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Crítica | Na Companhia do Mal (Separation)

Uma fábula vazia.

por Felipe Oliveira
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Por mais que William Brent Bell seja famoso pelas escolhas ruins em seus filmes, há quem defenda a forma que ele tenta trazer abordagens diferentes em conceitos batidos. Nessa pegada, a perspectiva interessante que ele imprimiu ao escopo de bonecos amaldiçoados em Boneco do Mal, seu quarto filme como diretor, colocou Brent na trilha dos aficionados por reviravoltas, o que terminava desviando o foco da criatividade proposta. Com isso, não demorou muito para que seus próximos trabalhos chegassem presos a expectativas por plot twists, não importava qual fosse a trama da vez.

No que se distanciou do pseudo-documentário (estilo empregado nos primeiros filmes) a partir de The Boy, Brent investiu no suspense psicológico como abordagem central de suas histórias. O que deu certo no longa citado foi como a direção transmitia para o público a mesma dúvida que pairava para a protagonista Greta (Lauren Cohan) acerca do boneco ser ou não um objeto sobrenatural. Na sequência, o público via todas as ações do boneco a qual a matriarca Liza (Kate Holmes) não presenciava, mas seu filho afirmava acontecer. Porém, se de alguma forma o boneco de porcelana servia para movimentar a trama, o mesmo não sucedeu em Na Companhia do Mal, sexto filme de Brent.

A história trazia um drama familiar sobre um casal em crise, a advogada Maggie (Mamie Gummer) e o artista Jeff (Rupert Friend) brigando pela custódia da filha Jenny (Violet McGraw). Mas quando Maggie morre em um trágico acidente, a ideia de seguir entre pai e filha termina ganhando novos rumos quando o fantasioso universo de fantoches criado por Jeff atinge essa realidade de maneira aterradora… ao menos era essa pretensão que Brent tinha em mente na trama que flertava com elementos do terror psicológico a fim de dialogar com as rachaduras causadas numa criança devido à relação instável dos pais.

Embora o título original se refira a base do drama que desenrola com a separação do casal, há muito em jogo quando o roteiro versa para a distante e complicada relação entre Jeff e Jenny. O que sobra disso é um homem que não consegue executar tarefas simples como um pai, para a garota, reflete um comportamento solitário. Seria nesse aspecto que Brent entraria com os fantoches como representação da falta de entendimento entre os personagens, contudo, havia uma constante artificialidade quando a direção tentava inserir esse conceito por mecanismos óbvios de terror, quer fosse com jumpscares ou recursos visuais, coisa que nem a presença do ator e contorcionista Troy James no elenco conseguiu dar personalidade nessa suposta fábula que traçava alegorias de dramas familiares e que conseguia assustar no caminho.

Os indícios de que Separation não conseguia balancear os elementos dramáticos da trama em como o terror surgia em alusão eram notáveis desde os primeiros minutos. O contato inicial com o filme foi de Jeff se distraindo com a babá e Jenny buscando conforto nos brinquedos e fantoches, a medida que essa configuração que resultou num acidente seria o ultimato que Maggie usaria para obter a custódia total da filha. Porém, o que enfraquecia essa introdução era a maneira calculada e pretensiosa com que as coisas ocorriam, longe da atmosfera densa e conflituosa que Brent ensaiava em transmitir com o texto hiper expositivo e problemático.

Se teve algum momento de acerto com o terror foi quando Brent se concentrava numa representação mais sugestiva — como a da pintura de um quadro se deformando durante o velório, sinalizando a falta de controle de Jeff diante da perda — uma vez que o saldo se mostrou negativo na maior parte do filme. Numa mistura alegórica de Kramer vs Kramer com Mama, Brent precisaria de mais do que uma boa intenção para saber contar essa história além de apelações fantasiosas do terror.

Na Companhia do Mal (Separation – EUA, 2021)
Direção: William Brent Bell
Roteiro: Nick Amadeus, Josh Braun
Elenco: Rupert Friend, Violet McGraw, Madeline Brewer, Mamie Gummer, Brian Cox, Simon Quarterman, Eric. T. Miller, Troy James
Duração: 107 min.

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