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Crítica | Mythic Quest – 3X09: The Year of Phil

Há idade para tudo. Ou será que não?

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas.

O penúltimo episódio da terceira temporada de Mythic Quest apenas margeia o coração do conflito entre Ian e Poppy que, talvez, tenha chegado ao seu ponto alto – ou baixo, dependendo do ponto de vista – no episódio anterior, To Catch a Mouse, em que o egoísmo extremo de Ian ficou completamente às claras quando ele finalmente afirma, com todas as letras, que não consegue trabalhar em uma criação que não tenha partido dele. The Year of Phil, portanto, vem como um “intervalo” bem humorado, mas que aborda a diversidade com um texto afiado, irônico e que chega na fronteira do que pode ser feito sobre o assunto, mais uma vez lembrando o jeito South Park de escancarar problemas.

No centro das atenções novamente, Carol hilariantemente apresenta Rachel, Brad e Phil a um grupo de jovens recém-contratados como seus casos pessoais de sucesso com a questão da diversidade. Enquanto Rachel e Brad são representantes de etnias diferentes da branca e, no caso de Rachel, de orientação sexual diferente da heterossexual, Phil é quase que classificado como tudo aquilo que a empresa não quer, o homem branco “velho”, como um dinossauro perdido pelos corredores. Mas, afinal de contas, quem é Brad?

Apesar de o personagem ser uma presença razoavelmente constante na série, ele nunca foi usado como algo mais do que um coadjuvante (se muito!) em eterno estado de descontentamento que se sente explorado por todos ali em seu trabalho no lado criativo da Mythic Quest. Quando Carol basicamente diz que ele representa o passado, chega então a hora de Phil de agressivamente desabafar tudo aquilo que estava preso em sua garganta há muito tempo, acusando Carol e a MQ de etarismo – ou seja, preconceito contra pessoas mais velhas -, considerando que ele é basicamente a única pessoa com mais de 40 anos ali. Nesse processo, de maneira supreendentemente eloquente, Phil toma o palco do show de Carol e começa uma campanha para acionar judicialmente a empresa em razão do preconceito que, para ele, foi finalmente revelado.

Só nesse aspecto do episódio já haveria material suficiente para se pensar, já que o etarismo não é, nem de longe, algo imaginário no ambiente corporativo (ou fora dele, se pararmos para pensar com franqueza), mas isso seria muito pouco para os showrunners e para o roteiro de Ashly Burch (a própria Rachel que, vale lembrar, dirigiu o episódio anterior). A grande crítica satírica vem em seguida, quando Carol decide demitir algumas pessoas para contratar profissionais de mais de 40 anos para esvaziar todo o “poder” de Phil e descobre que, graças aos seus próprios esforços, todo mundo na empresa é, por uma razão ou outra, parte de “grupos protegidos”, ou seja, minorias que, por serem minorias, não podem ser defenestrados sem justa causa.

Toda sátira exagera a realidade, mas reflitam sobre o que o roteiro aborda. Não é muito difícil, no contexto atual, imaginarmos um cenário semelhante ao que The Year of Phil sugere como pauta. A diversidade e a inclusividade são conceitos excelentes e realmente importantes no tecido socioeconômico, mas uma triste verdade é que eles vêm sendo usados muito mais como plataformas das mais variadas naturezas do que por um desejo inato de promover mudanças. Empresas contratam minorias não porque elas querem contratar minorias, mas sim porque elas se veem pressionadas a contratar minorias. Enquanto essa pressão pode e deve ser um instrumento para promover mudanças, a pergunta que o episódio coloca é: e depois?

Óbvio que o roteiro não oferece soluções mágicas, mas, quando vemos que os jovens testadores de jogos foram substituídos por “velhos” testadores de jogos com o objetivo único de frear as intenções revolucionárias de Phil, ele oferece uma possível resposta para reflexão. Afinal, o que é feito hoje em dia é feito pelo bem das minorias ou para mostrar ao mundo que a empresa X, Y ou Z é preocupada com a diversidade ou inclusividade?

Mas The Year of Phil não fica apenas nessa questão, ainda que ela seja de longe a mais importante. Há tempo, ainda, para uma ótima sessão de coaching de Poppy por Dana em que a segunda tenta incutir segurança na primeira para que ela faça uma apresentação de seu jogo para executivos, de forma a conseguir o investimento que precisa para lançá-lo. E isso deságua no primeiro grande fracasso de Poppy, já que suas ações do passado retornam para mordê-la quando o mesmo executivo cujos 50 milhões de dólares ela negou de forma rude no começo da temporada diz um retumbante “não” para ela, mesmo tendo, ao que tudo indica, gostado muito do novo jogo.

E há mais uma importante derrota. Quando Joe Manganiello está fazendo captura de performance para ser a estrela do filme sob a direção de David, eis que o cada vez mais isolado Ian chega para interferir, levando a um momento importante para David em que ele, finalmente, não arreda o pé e coloca seu ex-chefe de fato (pois Ian nunca foi chefe de direito de David, vale lembrar) em seu lugar, ou seja, fora da MQ e fora do filme baseado no jogo. É um momento importante e curiosamente sério para a série e para David que, claro, Jo inteligentemente manobra de forma que ele brigue com ela e, em razão da coincidência de nomes, o ator pense que é com ele e, finalmente, retira o capacete que pretendia usar 100% do tempo para “manter-se fiel ao personagem” (ecos cômicos de “fãs verdadeiros” que realmente reclamam de coisas assim no mundo real…).

The Year of Phil foi provocador e muito interessante, especialmente por muito sabiamente desviar-se do assunto central da série e abordar de maneira crítica e sensata um aspecto do mundo corporativo que está presente no cotidiano de todos. Com apenas mais um episódio pela frente, fica a expectativa de que o conflito entre Ian e Poppy ou será resolvido ou minimizado a ponto de viabilizar o Playpen. Ou não…

Mythic Quest – 3X09: The Year of Phil (EUA, 30 de dezembro de 2022)
Criação: Rob McElhenney, Charlie Day, Megan Ganz
Direção: Todd Biermann
Roteiro: Ashly Burch
Elenco: Rob McElhenney, Charlotte Nicdao, David Hornsby, Danny Pudi, Jessie Ennis, Imani Hakim, Ashly Burch, Naomi Ekperigin, Derek Waters, Joe Manganiello
Duração: 22 min.

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