA, 2014
Conteúdo: Mulher-Maravilha #23.2 a 29
Roteiro: Brian Azzarello
Arte: Cliff Chiang, Tony Akins
Arte-final: Dan Green, Rick Burchett
Cores: Matthew Wilson
Editora: DC Comics
Data de lançamento original: 7 de outubro de 2014
Editora no Brasil: Panini Comics
Páginas: 173

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