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Crítica | Mundo Cão

por Guilherme Coral
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estrelas 2

Marcos Jorge, diretor do premiado Estômago, volta mais uma vez ao destaque do cinema brasileiro através de seu mais novo filme Mundo Cão, que participa da competição longa ficção do Festival do Rio 2015. Com um interessante argumento, que, assim como seus filmes anteriores, é pautado no psicológico de seus personagens. O grande problema da obra, porém, não se encontra em sua premissa e sim na execução, com uma narrativa que decide focar em pontos que transformam uma história criativa em mais um exemplo da mesmice que toma conta de inúmeras produções, deixando de lado a (de)construção de seus personagens centrais.

O longa explora a vida de um laçador de cães da cidade de São Paulo, Santana (Babu Santana) após o sequestro de seu filho pelo criminoso Nenê (Lázaro Ramos), que considera o pai de família responsável pela morte de seu amado cachorro. A estrutura narrativa de Mundo Cão evidentemente se divide em duas partes muito distintas e os deslizes citados no parágrafo anterior se fazem presentes em ambas. Na primeira temos uma interessante abordagem de Nenê, que se relaciona imediatamente com o filho do protagonista. Lázaro simplesmente rouba qualquer cena que faz parte, com uma atuação sincera, que ora nos traz medo, ora funciona como alívio cômico da obra. A ênfase nessa deturpada relação de pai e filho, porém, divide espaço com o drama familiar, que soa excessivo em determinados pontos, culminando em um surpreendente twist que definiria o tom da segunda metade da projeção.

Nesse trecho a narrativa efetivamente começa a ainda mais se prejudicar, dispensando o filho de Santana com uma resolução demasiadamente conveniente, quando o personagem poderia desempenhar um papel muito mais impactante que a filha da família – por mais que o fato de ela ser surda-muda trazer alguns interessantes desdobramentos. Evidentemente o roteiro de Marcos Jorge e Lusa Silvestre desejava explorar inúmeras das consequências envolvendo o sacrifício de um cão, mas o texto acaba apenas arranhando a superfície, inclusive, tornando justificável as ações de Santana na segunda metade do longa, não permitindo uma transição adequada de vítima para culpado.

O que chega a ser surpreendente, e aqui, infelizmente, não posso evitar o spoiler (pule para o próximo parágrafo se não quiser estragar a surpresa), é como o clímax parece não surtir qualquer efeito no protagonista e seus filhos. A perda da esposa é abordada de maneira dramática, mas as ações consequentes dela caem na esfera do comum, quando muito bem poderiam abalar as estruturas daquela família, prejudicando consideravelmente a construção de personagens do longa – aspecto que, em geral, se resume a Nenê.

Do ponto de vista técnico, o filme segue uma linguagem clássica, não trazendo uma maior ousadia nos enquadramentos. O que incomoda são algumas das transições que trazem recursos de edição que exalam o datado, escolha que remete imediatamente a Star Wars, mas o que lá funciona, definitivamente não é bem sucedido aqui. Há uma nítida quebra de ritmo e imersão, que distancia o espectador dos indivíduos que vemos em tela, dilatando consideravelmente a percepção que temos acerca da duração da obra.

Mundo Cão, portanto, está muito aquém do potencial de seu diretor. Trata-se de um filme raso, que prefere explorar aspectos clichés ao invés dos abalos psicológicos de seus personagens. Apesar de tais deslizes, porém, ainda é um longa que diverte, especialmente pela atuação de Lázaro Ramos, não passa, porém, da sessão da tarde.

Mundo Cão (idem – Brasil, 2015)
Direção:
Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge, Lusa Silvestre
Elenco: Babu Santana, Adriana Esteves, Lázaro Ramos, Thainá Duarte, Vini Carvalho
Duração: 100 min.

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